Os dedos passam pela pele da água
e esquecem que são corpo.
Escuto.
É a infância
a sede
os nomes de quem partiu
sem dizer adeus.
Há vozes que só a água entende.
Pulsam
na vibração dos gestos que permanecem
transfigurados.
Tenho rios por dentro
estações que não chegaram a acontecer
e um mar antigo
que se move
quando fecho os olhos.
Há vozes que só a água guarda.
O sal sabe histórias do meu nome
antes de mim.
Cada lágrima é um mapa.
O corpo lê-se em camadas de sal.
As quedas
os toques
as ausências que molharam os ossos.
Há palavras que não sabem ser ditas.
Guardam-se
entre vértebras de silêncio
onde a água decanta a dor
escrita por dentro.