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Colheita do Amor

 
Os saltos já se despontavam pelo saguão do aeroporto, destacando-se no burburinho da multidão acalorada. Os olhos borboleteavam atentamente à procura de alguém que pouco conhecia. Já não trazia na memória a delongada espera dos últimos dias. Os sotaques se misturavam, e, as vozes ecoavam pelo portão de desembarque. Os passos se tornavam mais sólidos, e, as mãos finamente trêmulas, na ansiedade pelo que ainda a aguardava. Logo, o sorriso irradiou as tuas delicadas faces, espantando o refúgio das últimas preocupações. Havia uma única certeza a que se agarrara desde tua partida. Teu peito agitou-se, pareciam-te sussurrar aos ouvidos. Abriste os braços em plenitude da alma, e, um fraterno abraço se fez ao cabo de poucos segundos. Uma curta distância, porém, ainda os separavam.
“Onde ele está?”... “Está em casa, te esperando...”

Tu deixaste te conduzires por ela e pela força das últimas exclamações. À medida que se afastavam do portão de desembarque, tu a observavas amiúde, tentando buscar qualquer coisa que memorasse quem realmente viste buscar. As mesmas expressões ao falar, o jeito e o som ao sorrir, a melodia do sotaque, tudo, absolutamente tudo tão novo, e, tão intimamente familiar. Conversar com ela era alimentar um pouco a devoradora saudade que tinhas encerrada em teu peito. Entraram no carro e seguiram em direção ao apartamento.

Na entrada do prédio, ela parou o carro, olhou fixamente em teus olhos e sorriu pela última vez. “Vá, suba logo! Meu irmão te espera!”. Sorriste em agradecimento àquela providencial cúmplice dos teus mais verdadeiros sentimentos, pegaste das malas, adentrando o prédio, sem que houvesse tempo para dolorosas despedidas. O carro já dobrava a próxima esquina, quando tu te anunciaste ao porteiro, dizendo-lhe teu nome. Ele de pronto entendeu todo o feito, e, acenou que subisse, indicando-te o hall dos elevadores. Perguntou, contudo, se queria ajuda com as malas, não eram numerosas, mas ainda assim, sentiu-se na obrigação de assim perguntar. Tu dispensaste toda e qualquer ajuda que pudesse retardar ainda mais aquele encontro. Agradeceste educadamente o gesto, e, apenas tomaste do elevador até o andar indicado.

A porta estava entreaberta, e, uma pequena fresta de luz se alvitrava por ela. Abriste-a, devagar, atentando-se aos lados, à procura pelo fim de uma angustiante espera. E ao abrir por completo toda a porta, deparaste com um chão, em caminho de pétalas de rosas, que guiaram teus pés até o quarto, onde acostado a uma janela, eu estava debruçado. Aproximaste de mim, e, acolheste o teu colo às minhas desnudadas costas. Apoiaste a cabeça junto a elas, fazendo-me sentir teus cabelos beijando a minha pele. Recobriste os meus olhos com as tuas suaves mãos, sentindo as lágrimas que nasciam junto às pálpebras. “Ainda bem que chegaste a tempo...” Voltei-me o peito junto a ti, e, agora, tão intimamente ligado, lacei tua cintura com uma das mãos, enquanto a outra me permiti a sentir-te de perto. “Delongada é a espera de uma primavera, mas as flores jamais deixam de existir...!” E assim, com os olhos cerrados, respiração junto a tua, desabrochei-te cada um dos beijos guardados, despetalando-se um por um em teu colo, germinando-se pelo pescoço, e, florescendo-se junto à raiz dos lábios teus.


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