Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 052

 
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101

Deus me livre dos vates de intelecto
Jamais eu suportei a falsidade,
Distante deste grupo e seu aspecto
Eu só quero encontrar felicidade.

Não quero o meu repente tão infecto,
Quero que noutro mar minha alma nade,
Cansado de seguir tão tolo séquito
Rompi com os pudores qualquer grade.

Meleca no nariz, um cagalhão
Se eu faço ou se desfaço, não importa,
A cor da fantasia que se aborta

É cinza, mas aceso o meu fogão
O prato que eu fizer, eu mesmo como,
O livro que escrevi? Sequer um tomo!



102

Deu cócegas nas mãos dos deputados
Aumento de salário? Ganham pouco.
Eu vejo em cada olhar, pobres coitados.
Pois para ser político – só louco.

Auxílio paletó, tanto assessor,
Trabalham pra carái. Tu não vês isso?
É tudo bom sujeito, sim senhor!
Eu falo com certeza e sem enguiço.

Viver lá em Brasília, sem ter mar,
Desculpe, mas decerto isto é um saco.
É tanta papelada pra assinar
Depois dizem que levam pro buraco

Esta Nação que veio com defeito.
“Mamãe, não quero ser sequer prefeito”.
Marcos Loures


103


Diante dos teus olhos, tudo muda,
A dor que sempre vinha, não vem mais...
No brilho que transmitem, tanta ajuda,
No lume dos teu olhos, plena paz!

Os olhos que recendem tantas luzes,
Irradiam caminho mais escuro.
Mostrando onde se encontram duras urzes.
Promessa tão feliz de bom futuro...

A claridade brota e vem direto
Tornando os olhos meus bem mais brilhantes.
Nos olhos da ternura e manso afeto,
Inundações divinas e constantes.

Teus olhos são tão plenos: claridade.
Te peço, nosso amor: felicidade!


104

Diante de um momento duro e fero,
Amor vai nos tomando em seu feitiço,
É tudo na verdade, o que mais quero,
Refaço em nosso amor, o brilho e o viço,

Nos braços deste amor, eu me tempero,
E um mundo mais ameno, enfim, cobiço.
O sonho pelo qual me regenero
E ao mesmo tempo encanto e me enfeitiço

Amor se derramando em forte chama,
Mudando num segundo toda a trama.
Expressa em perfeição uma esperança

Benquisto pelos deuses, eu garanto
Tomado totalmente por encanto
Quem tem no seu amor toda a fiança
Marcos Loures


105

Diante de beleza, imensa, tanta,
Calado, não consigo mais falar
Recebo em cada raio do luar
O brilho que me entorna, e me agiganta.

Tu tens a formosura que me encanta;
Jamais eu deixarei de te adorar.
Minha alma extasiada sempre canta
Em doce serenata a te buscar.

Eu quero teu perfume em cada verso,
Recendes a milhões de belas rosas.
As estrelas imitam-te, invejosas,

Vagando em mil tiaras no universo,
Perdidas, sem destino, morrem cais,
São flores sem perfume e nada mais...



106


Diante de beleza, imensa, tanta,
Calado, não consigo mais falar
Recebo em cada raio do luar
O brilho que me entorna, e me agiganta.

Tu tens a formosura que me encanta;
Jamais eu deixarei de te adorar.
Minha alma extasiada sempre canta
Em doce serenata a te buscar.

Eu quero teu perfume em cada verso,
Recendes a milhões de belas rosas.
As estrelas imitam-te, invejosas,

Vagando em mil tiaras no universo,
Perdidas, sem destino, morrem cais,
São flores sem perfume e nada mais...



107


Destoa com um resto de esperança
A foto em alegria sobre a mesa,
O quanto desta vida que se preza
É presa do que trago na lembrança;

Quem tem uma ilusão como fiança,
Não sabe usufruir da sobremesa,
Por mais que se imagine em rua mansa,
Açoda com mais força a correnteza.

Ao menos, já desfruto do pomar
Aonde tantas vezes quis arar
Deixando este abandono no passado.

Quem sabe se colhesse um belo fruto,
O dia não se mostre assim tão bruto,
E mude, num momento, o velho Fado.
Marcos Loures



108


Destino tão cruel... são duros os meus fados!
Os sonhos de mudança em teus braços levaste.
O tempo se passou e nunca regressaste.
Agonizo sem ter o bem dos teus cuidados...

Os males que deixaste, em mim são redobrados.
Ó Deus, não acredito, o quanto tu mudaste!
Um vaso que se quebra, a luz que carregaste.
Os dias sem teu canto, em vão, desesperados!

O sal da minha vida, o pranto que vivi;
A sorte que não veio... O que restou, aqui
Um homem retraído, o manto da saudade.

