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Julga-se o Ser por ser... mesmo não sendo
Afina-se a voz rouca de tanto silêncio
dando os últimos retoques que já não lembram primeiros
e esticam-se as cordas soltas de antigo aperto
(Mas hoje não posso cantar)
Julga-se o Ser por ver... mesmo não vendo
Abrem-se os olhos já cansados de fechados
esfregando-os nas mãos como querendo acordá-los
deste sono que adormeceu ainda dia demais
(Mas hoje não posso olhar)
Julga-se o Ser por ter... mesmo não tendo
Ofertam-se falas embrulhadas em papel transparente
deixando visível a crença na projecção
de momentos que poderão fazer história
(Mas hoje não posso guardar)
Hoje... não canto, não olho, não guardo
Hoje... apenas Sou.
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"A ausência só é efectiva quando a presença nos é, ou foi, indiferente" (Ajota)