NO BAR

mathilde,

é sempre gratificante receber um comentário seu. suas palavras são extremamente generosas. mas não creio que seja tão difícil comentar-me. falo de assuntos do dia-a-dia, numa linguagem bastante coloquial. não me faça sentir um monstro rs rs rs...

carinho,

j.

não brinques comigo júlio sabes que nunca fui boa comentadora literária. eheheheh

beijo meu amigo

meu estimado amigo,

você etá certo ao perceber o meu fascínio por bares. e sempre preferi os mais ordinários. é lá que me isolo e passo horas falando sobre o meu
tema preferido: futebol. não digo que me sirvam de inspiração, até porque não acredito muito nela. chego até a temê-la: quanta bobagem não se escreve em nome da inspiração. mas, claro, já escrevi alguns poemas em bares, mas nunca a versão definitiva. bar é para se jogar conversa fora. diz um amigo meu que conversa de bar não tem valor comercial. quanto ao soneto, vamos lá. totalmente pertinente a sua observação, com relação a alguns tropeços na métrica. e eu explico, mas não justifico. comecei na poesia pelo inverso. antes de escrever a poesia dita de livro, eu fazia letras para canções de amigos meus músicos. todas as letras que escrevi nasceram depois da melodia pronta. ou seja: eu colocava as palavras em cima da música, o que me obrigava a exercitar o ouvido, porque sou totalmente inocente em matéria de música - não conheço uma nota. levei esta experiência para a poesia. digo isso porque sempre separei letra de música de poesia. o que soa bem em música nem sempre surte o mesmo efeito na poesia. a palavra funesta, por exemplo, pode se encaixar bem num poema, mas numa letra de música seria um desastre - ou, funesto. sendo assim, quando escrevo um poema cuja forma impõe algumas regras, no caso o soneto, geralmente faço-o de ouvido, repetindo os versos em voz alta. se o ritmo me for satisfatório, não sacrifico o verso por uma sílaba a mais ou a menos. lógico, há limites. jamais faria um verso de seis sílabas seguido de outro de doze. assim é possível que ocorram os deslizes. quem não os cometeu? não só na métrica. vejamos: "alma minha", de camões. alguém pode presumir que o grande bardo passou no açougue. "no meio do caminho tinha uma pedra", de drummond. os puristas, além de criticar o poema - chegaram a chamar drummond de louco -, logo corrigirão: não é tinha uma pedra, mas havia uma pedra - certo? nem tanto. especialista em sonetos, vinícius de moraes trava uma polêmica com o dicionarista aurélio buarque de hollanda ferreira: "que não seja imortal posto que é chama" - este "posto que" está correto? para aurélio, não. posto que, para vinícius, é usado como sinônimo de porque - que não seja imortal porque é chama. na verdade posto que é o mesmo que embora: posto que fosse verão, a temperatura era baixa. vinícius encerrou a polêmica:"aurélio, certo ou errado, meu soneto está consagrado." o dicionarista deu o braço a torcer ao poeta e incorporou a locução posto que como sinônimo de porque em seu dicionário. e é o próprio vinícius quem alerta o leitor sobre a questão da métrica: "Não repares se a forma é apurada/ou se a métrica foi talvez torcida./Olhe somente a vida dos meus versos/Que a vida do meu verso é a minha vida." tudo o que eu disse não apaga a pertinência do seu comentário. que, aliás, gostei muito.

abraço,

j.

meu caro amigo moreno,

já que você também aprecia, bebamos à vontade. viva!

abraço,

j.

maria joão,

o pior de tudo é que já protagonizei alguns desses filmes muitas vezes.

beijo,

j.

que bom , meu caro mario. vem de muito longe o meu goto pelos bares.quanto mais sujos e mais ordinários, mais me fascinam. aliás, não foi por acaso que escolhi morar no bixiga (assim mesmo com i), uma dos bairros mais boêmios de são paulo. e ainda por cima reduto de uma escola de samba, a vai-vai. só torço pra que a cirrose não me pegue.

um abraço.

j.

amigo boaventura,

um amigo meu, recentemente falecido, brilhante cronista de jornal, lourenço diaféria, certa vez escreveu que é muito difícil deixar o bar com dignidade. o pensamento dele está certíssimo. quantas vezes, além da dignidade, não se perde também o rumo de casa? agora, você está carregado de razão: os bares também são redutos dos chatos. e eles existem em várias categorias - o mal-amado, o que quer ser engraçado e o pior de todos, para mim: aquele que conversa com você, pegando no ombro. este é terrível. atualmente, quando vou a um bar, procuro uma mesa próxima ao banheiro. prefiro certos odores do que a companhia desses chatos. até porque depois da terceira dose, você não sente mais cheiro nenhum. minha receita é esta: quando se busca uma mesa perto banheiro, você está pelo menos 90% livre dos chatos. como em toda regra há exceção, alguns resistem. aí não tem jeito.

abração.

j.

zé,

pior é que a métrica está certa. mas até aí, meu irmão, depois de cinco ou seis doses de cana no caco, fora as ampolas geladas, quem é que vai pensar em métrica? e eu vou pensar mais é como eu não vou chegar em casa. e se me der na veneta, ainda escrevo chegar com X.

beijo,

j.