. façam de conta que eu não estive cá .
estava sempre só. às vezes por companhia uma rua mais agitada. quase sempre junto a um candeeiro de esquina, onde as pombas encontravam pousio entre os seus voos. imagino-o assim: seis da tarde, a rua semi-vazia, no fio electrico que cruza a rua um monte de pombas, ele de olhar baixo e corpo inclinado para a frente, pousado no candeeiro, com a mão no peito e as palavras a saltar-lhe dos dedos. há algum tempo que não o vejo, há qualquer coisa no tempo que me perturba, sei de lugares que passam tão rápido, de pessoas que o tempo afasta e esconde em lugares por onde não mais passarei. creio que r. é um deles. ainda que todas as noites me visite a insónia da sua presença, agarrado à boca, unhas cravadas no lábio. acredito que r. é este estado de estar entre, o mundo morto ao colo do corpo, como fechar o peito à bala, como dar o coração.