«« Morta sem estar morta ««
Morta sem estar morta!...
Vulto negro, pouco importa
pedaço de carne que sobra
na travessa de quem come.
Roubaram-me até o nome
numa fome que consome.
Que me consome em vida
por ser uma raiz estendida.
Daquelas: que não se dobra
que incomoda.
Morta na ignorância
morta na arrogância
tantas vezes na inconstância.
Outras tantas na ganância.
Morta no desapego
que se tem no desassossego:
Do que pesa no coração.
Do que foge da nossa mão.
Ao perder a utilidade
o vaso usado se quebra.
Não nos satisfaz mais a vaidade...
Deixou de ser à nossa vontade
não mais se enche de terra.
Mataram-me com desamor!
Viraram os olhos à dor
de quem busca a sua sorte.
Como quem caminha prá morte
levada no vento norte.
Sempre igual!...
Igual no ideal
na afeição
dos que trago no coração.
Mesmo quando digo não.
Mesmo quando finjo não ver.
O vento
não se pode prender.
Muito menos, a agua a correr
numa ribeira bravia.
Igual!...
Ninguém me domina
talvez seja sorte ou sina
mas; sou eu e sou assim.
Morta…
Mas continuo aqui
na espera...
Que se lembrem de mim
no dia em que por fim morri
Antónia Ruivo
«« Quero ««
Sim quero…
Quero amar-te ao luar, no meio de estrelas a bailar
Pode ser num leve toque, um roçar de pele, um tocar de alma
Que me traga a certeza, que as fábulas de encantar existem
Que as vontades subsistem
Envoltas em cetim suave, de um branco cristalino
Que me traga as certezas nas cordas de um violino
E me diga, podes rir podes chorar, sonhar, até amar
Ao cair das primeiras chuvas de Março
Eu e tu enlaçados
Embrenhados no cheiro a terra molhada, terra fértil, abençoada
Quero amar-te lá longe onde nos levar aquela estrada
Aquela por onde caminham os desejos, simples e puros
Suaves como os realejos, que levam a musica de terra em terra
Estranha quimera essa, que carrego no coração
De que um dia, um só dia, nessa imensidão
Sentirei o toque da tua mão, o bater do teu coração
Mergulharei de cabeça, nesse mar de sabores
Algo doces semitrincados, os beijos dos namorados
Tu e eu caminharemos enlaçados
Quem sabe, mesmo à beira de uma ravina, não importa
Somos loucos, estamos apaixonados, corremos o risco
Mas vivemos esse exacto momento, como se fosse o primeiro
De uma existência, onde a vida termina a seguir
Penso em ti
Vejo-te a rir, desta minha ilusão desmedida
De que um dia, a tua, a minha vida se juntem numa só guarida.
Antónia Ruivo
««Salpicos de luz««
Ardo em lume que me consome
Tão funesta é a solidão, quem diria
Minha alma grita morrendo de fome
Desfalece em rimas de poesia
Rompe na alvorada, no nascer do dia
Em versos que gritam meu amor sonhado
O vento carrega minha fantasia
De um dia acordar contigo a meu lado
Calo palavras sem jeito de amargura
Para não acordar as pedras da rua
Digam estou louca, não temo censura
Num poema cantante um dia serei tua
Escreverei na terra um hino à ternura
Em salpicos de luz dançaremos na lua
Antónia Ruivo
««No tempo que me resta««
Busco por entre o silêncio
Do tempo que me resta
Busco uma sombra , fina aresta
Tal flecha envenenada
Que acerta no meu coração
E me transforma em nada
Busco na noite fria
Eterna solidão, parca ilusão
E ouço! Mera imaginação…
A tua voz dizer com paixão
Palavras de amor
Que me falam ao coração
No silêncio dos anos vindouros
Buscarei por sons de besouros
Sozinha estarei, imaginarei
No silêncio de um quadro pintado
Em noites tão longas, caminhos trocados
Pintarei um leve ondulado, desmaiado
Do teu calor dormindo ao meu lado
Resta-me falar com o silêncio calado
Deste quadro pintado
Desejado, jamais alcançado
Antónia Ruivo
Imagem tirada do Google
««Lançamento dos livros do Octávio da cunha e do António MR Martins ««
