NATUREZA QUASE MORTA

maria eduarda,

não duvido que este cavalo seja eu mesmo metido num dos meus disfarces. conheço-me pouco.

beijo,

j.

amigo jessé,

cada dia percebo mais que só a loucura e abscenidade são capazes de enxotar, ao menos por algum tempo, a maldita rotina que nos come.

abrs.

j.

dorinha,

eu vim - e sou - do teatro, quase proibido pela censura. fui preso no jornalismo, na época da dita, pela censura. creio - e já disse, talvez pela escola
do teatro - quando nela não se vê maldade.assim fosse,linda dora, o Poema Sujo, maior épico dos países que falam português, de ferreira gullar, o maior poeta vivo em atividade no brasil, seria uma revista de sacanagem.mas quem sou eu para me comparar ao grande gullar?! sempre dei a cara pra bater. sei de moralistas que há por aí que fodem - se é que fodem - de luz apagada com a "patroa" (que coisa asquerosa) e fazem das amantes, quando não de simples avatares objetos de suas frustraçãoes escondidas nas lentes grossas dos óculos. não advogo, sou sempre réu. nem canto ninguém em comentários pernósticos, chamando minha mulher de minha esposa, que é uma palavra horrível e moralista. não rezo terço. poetas de merda. escrevem sonetos de amor para amantes e comungam aos domingos. a minha poesia, desde que por gente me conheço, não vem do sentimento só, não. vem da rua sempre. e assim será, linda dora. em acesso restrito não me escondo nunca. vaiem minha poesia. ela é de palco. já apanhei muito.é: sou puta calejada.não vou à missa aos domingos, não comungo,não creio em deus, senão na minha consciência, que nada tem de agnus dei. sou apenas um poeta de botequim, que, vez em quando, faz letras para alguns sambas bonitos - eu gosto-, com alguns parceiros bonitos, que fazem as melodias - e eu também gosto muito deles.o acesso restrito que se foda. o acesso restrito é a minha consciência. ela me dita os rumos.minha poesia é sem rumo,como eu.talvez por isso seja lida nos banheiros públicos mais sórdidos de sampa, o que muito me agrada. você entende o que estou dizendo, claro. e sabe para quem endereço certos desaforos.não atingem a mim.prefiro a loucura e obscenidade à omissão. antes havia minha mãe, que me lia, mas ela morreu inda não faz um mês.foi bom este seu comentário, para que eu pudesse vomitar pouco, dora, contra um certo moralismo. eu adoro sua poesia. só não gosto dos sujeitinhos de óculos que ficam de plantão fazendo poemas de merda, que em outros sites elogiavam a mim e a domingos da mota. e hoje, porque nos rebelamos contra a censura, nos dão as costas. hipócritas. quero que eles se fodam todos.

beijo, dora.

j.

a poesia também é deboche. meu santo bom humor que responda por ela, meu irmão.

abraço,

j.

caro abilio,

como escreveu o poeta torquato neto, que se matou prematuramente um dia depois de completar vinte e oito anos - os pássaros também cantam nos hospícios.

abraço, amigo.

j.

pois é, minha irmã poeta, no fundo é um poema triste.

beijo, linda.

j.

obrigado, linda flor, obrigado.

você gosta, você entende o poema. mas há quem faça vistas grossas quando faço este tipo de poema. paciência. moralistas de plantão não faltam. acesso restrito pra mim é autocensura.

um beijo,

j.

carla,
dentro da camisa de força nem deus é perfeito.

afeto,

j.

fiz de propósito, zé. tem malandro aí pensando que é sério, leva filha ou filho na igreja, mete hóstia na boca, comunga e fica de olho no avatar da poeta, vomitando verborragia. o otário pensa que eu durmo de touca. depois me vem com papo furado de teologia.

beijo,

j.

maria alexandra,

embora os canários estejam mortos - apenas dois, diga-se -, eu cá estou, bem vivo, cantando este meu canto, mesmo desafinado.

beijo,

j.