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Catárticas escrituras

 
Tags:  Labiríntimos  
 
Não sei porque escrevo eu, em letras que não vinguei...

Ensaio e gravo sinais num papel que decorei,
e em tributo a um dom que ninguém me atribuíu,
avanço e recuo linhas numa frente sem estratégia,
arrisco e desfaço encantos num reino que me plagia
-
Porque tento dilatar-me além do peito que faço pergaminho indecifrado?...
porque insisto em ver obscura a luz que a outros não cega?
porque tento diluir-me além dos olhos que faço tinteiro em seca reserva?...

Nem sei porque escrevo ainda palavras que não conheço,
se a impressão que me fica não é a que lhes esqueço...
mais valeria rasgar-me a pele em sulcos de lâmina,
ler e reler vias sacras sem culpas nem estações,
plantar a cruz que me dobra na terra sem fomes de água,
morrer sem míngua de aplauso, na lei que não me consagra!

Porque teimo em profanar-me, tentando expor despidas as palavras que me cobrem?...
tentando abrir-me em páginas, quando a flor delas não sei!?...

Escrever é atraiçoar o livro em que me fechei.


Teresa Teixeira


 
Autor
Sterea
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Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
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Enviado por Tópico
sampaiorego
Publicado: 15/06/2010 15:33  Atualizado: 15/06/2010 15:33
Membro de honra
Usuário desde: 31/03/2010
Localidade: algures virado para o mar com gaivotas
Mensagens: 1147
 Re: Catárticas escrituras
as palavras são sempre únicas quando escritas com olhos – gosto de a ler

abraço

sampaio(r)ego

Enviado por Tópico
eduardas
Publicado: 15/06/2010 21:25  Atualizado: 15/06/2010 21:26
Colaborador
Usuário desde: 19/10/2008
Localidade: Lisboa
Mensagens: 3731
 Re: Catárticas escrituras p/Sterea
As tuas palavras são sempre catárticas, um bálsamo para fruir e sentir.

bj
Eduarda

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 15/06/2010 21:48  Atualizado: 15/06/2010 21:49
 Re: Catárticas escrituras
"Nem sei porque escrevo ainda palavras que não conheço" viver de poeta são as palavras desconhecidas que estão guardadas em nosso peito como pergaminhos ignorados, as vezes são feridas que doem e pela vontade de exprimí-las muito vale a dor "rasgar-me a pele em sulcos de lâmina", mas nem sempre conseguimos traduzir o que sentimos e ficamos na frustração de que nos traímos ligeiramente pela dor que queríamos expelir e continuou conosco.

Viver de poeta é a eterna vivência da conversação do nosso interior com o mundo. Ainda que nos machuque é a vontade de exprimir as palavras em sentimentos que adoramos.

Adorei o seu poema, muito verdadeiro, ouvi a tua voz discorrer como num clamor inteiramente pessoal e também universal.

Abs, Guilherme Müller

Enviado por Tópico
Yas.l
Publicado: 16/06/2010 01:09  Atualizado: 16/06/2010 01:09
Participativo
Usuário desde: 16/06/2010
Localidade:
Mensagens: 33
 Re: Catárticas escrituras
Só uma palavra explica: PERFEITO...

Enviado por Tópico
elendemoraes
Publicado: 16/06/2010 03:42  Atualizado: 16/06/2010 03:42
Colaborador
Usuário desde: 05/05/2010
Localidade: Rio de Janeiro - Brasil
Mensagens: 507
 Re: Catárticas escrituras
Olá sterea,
Se não sabias pq escreves as letras que ainda não sabes e disseste tanto em tão poucas...
Um poema tão bonito quanto intenso e, sinceramente, também não sei que palavras usar para meu comentário!
Só faltou dizer e digo agora: Bravoooooo!

Beijo.