O silêncio magoa
Ás vezes doi mais o silencio do que um berro. Eu berro e doi-me a garganta. Se continuo a berrar, ela doi-me aínda mais até que fico rouco e não consigo berrar. Aí surge o silêncio. Como estou com dores de garganta por ter berrado tanto, sou fisicamente obrigado pelo meu corpo a estar calado. E secalhar, aqueles berros que eu estava a emitir, não passavam de meras afinações, pequenas descargas que o meu cérebro enviava, como forma de soltar um impulso nervoso. Seja como for, o meu silencio é especial. É especial porque é diferente do teu. E o teu é especial porque é diferente do meu. Cada um de nós tem uma forma muito própria de berrar e de estar calado. Tu passas muito do teu tempo em silêncio. E quando berras, ouve-se bem alto, lá pelos quatro cantos do mundo segundo sei. Eu não. Eu passo a vida a berrar. Mas depois fico em silêncio e solto o meu grito mudo. Podes não te aperceber, mas todos os meus gritos mudos encontram uma forma de chegar a ti. Seja uma música, um texto, um desenho... não interessa. Hoje solto mais um grito mudo, porque quis que entendesses os meus gritos mudos. Sempre que os solto é porque algo importante aconteceu. Solto os meus gritos mudos todos os dias, seja de que forma for. Há os que têm pouca importância, aqueles sem os quais já não consigo passar algumas horas sem soltar. Mas há também os que têm muita importância, gritos mudos que debitam mais décibeis do que qualquer amplificador. É este o grito mudo que trago até ti hoje. O grito mudo em que te revelo a existência de um grito mudo, o grito mudo que tem mais força do que qualquer voz. A ti.
O Erro
Esta noite sinto-me mal. Podre, baixo. As palavras metem-me nojo. Sinto-me enjoado, saturado. Nunca pensei que errar pudesse fazer-me isto. Hoje julguei-te sem culpa, fui precipitado e aprendi uma lição. As palavras metem-me nojo. Aprendi que uma simples letra pode mudar toda uma frase e levar-me a cometer erros graves. Vou contar-te uma história. Não. Conto depois, pessoalmente. É que hoje as palavras metem-me nojo. A essência da palavra. Hoje desconheço-a. No entanto escrevo agora para não dar em louco. Mas as palavras metem-me nojo. Hoje passei uma boa hora a falar de ti. Fui em busca de um porto de abrigo neste caos em que divago. Hoje as palavras metem-me nojo. Corre uma lágrima no meu rosto. Será uma simples reacção do meu corpo? Será que choro por saber que agi mal e magoei alguém? Ou será que choro por sentir obrigação de receber em mim toda a dor que causei em alguém? Não sei. Mas as palavras metem-me nojo. Não quero com isto pedir-te desculpa por um erro cometido. As desculpas não se pedem. Evitam-se. Quero sim dizer-te que hoje aprendi muito. Hoje evoluí. Hoje descobri que as palavras me metem nojo. Hoje senti de verdade o que significa amar.