Poemas : 

S/título

 
O corpo inerte e morto de Jesus
Sangrou, pingo a pingo, para um vaso
De onde beberam os anjos o ocaso
D'Aquele que nasceu pregado à cruz.

Ébrios, em cônsona mijadela,
Chuviscaram os anjos lá de cima
Cá para baixo: sacra obra-prima
Angelical, em jeito de procela.

E o sangue, na terra já entranhado
Atalha para a boca dos defuntos
Que vêem seu desejo saciado...

Entretanto, pelo sangue consuntos,
Dormitam os anjos, embriagados
- No céu, incestuosamente juntos...


Uma mão angelical afaga-nos o cabelo e toca-nos o sexo em cada momento de desespero…

 
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AlexandreHomemDual
 
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Enviado por Tópico
Margarete
Publicado: 03/06/2010 10:02  Atualizado: 03/06/2010 10:02
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 S/título ao homem dual
olnão porque tenha medo mas porque me apeteceu deixar-te um poema do alexandre o'neill, espero que gostes:



"O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis

Vai ter olhos onde ninguém os veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no teto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos

O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles

Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados

Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)


O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos

Sim
a ratos"