Poemas : 

Nos limites do tempo

 
E tu,
que vens apesar deste luto todo que ensombra o mundo
pedir-me em súplicas lascivas poemas de beijos
abraços e sexo, não vês a desgraça que paira a teu lado?
Não posso abraçar-te nem sequer desejar-te...
Não te posso amar!
Doem-me os braços do peso da espingarda!
Não posso beijar-te que me arde a garganta de dor,
que sinto a cabeça dorida e cansada
dos gemidos de agonia que ouvi. E punhais de morte
cravados no peito, rasgam-me as vísceras com remorsos
das mortes que fiz por essas montanhas esventradas
de profundas crateras de tantas granadas nelas estoirar.

Não posso abraçar-te, muito menos beijar-te...
dói-me tudo por dentro...
vou primeiro hibernar e dormir um longo sono
um sono eterno do qual jamais quero acordar.
Vou estabelecer monólogos de perdão com as paredes
da sepultura onde me quero deitar e me quero perder…
e nesse coval, depois de me redimir, sonhar as cores
dum horizonte de sonho e pensar o doirado dos trigais.
Após esse longo sono, redesenhar a vida,

descobrir o tempo novo e novos oásis
na geometria dos cristais dos teus olhos e traçar horizontes
de tudo nas linhas firmes do teu querer… pintar a lua de prata
e o sol de mais luz, reinventar num céu azul diferente
o voo mágico dos pardais.

Quero, nos limites do tempo, descobrir a vida
para poder desenhar o sítio onde há mais luz…
o voo da Fernão Gaivota Capelo que se julga perdida
mas se encontra no seu regresso ao mar.
Quero, incessantemente, procurar um futuro diferente
um futuro sem sombras, sem guerras, com luz…
para depois nessa paz respirar o teu ar
o perfume que exalas, sentir-te por dentro, a gritar.

Quero-te, depois, meia laranja saboreada a rigor
com gosto a mel ou sabor a sal, como o mel doirado
do sabor dos teus beijos ou o odor do teu corpo suado
com sabor a cloreto de sódio cristal.
E reinventar-te numa nova origem. Contigo passear
os nossos corpos cansados, lassos, lentos, húmidos…
depois duma noite cansada de amor.
E não escrever o poema que a chuva me inspira
a chuva que lá fora cai sem parar…
húmida, rugosa, assustadoramente social.


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escrito sob o pseudónimo Alvaro Giesta


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AlvaroGiesta
 
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