Acabei de chegar a casa do lançamento dos livros do Octávio da Cunha e do António MR Martins, e já aqui estou plantada mas tinha que dizer isto e tinha que ser agora, existem coisas que, ou se dizem na hora ou perdem o sentido, adorei, um evento cheio de gente bonita e simpática, o Octávio pareceu-me uma excelente pessoa porque como Poeta o seu valor é indiscutível, quanto ao António é como sempre o imaginei, uma pessoa simpátiquíssima, de trato agradável , nota-se a simplicidade e a grandeza que a sua escrita encerra, adorei a sua esposa uma Sra. Encantadora, o filho não tive oportunidade de falar com ele mas achei-o um rapagão, depois conheci a Mim um doce tal qual os bombons que costumava distribuir pelo Luso, o marido também muito simpático, A Vera Silva um amor a transbordar simpatia , a Cleo uma bonequinha linda, agora percebo aquela cara toda pintada que conhecemos, a Nanda de Setúbal outro doce de pessoa mas muito mais bonita do que a foto mostra ( Nanda tens que trocar de foto), o José Manuel Brazão um cavalheiro não restam duvidas , um boca dito atrevido segundo me segredaram ao ouvido mas nada de importância, Até porque hoje era bebé estava à partida desculpado, resumindo, uma festa muito bonita e saudável onde reinaram a camaradagem e o entusiasmo, Havia mais poetas do Luso dos quais não me recordo os nomes aqui ficam as minhas desculpas e prometo que para a próxima vou fixar os nomes de todos, resta-me desejar aos Autores muitas felicidades e que este dia tenha sido o primeiro de muitos porque sem dúvida merecem. A poesia hoje mostrou que está viva e de boa saúde, bem haja á Temas Originais que acabou de nascer e assim abriu as portas ao sonho de dois grandes poetas, neste dia todos estiveram de parabéns mas nós os que vamos poder deliciarmos-nos com as obras agora publicadas levamos vantagem, obrigado.
Antónia Ruivo
««Amor é««
Amor não é passageiro
Agora chega e logo acaba
Não é vendaval em mês de Janeiro
Não se joga fora porque já farta
Não olha a cor, nem a dinheiro
Não vira as costas, porque a vida é chata
Amor é caminhar de mãos dadas
Olhar de frente quem está ao seu lado
Dizer palavras ponderadas
Mesmo que o outro esteja errado
Precisa que ás vezes lhe sequem as lágrimas
Gosta de sorrir e ser abraçado
Amor não é caso pensado
Aparece sem pedir licença
Não gosta de ser enjaulado
Não é sentença, muito menos crença
Não se fecha à chave porque está amuado
Amor é constante presença
Numa vida faz toda a diferença
Aos olhos de quem ama
É centelha de vida, não é doença
Amor não começa e acaba na cama
Continua amando na indiferença
Porquê apagar a chama
Se o amor te bateu à porta
O coração nunca se engana
Mesmo que a vida te pareça torta
Ao alcance da mão, está quem te ama
Antónia Ruivo
«« Décimas... Lembrando que a terra chora ««
Mote
Ao rubro de papoilas vermelhas
Por esses campos afora
Parecem enxames de abelhas
Lembrando que a terra chora
Vazam-me os olhos de águas
O campo está moribundo
Ai Alentejo profundo
Restolho raso de magoas
Triste vão as nossas vidas
Restam as terras cansadas
Tristemente abandonadas
Viraste quarteira de gado
Soberanamente engalanado
Ao rubro de papoilas vermelhas
Alentejo minha amora
Pedaço de terra encantada
Tola mente esvaziada
Retalhos de alma que chora
Que te beija hora a hora
Mais aqui mais acolá
Tudo está ao Deus dará
Tanto pedra tanta moita
Tanta gente que te açoita
Por esses campos afora
Longe vão tuas conquistas
A era da fraternidade
A terra da igualdade
Será que te restaram algumas
Dessas crenças encantadas
Dessas utopias luzentes
Tua gente está descrente
O teu povo está dorido
Desacreditou no fado corrido
Parecem enxames de abelhas
Viram costas vão embora
Procurar a melhor sorte
Voltam depois com a morte
Descasam na terra que implora
Pelo calor do seu corpo, agora
Nada resta está morto
Alentejano filho devoto
Guardador de gado ao relento
Resta-me soltar versos no vento
Lembrando que a terra chora
Antónia Ruivo
««Abaixo o preservativo?????««
Abaixo o preservativo?????
