31 DE MARÇO DE 1974, NO 10º ANIVERSÁRIO DA DITADURA MILITAR NO BRASIL (republicação)

caro amigo e poeta josé correia,

esta data, no brasil, não deve ser esquecida nunca. foi o ponto de partida para atrocidades, torturas, prisões e mortes. os militares chamavam de revolução aquilo que, na verdade, não passou de um golpe. nunca ouvi falar em revolução onde não se disparou um só tiro. em 1964, eu tinha dez anos. mas, ainda que sem entender, ouvia pelo rádio o que se estava passando e via o rosto tenso de meu pai. bem mais tarde eu também disse não ao golpe. foram vinte anos sob o jugo dos militares. até hoje ainda há desaparecidos. sei de alguns, como o filho da estilista zuzu angel, que, depois de torturado, foi atirado ao mar. a estilista, conhecida no mundo inteiro, valeu de seu prestígio para denunciar às autoridades estrangeiras o que se estava passando no brasil. ela inspirou chico buarque a compor a belíssima canção Angélica. zuzu angel morreu num estranho acidente de automóvel. documentos que provavam o que aconteceu com seu filho e que ela os tinha em poder no carro, misteriorimente desapareceram. quanto ao local onde a personagem do poema, gujará-mirim, vai se esconder, tem sua razão. é uma cidade sem lei, na divisa com a bolívia, frequentada por doleiros, traficantes e contrabandistas. como as pessoas contrárias ao regime militar eram consideradas como terroristas e bandidos comuns, ir para lá até fazia jus.

abraços,

j.

meu irmão poeta,

agora nem eu me lembro. parece que publiquei apenas no escritartes. acho que aqui não.

abração,

j.

é obrigação nossa, não importa o tipo de atividade intelectual que abraçamos, seja em que tempo for, da maneira que for, usarmos de nossas armas, no caso nosso a palavra, e denunciar toda e qualquer injustiça, toda e qualquer violência contra a humanidade, principalmente contra os menores. penso que um escritor, um poeta, não pode e nem deve isolar-se numa torre de marfim e deixar que os fatos aconteçam. temos um compromisso com a vida e com a liberdade. se não podemos fazer a história, somos parte da história. a revolução também se faz - e como! - com as palavras.

abraço,

j.

viva sempre a liberdade!

beijo,

j.

amigo alberto,
aqui passamos péssimos bocados também. e até hoje não há notícias de alguns desaparecidos políticos.ontem, por acaso, na nossa tv estatal daqui, assisti a um documentário com o poeta português e.m.de mello e castro, pai da cantora maria eugénia, muito querida aqui no brasil. no documentário, quando ele falou sobre a ditadura em portugal, mostraram salazar discursando. como os ditadores se parecem, meu deus!

forte abraço,

j.

"amo tanto a liberdade que queria ter um filho com ela." - paulo bomfim, poeta brasileiro.

beijo,

j.

são cenas que eu não gostaria de lembrar nunca mais. mas é impossível esquecê-las.

beijo, duda.

j.

quem gosta de lembrar? mas há mesmo que falar talvez para um futuro negro que aí vem.

bj

ontem por acaso, vendo um documentário, na TV Educativa, com o poeta português e.m. de mello castro, pai da linda eugénia, que canta música brasileira tão bonito, ele falou sobre a ditadura em portugal. e enquanto o poeta falava, apareceu a figura de salazar discursando. como os ditadores se parecem. são todos iguais. e o discurso, porco e populista, sempre o mesmo.

beijo,

j.

meu irmão poeta,

quando me lembro do que foi, sinto nojo de ser brasileiro. mas não devemos e nem podemos esquecer nunca. este lixo, meu amigo, não se esconde embaixo do tapete, mesmo porque, aqui no brasil, ainda há desaparecidos. como, a exemplo dos que se opunham ao regime foram anistiados, os torturadores e assassinos também mereceram o perdão. são as leis brasileiras. assim, ninguém, no caso assassinos e torturadores, vai pagar por isso.

abraços,

j.

sim, querida branca,


este dia deve jamais ser esquecido, primcipalmemte quando o ano de 1964 aparece junto. meu deus!

beijo,

j