Poemas, frases e mensagens de sandrafuentes

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de sandrafuentes

TRISTEZA

 
Minha tristeza é outra

No princípio era o verso

E o verso se fez carne
E o verso se fez sangue

Tornou-se poesia líquida
Em dose única
A dissolver dores calcificadas

Verso vermelho que percorre
as veias e as verdades

Poesia-morfina

Vencida
Inútil

Isso é meia morte
É abismo a vinte centímetros
Dos meus pés

Mas meu amor é teu
É chuva que cai na alma
De onde sai
Esta poesia líquida
Que transborda
Pelos meus olhos
Que inunda
E me mata...
E me mata...
 
TRISTEZA

O Amor

 
O Amor
 
E o último beijo não teria sido doce...

Não saberia dizer por que o adeus não cabe nos versos.
A imensidão das palavras que eu levarei acorrentadas para que não saiam pelos meus olhos.

O amor.

Enlaçados pelos dias de saudade eterna.
Sepultando um futuro com terra fervendo, queimando os sonhos, abortando os corações pela boca.

Deito em cacos de vidro esperando que alguém me veja e me socorra e me liberte e me cubra de sangue para a remissão dos meus pecados sem perdão.

Abrir mão do paraíso e voltar ao inferno por ter esquecido a senha.

Dar de cara com o diabo que ri da minha e da tua fraqueza e me joga na cara todos os meus poemas ridículos. Faz escárnio, grita o teu nome e joga tuas fotos no fogo eterno.

Dê as costas, suplico!
E livra-me de todo o mal.
Amém.
 
O Amor

STRAWBERRY BLUE

 
Fiz doze anos na semana passada. Espantei-me com o meu corpo tomando outra forma e tornando-se poesia vermelha. Tento lembrar do que fui aos onze. Algumas imagens passam como um filme em slow motion. Pouca coisa guardo, além de umas fotos em preto e branco. Meu quarto é cor-de-rosa, mas pintarei de azul-marinho nas primeiras horas de julho. Colho os morangos azuis deste inverno carioca. Guardo a solidão para degustar na sobremesa. Metamorfose, mulher-anjo, borboleta sem dono. Minhas palavras numa garrafa de coca-cola. Vou sacudindo enquanto danço ao som frenético da luxúria latente. Solto no ar... Molho a parede azul-marinho com a espuma que chamo de futil-idade.
 
STRAWBERRY BLUE

Senhora das Tragédias

 
Levem meu corpo pra rua!

Exponham minhas cicatrizes
É só o que podem ler a meu respeito.
Deixo tudo escrito em um idioma desconhecido,
Meus nobres inimigos!
Sou a Senhora das Tragédias, que desfila morta no meio de vocês.
Não há novidade além das lâminas que levo nos dentes

Mordi a vida
Fracionei meus dias
Embaralhei de novo as cartas e anulei todos os pactos de eternidade.
O jogo é novo.
E,
perder seria crime hediondo!

Olhem a lenda desfilando pelas ruas!
Lenda morta.

Reescrita nos porões escuros da liberdade.

[ser livre custa a vida]

Pude ouvir o silêncio dos rebeldes
Que dedicaram um poema em branco
A minha pessoa!

E agora

Foda-se o tempo!
Sou vapor de memórias
Letras entulhadas numa rua deserta
Aguardando aqueles que roerão meus ossos infeccionados

E a tempestade!
Que dissipará qualquer vestígio
Do que fui.

Sandra Fuentes
 
Senhora das Tragédias

TRINTA SEGUNDOS

 
Vivendo num filme de trinta segundos esperando o apagar das luzes dou início a uma longa conversa comigo mesma percebendo uma aglutinação de poetas na minha mente prisioneira recomeço o monólogo enquanto fagulhas de equívocos entram pelas frestas da janela quando tudo dorme e a madrugada faz silêncio eu tento uma poesia exorcista contundente-convincente-eloquente recomeçando a busca e procurando as letras como se fossem cápsulas de analgésico de efeito instantâneo para um corpo bipolar e continuo a vigília enquanto o filme passa aguardo tentando não recordar o pretérito-mais-que-perfeito de um amor eterno e efêmero rogando para que depressa amanheça.
 
TRINTA SEGUNDOS

COPACABANA

 
Recupero-me da queda de ontem. Assombrada ainda com o impacto do meu corpo no meio fio. Boca sangrando lágrimas. Afinal, onde dói mais? Permaneço olhando o teto branco de gelo que derrete e molha minha nudez. Meu corpo rígido desfalece e, por uma eternidade de duas horas e quinze minutos, sente apenas o que foi o calor que aquecia este planeta de seis metros quadrados que eu chamava de santuário. Não sei se o que ouço é música. São ruídos que vêm da rua e é provável que seja efeito ainda da overdose dos abraços que chegavam de surpresa. Meu corpo levanta e caminha até a sala, mas sinto que estou deitada e presa neste espaço sendo banhada aos poucos pela água gelada. Observo de longe minha imobilidade. Chame de saudade quem quiser. De queda, tombo, atropelamento, surra, que seja. Muitas de mim não existem desde ontem. Houve uma chacina. Duas sobreviveram: uma deitada no frio molhada pelo teto que derrete e outra ensandecida contando as pedras do calçadão de Copacabana.
 
COPACABANA