Acabei de ler uma noticia que me deixou no mínimo perplexa e esta minha perplexidade não se deve ás afirmações porque essas já se adivinhavam mas sim ao tempo que o Papa Bento XVI levou a dizer explicitamente que é contra o uso do preservativo e a ocasião que ele escolheu para proferir tais afirmações, nada mais nada menos que a sua visita aos Camarões onde 7% da população adulta está infectada com o vírus VIH, e esse numero não se altera desde 2001 onde a percentagem era de 12%.
E o mais curioso é que a comunidade cientifica chegou à conclusão que o VIH se desenvolveu na comunidade de chimpanzés dos Camarões, quererá sua Santidade fazer-nos crer que se a espécie humana deixar de ter contacto com o referido animal o vírus desaparece por obra e graça do Espírito Santo, ou será que com a sua visita acontecerá o milagre de toda uma população virar abstinente e ai sim o vírus é erradicado, até quando a igreja católica nas pessoas dos seus dirigentes máximos levaram a hipocrisia de declarações como estas avante, até quando o distorcer da realidade que cada vez mais afasta as pessoas da igreja católica. Porque será que uma igreja que se diz portadora dos ensinamentos de Cristo não pratica um dos seus mandamentos que diz, ( Não matarás) a meu ver está renitência em aceitar o uso do preservativo como o único meio eficaz contra o flagelo da sida nada mais é do que matar lentamente o maior bem da humanidade, a própria vida, quantos mais precisam morrer, quantas crianças precisam de nascer infectadas, quantos católicos precisam se afastar da igreja, para que sua Santidade Acorde e veja que os tempos são outros que as mentalidades sofreram uma grande alteração nestes 2009 anos depois de Cristo.
Até quando?
Antónia Ruivo
«« Maio ««
Maio sofrido Maio
Perdido nas gerações
Cantaram-te como o gaio
Entre lutas e revoluções
Mar de multidões
Ideais soltos sem tempo
Tentas soltar os grilhões
Desde o norte ao barlavento
Maio do meu contentamento
Perdi a vontade em cantar
As lutas em movimento
Perdi, perdi a vontade em sonhar
Antónia Ruivo
««Amizade««
A amizade verdadeira
Não tem peso nem medida
Nasce para a vida inteira
Só precisa ser polida
Quando aparece na nossa vida
Entra de forma brejeira
Só precisa ser sentida
De uma ou de outra maneira
A amizade verdadeira
Nunca pede para entrar
Aparece à nossa beira
E acaba por ficar
Acaba por ficar
Umas vezes silenciosa
Outras vezes a gritar
Mas sempre de forma airosa
Deixa um cheiro a rosas
Ou será a flores do campo
É tão bonita e vistosa
Quando nos cobre com o seu manto
Nunca a deixes num canto
Numa gaveta sombria
Ela gosta de ser beijada
E de ver a luz do dia
Amizade eu sabia
Que vieste para ficar
Fazes parte do meu dia
Nem precisas de falar…
Antónia Ruivo
Imagem tirada do Google