Valeu sua importante dica quanto a tradução do inglês sendo assim inquestionável, mas discordo até certo ponto nos demais assuntos, pois sabemos que "não" há uma fórmula mágica, mas o que temos que ter em mente é o seguinte: Que devemos instigar a outros tantos quem o tal "DOM" e ainda a que mais pessoas busquem se descobrir como poetas e quem sabe uma vez descoberto o façam com uma certa lapidação em meios acadêmicos ou não também virem a fazer Poesias e mais obras literárias além é claro nós Poetas temos o DEVER e sem dúvidas: Devemos nessa incansável busca da inspiração perfeita de se ser Poeta (sentido amplo do conteúdo da palavra ou mesmo do estar contido nela)... E (quando se tenta aglutinar também e querer dar sentido para Poetisa) o caso o tal Gênero: Os Significados: gênero, masculino/feminino, homem/mulher: o dicionário da língua portuguesa...
De uns anos para cá, começou-se a escutar algumas pessoas, tanto no movimento de mulheres quanto na Academia, dizendo: "Isto é uma questão de Gênero!" "O Gênero dentro do trabalho..." "O Gênero e a Política..." "A construção de Gênero... "Mas, afinal que Gênero é esse? Será algo divino da Lógica e significando "classe cuja extensão se divide em outras classes, as quais, em relação à primeira, são chamadas espécies?" Ferreira (1986, p.844). Se formos nos guiar por esse sentido, teríamos as espécies homem e mulher da chamada classe Humana. Ainda, segundo o linguista Ferreira, o termo Gênero também poderia ser "qualquer agrupamento de indivíduos, objetos, idéias, que tenham caracteres comuns" (p.844). Teríamos assim indivíduos dos dois sexos, de novo o homem e a mulher agrupados, agregados através de características comuns, ou seja, o feminino para a mulher e o masculino para o homem. Prosseguindo com a nossa língua portuguesa, esses caracteres comuns seriam convencionalmente estabelecidos. Este convencionalmente pode ir desde maneiras, estilos, significando os Gêneros artísticos ou se referir aos estilos de arte: o Gênero Literário e Gênero Dramático. Pode-se buscar o significado do termo ainda na Biologia ou no campo da Gramática propriamente dita.
Chegamos assim à definição de Ferreira (1986) do termo do ponto de vista gramatical no seu sentido estrito. Encontramos, então, a seguinte definição: "categoria que indica, por meio de desinências, uma divisão dos nomes baseada em critérios tais como sexo e associações psicológicas" (p.844). Neste sentido, o autor aponta o Gênero masculino, o feminino e o neutro. A partir disso, passamos a nos perguntar, mas afinal que Gênero é esse, que além de propiciar interpretações das mais diversas, dependendo da ótica de quem busca seu significado, ainda pode ser agregado ao significado de costumes/idéias?
Se caminharmos por este último sentido (costumes e idéias), vamos chegar ao significado do chamado Gênero de Vida, expressão que designa o "conjunto de atividades habituais, provenientes da tradição, mercê dos quais o homem assegura a sua existência, adaptando a natureza em seu proveito" (p.844-845).
A definição de Gênero torna-se, assim, complicada, pois além de apresentar vários significados, agrega no seu bojo os sentidos mais amplos ligados a "caracteres convencionalmente estabelecidos", bem como a "atividades habituais decorrentes da tradição" (p.844). Por outro lado, a espécie Humana se comunica e estabelece linguagens, sejam faladas, escritas ou gestuais, constituindo-se em representações sociais que, segundo Lane, são esperadas pelo grupo: "esta análise nos permite apontar uma função da linguagem que é a mediação ideológica inerente nos significados das palavras, produzidas por uma classe dominante que detém o poder de pensar e 'conhecer' a realidade, explicando-a através de 'verdades' inquestionáveis e atribuindo valores absolutos ..." (1984, p.34).
Voltando então para a linguística, vemos que os significados são representações de culturas dominantes. Se as características, que denominam o termo Gênero, têm que ser "comuns convencionalmente estabelecidas" (Ferreira, 1986, p.844), elas vão passar pelos padrões estabelecidos. Só assim entende-se, prosseguindo na busca do significado e adentrando ainda mais na gramática na busca do sentido de masculino e feminino, o que seriam os dois sexos em que a sociedade normalmente divide os seres humanos. Não esqueçamos que existe o Gênero neutro... Mas, examinando o que determina o dicionário, encontramos o significado de Masculino: "diz-se das palavras ou nomes que pela terminação e concordância designam seres masculinos ou como tal considerados" (Ferreira, 1986, p. 1099). Já para o Feminino, nos revela a bondosa gramática "diz-se do gênero de palavras ou nomes que, pela terminação e concordância designam os seres femininos ou como tal considerados (p.768). O que fazemos então com o Neutro do Gênero que, para Ferreira, "diz-se do gênero de palavras ou nomes, que em certas línguas, designamos serem concebidos como não animados, em oposição aos animados, masculinos e femininos"? (p.1191). Como explicar, então, ainda que a denominação de feminino também designe, no sentido figurativo, efeminado, aclamado e mulherengo?
Se prosseguirmos pelos caminhos da língua brasileira, buscando o sentido do termo, vamos muito mais além, pois através destas considerações jã se percebe o quanto que a língua reflete a construção cultural do povo que a nomeia, a partir da dominância de características comuns, representações sociais que nos atravessam a nós, indivíduos, às instituições sociais, como escola, igreja, direito etc, às normas e valores sociais instituídos socialmente e expressos em códigos de comportamento sociais. "Mas a instância psíquica que mais depende das circunstâncias histórico-sociais é o superego, este grande assimilador das normas e valores vigentes, este regulador do comportamento (através do ego, que se comunica com ele) de acordo com o que cada cultura considera reprovável ou desejável. Assim, embora uma grande parte do que move as pessoas -a matéria instintiva que constitui as paixões, seja inerente ao que venho chamando condição humana, a forma que as paixões adquirem, a maneira como se expressam, a valorização positiva ou negativa de cada uma delas, tudo isso está permeado por esta modalidade de expressão de consumo e de visão do mundo de cada cultura que costumamos chamar Ideologia" (Kehl, 1992, p.485).
.... (p.1168).
Já para o significado do Homem, o dicionário aponta "qualquer indivíduo pertencente à espécie animal que, apresenta o maior grau de complexidade na escala evolutiva, o ser humano" dotado "das chamadas qualidades viris, como coragem, força, vigor sexual etc, Macho - Homem que é homem não leva desaforo para casa" (Ferreira, 1986, p.903). Entre os sentidos, tipos de denominação de homem, não existe nenhuma designação que tenha sentido pejorativo ou signifique o gigolô. Pelo contrário, todos os sentidos do termo seguem no rumo da definição geral, de "alguém que apresenta um maior grau de complexidade na escala evolutiva" (Ferreira, 1986, p.903). Então, aqui, percebemos que temos mais do que uma dualidade de sentidos: nós temos, na verdade, um diferencial de pesos/poderes para os termos Mulher e Homem. A Mulher, no sentido da construção da língua, do significado social do termo que a deveria nomear, só existe como Meretriz ou Reprodutora, não tendo função social fora dessas denominações. Vemos, então, que não é de graça que um estudioso como Lacan diz "a Mulher não existe". Quando ele se refere a esse enunciado, diz que feminilidade se coloca na categoria do inominável, revelando a impotência do saber para nomear o feminino como tal (Almeida, 1992, p.15).
http://www.scielo.br/scielo.php?scrip ... d=S1414-98931995000100002