Dobra-se um triste sino em homenagem tétrica
O verso que te faço, embalde, perde métrica
Na trilha do destino, eu vou, sem claridade!
Marcos Loures



109

Destino sempre prega tanta peça,
Embora muitas vezes surpreenda
Na vida quase nada que te impeça
Recebes com carinho em tua tenda.

Porém se amores mostram suas caras,
E mordem como fossem violentos.
Os sonhos mais difíceis anteparas
Em busca dos divinos, bons ungüentos.

Vivendo deste amor qual peregrino
Que trama sem saber do seu caminho.
Amor por ser amor, faz seu destino.
E nele mesmo incrusta fim e ninho.

Ao menos se escutasse minha prece
Mas tolo coração, não obedece!


5110

Destino relegara-me à tristeza,
Onde jamais a lua penetrasse.
Fechando toda porta pr’a beleza.
Somente o vento frio, enfim, passasse...

Destino relegara-me ao vazio,
Da noite que jamais terminaria.
Sabendo que no inverno sem estio,
Depois de certo tempo, morreria...

Destino não previra uma chegada,
Em meio a glaciais caricaturas;
Dos olhos tão sutis desta alvorada,
Tramando a maciez nas desventuras...

Reconheço esse espectro em esplendor,
Reflexo dos teus olhos, meu amor!



111

Deu bicho carpinteiro em minha cama,
Não é que eu possa levantar depois...
Dever a cada dia sempre chama,
Vontade de saber mais de nós dois...

O amor que a gente quer, já fez goteira
Caindo este telhado, desabrigo.
Pensei em ti ter visto a companheira
Que protegesse, amiga, do perigo

Que trama a solidão. Caricatura
Daquilo que pintei no pensamento,
Mas de fato escondeste a criatura
Tentando sonegar conhecimento.

Porém depois de tudo, resta engasgo,
A foto que me deste, falsa, eu rasgo.
Marcos Loures



112


Desvendo na nudez em que me exponho
Os atos insensatos que prometo.
Os barcos; nos teus mares, sempre ponho,
Neste oceano inteiro, me remeto...

Deslinda-se a verdade que preciso,
Nos atos impensados e sedentos.
Procuro pela paz no paraíso,
Encontro a tempestade, os tormentos...

Recebo teu abraço, seios túrgidos,
Urgidos nossos sonhos de prazer.
Os raios que vieram; fortes, fúlgidos,
Espalham em nossa cama e quero ter...

Revoltos os desejos, gritos roucos.
Na busca dos amores tensos, loucos...



113

Destróis sem perceber a velha estrada,
E deixas tanto espinho como rastro,
Os barcos da ilusão perdendo o lastro,
A morte deste amor, anunciada.

Um sortilégio apenas que me enfada,
Mulher que fora outrora estrela, um astro,
Por entre as tuas sendas eu me alastro
E chego finalmente ao mesmo nada.

Aos poucos, tu mutilas a esperança,
Matando o que restara na lembrança
Sacrílego caminho; mau, ladino.

Derramas o vazio que a mão traz
Seguindo sem olhar sequer pra trás,
Gerando sem perdão um desatino.

114


Destoucando os cabelos tão dourados
Em raios tão divinos vem aurora,
Transformando esses sonhos esperados
Em prisão mais dorida e tentadora...

Acorda minha amada com seus raios
Lembrando que é chegada essa partida.
Cavalos esperando, mansos baios,
De novo recomeça a nossa vida...

O tempo que tivemos já passou,
Meu canto continua tanto quanto
Aquele que em espanto já cantou,
Não resta nem a sombra do quebranto.

Assim amor, renasce nossa vida,
Na aurora que marcou a despedida...


115


Destino já previsto num oráculo
Da morte sem remédio ou solução
À vida me prendendo este tentáculo
Não deixa mais restar uma ilusão

A sorte se fazendo em espetáculo
Fantástica eloqüência, esta visão
Guardado num incrível tabernáculo
Ao fim de tudo a morte em tentação.

Qual Acrísio nos braços de Perseu
Joguete do destino sem remédios.
O fim ao tramitar tantos assédios

Prepara tão somente a treva e o breu.
Nos Argos de minha alma; o fim predigo
Procuro a fuga, tento e não consigo.



116



Destino há muito tempo, outrora decidido
Eu sigo o meu caminho envolto em treva e dor.
Uma ilusão me acossa e mostra em tal vigor
Melhor seguir em frente, e mesmo que iludido

Recebo alguma luz, destino a ser cumprido.
E mesmo que inda venha a chama do pavor,
Eu posso enfim dizer, eu conheci o amor!
No canto que ora faço um mundo repartido.

