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Vulto Evidente (Post II)

 
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Naquele dia Manü escreveu, enquanto se sentia só, apenas na sua companhia.
“Deste caderno não quero tirar nenhuma folha, para que fique registado como tudo acontece. Começo hoje, não poderia ser noutro dia, é simples não me encontrava num lugar que me confortasse ou onde me sentisse bem…”Em Pessac desde o dia 15 de Janeiro, 20 horas locais, quando o voo da Air France o largou.Com uma chuva miudinha, que lhe ofuscava a vista, procurava um táxi que o deixasse no hotel. Um Première Class, sim fora essa a reserva preparada pela secretária do chefe da delegação Aquitaine.
O Hotel ficava na zona Industrial, a pouco mais de dois minutos dos escritórios para onde fora deslocado.
Estava longe de tudo, para ele, a vida parecia ter começado de novo, porém continuava sozinho e não era o que mais desejava naquele momento, ou talvez sim.
Nunca tivera pensado desta forma antes, não houvera lugar a pensamentos de distância, separação, abandono ou desprezo. Sempre se sentiu pouco amado, sempre vivera triste, nada simpático, manipulador, reconhecia a sua forma de ser e estar.
Disse várias vezes que tinha a perfeita noção de ser arrogante, exigente e pouco compreensível para quem errava ou simplesmente não se dava ao trabalho de compreender ou colaborar, o mesmo é dizer, que esperava dos outros o empenho no sistema onde estavam inseridos. Justificando-se dizia sempre que, quem como ele está impedido de errar, não pode, não vai e não quer, aceitar os erros dos outros. São palavras como estas que me denunciam, sim o Manü sou eu e não é um pedaço de um qualquer diário, antes um pedaço de mim que retirei do pensamento de outros através das suas palavras e medos doentios porque para eles, eu tenho alguma influencia, bem dito, é mesmo maldade e cinismo, resumindo sou eu ou o eu que vislumbram em mim. Influência, maldade e cinismo. Sou o vulto evidente. Em tempos escrevi:

“Afirma-te sim pelo que és individuo,
Só assim podes ser diferente,
Tens capacidades por seres um ente,
E não te julgues se não és ouvido.”

Tinha pouco mais de dezoito anos, e muito mais que um simples esgotamento, estava no inicio de perceber quem era, o que tinha feito e o que não queria voltar a fazer. O futuro apesar de tudo, o hoje, o agora, mostra-me o que fizera desde então, e como tudo na vida tem um preço.
<br />Não vendi a alma ao diabo, mas negociei com alguns, enganei outros, traí, fui traído, julguei, fui imprudente, e conheci alguns titulados de melhores que tudo, esses já morreram.
Como entendo a vida, esta, está escrita em três capítulos, no primeiro encontramos o poder (influencia) ou a falta dele, nada mais nada menos, no segundo o amor (maldade) ou a falta dele, ou lá o que isso significa, e no terceiro a escolha (cinismo), quer queira, quer a aceite, ou não, tão pouco importa se fazemos o bem, ou o mal, a decisão tem destas coisas e uma escolha não é mais que uma decisão.
A decisão, porém leva-nos a uma escolha sempre egoísta, eu sei porque estou a pagar o preço de decidir, e pensei sempre em função dos outros que me rodeavam, entenda-se, manipulando... bem não deve ser muito fácil de entender, mas pouco importa.


Manuel Rodrigues

 
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Manuel Rodrigues
 
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