Acrósticos : 

O cigarro da vida

 
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A vida passa à velocidade do cigarro que se apaga, deixa as cinzas, caem sobre o chão, caem sobre mesas, caem sobre cinzeiros. O cigarro apaga-se… A vida passa…
Olho para o cigarro que queima lentamente na minha mão, acendi-o mas não o fumo, dou bafadas com o pensamento, ouso os estalos da nicotina a queimar, sinto o fumo a passar por entre os pequenos rasgos do filtro, a passar agora pela minha língua em direcção à minha garganta, passa solene, passa agora pela laringe dirigindo-se pela traqueia até aos pulmões, fica estagnado, consome-me todo o oxigénio, levando à sua passagem uma doce dose de veneno alimentando aqueles demónios adormecidos, demónios que não queremos acordar, falta-me o ar, expiro agora, expelindo todo o fumo que há em mim saciando a minha fome de cigarro… passa o tempo… passa o tempo… o cigarro queima na minha mão libertando um maravilhoso bailar de fumo que se dispersa na atmosfera e se me entranha na roupa, nas mãos, no espírito… sigo com a segunda bafada, esta agora mais violenta, respiro o fumo, queima-me a íris, caem-me lágrimas e choro, o fumo encravasse-me na garganta rebentando como uma bombinha chinesa, tusso, tusso compulsivamente, parece que nunca mais paro, parece querer arrancar tudo o que ainda resta dentro de mim, tento conter-me mas continuo a tossir… Cof…Cof…Cofff… Quando consigo recuperar do sofrimento e da tosse, paro… penso… sim penso… penso na vida e no cigarro... penso que talvez devesse… apaga-lo… apaga-la… Atiro com raiva e desprezo o cigarro para o chão, vê-lo a cair é ainda mais deslumbrante… num serpentear de emoções fortes o fumo sai, como quem quer fugir a seu severo dono. Cai por fim no chão, olho-o durante meio segundo… piso-o e sigo em frente.




 
Autor
Diogommalves
 
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