Poemas : 

Para Ventos de Leste (127ª Poesia de um Canalha)

 
Tinha a sede do leite materno que o acalmava
E curava as dores à fome de crescer depressa
O puto que ainda estranhava o som das balas
Era um desses com a sorte de quem brincava
Saltava muros para fugir ao que não interessa
Ria perdidamente do prazer de faltar às aulas

O pai e a mãe já de cabelo grisalho sorridente
Olhavam em silêncio pecador o avarento petiz
O momento era quase uma bomba a deflagrar
De repente a tal palavra com gracejo inocente
Como se abrisse a janela de mais um dia feliz
E mais outro que um é pouco para poder voar

Do outro lado os mesmos olhos e uma tristeza
Como se a infância só vivesse cá neste pedaço
O breve grito de morte sem sorte e sem norte
Putos sem bágoa de armas na mão e vil frieza
Vidas a prazo lutam por restos de pão escasso
Ali não há pais ou mães nem amor qu'importe


A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma

 
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Alemtagus
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Enviado por Tópico
Beatrix
Publicado: 18/07/2025 06:30  Atualizado: 18/07/2025 06:30
Colaborador
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 Re: Para Ventos de Leste (127ª Poesia de um Canalha) / Alemtagus
.
Olá, Alemtagus.

A miséria e a desgraça que é a guerra.
A morte por um fio.
A infância roubada.
Uma família, tantas, destruída.
Um breve grito que pode acabar com tudo, afinal.
Outros não gritam. Morrem sem força para gritar.
E pensar que vivemos isto hoje. Em vários sítios...
Nada a acrescentar.


Ab
Beatrix


Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 05/08/2025 14:05  Atualizado: 05/08/2025 14:05
Usuário desde: 06/11/2007
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Mensagens: 2238
 Re: Para Ventos de Leste (127ª Poesia de um Canalha)\cheiramázedo
8. Nasce o sol em mais um dia


Nasce o sol em mais um dia de morte,
nasce o sol e com ele uma vingança;
outra noite que o eterno alcança,
Aurora que não espera transporte.

Bate o azar à porta em vez da sorte,
cai um tempo duro e sem mudança,
a Justiça perde a balança,
a rosa-dos-ventos perde o Norte.

Por vezes nasce quente, noutras frio,
indiferente às vítimas da batalha,
ao silêncio, que intervala o trovão.

Nasce o sol num terreno baldio,
onde só para sobreviver se trabalha
e sem direitos… nem a absolvição.


in Dez Sonetos da Guerra na Crimeia por partes