Bebendo desta fonte eu vejo renascer
Num brilho ao fim da noite um claro alvorecer.
E faço deste brilho, apoio para os passos

Que firmes, eu darei, na busca da verdade,
Sentindo este calor que é feito em amizade
Encontro finalmente a luz em finos traços



117

Destino desfolhando os nossos sonhos,
Em vendavais procuram calmos portos.
Rumando por caminhos mais risonhos,
Os cais em temporais vagam absortos.

A força que permite que a raiz
Encare mesmo a noite terebrante
O pensamento expondo por um triz,
Estende sua mágica constante

Que faz com que o amor mesmo calado
Permita um novo encanto a se mostrar.
Não importando mais qual o calado
O barco sempre encontra onde aportar

Entrego o coração em brotação.
Granando na sublime tentação.


118


Destes meus olhos tristes, cadê brilho?
A morte, sobremesa, sobressalta...
Horizontes distantes já polvilho,
A lua transbordando intensa, incauta;

Meu barco naufragando, o tombadilho...
A dúvida cruel me prende, assalta,
Como posso seguir meu rumo e trilho?
A corja que me beija, podre malta...

Não posso consumir um vero orgulho,
O resto do que somos não tem fim...
Meu coração não passa dum entulho,

Meu sonho, castelar, desmoronou...
Espreito teus convivas sem festim,
Me resta mal saber que nada sou...



119


Deste-me solução para os problemas?
Vingaste tantos erros que cometo...
À parte do que foram os meus lemas
Aos olhos delicados me remeto...

As cortes dos amores são supremas,
Veneno sempre foi meu amuleto...
As discussões merecem novos temas,
Não quero que me caces, teu espeto...

Herdades que não tive nem desejo,
Campinas que estriaram essa escarpa.
Me deste solução para esse beijo,

No fundo não sabias mais meu nome...
No rio que pescastes cadê carpa?
A sombra desse amor depressa some...
Marcos Loures



5120


Deste corte profundo por herança
Na boca ensangüentada beijos, riso,
Carpindo cada aborto da esperança
Vencidos os meus sonhos sem aviso.

A dor é minha cota de fiança
Os cardos enfeitando o paraíso
O gesto sem sentido da criança
No passo vacilante que repiso.


Mas vejo que se perde esta amargura
No doce da vontade da morena
Nos olhos bem mais verdes da ternura

No tempo que amacia qualquer pranto,
No vento da promessa que me acena
Com jeito tão sereno em raro encanto.



121


Deste barco do amor perdi a quilha
Sem rumo, não se ancora nos tormentos.
Como posso aportar nessa tua ilha
Se não tenho sequer rosa dos ventos?

Me faltam condições de suportar
As dores e mazelas mais terríveis.
Por isso, meu amor; vou navegar
Nos mares que me forem mais possíveis.

Os ventos que me trazem ao teu cais
São ventos mais suaves, calmaria.
Eu peço teu destino e quero mais,
Em paz quero viver a cada dia...

Nos limos que criaram os meus passos,
Parado nos teus olhos, nos teus braços


122

Destas dores antigas que carrego,
Depois de tanto tempo em solidão,
Nos braços de quem amo, enfim navego,
Tocado pela força da paixão.
Quem fora, antigamente quase cego
Percebe, nos teus olhos, a amplidão!

E faço deste amor, estrela guia,
Tramando um sol intenso em minha vida.
Dançando em emoção, a sinfonia
Que um dia pensei morta, assim, perdida.
Dourando o meu cantar em fantasia,
Luzindo uma esperança mais querida.

Vibrando de alegria, encontro em ti,
Amor que tantas vezes, persegui.
Marcos Loures

123



Destino que pensara ser traçado
Em outras dimensões, divinos cimos
Agora ao encontrá-lo destroçado
Percebo quantas vezes nos ferimos.

Com mãos ensangüentadas foi traçado
O rumo que em desejos, nós abrimos.
O tempo vai incólume e passado
Distante dos caminhos que seguimos.

Agora ao ver a tarde esmorecendo
A morte sem remédios se anuncia.
De tudo o que vivi, eu vou tecendo

A rede feita em ódio; luta e intriga.
O pouco que tivemos de alegria,
Mostra tua presença ali, amiga...


124


Destino que em ternura agora selas,
Em tantas esperanças me fascina
A vida traz as rugas e as mazelas,
Porém uma alma livre se imagina

Em meio a tantas cores, aquarelas,
E tenta disfarçar, sorrindo, a sina,
Imagens que eu sonhei em novas telas
No olhar do amor, beleza descortina,

Assim vou prosseguindo rumo ao dia,
Na luz que cada verso me irradia
Deixando para trás noites escuras.

No quanto eu sou feliz e não renego
Encontro nos teus braços aconchego
Um vale de emoções, fartas branduras...
Marcos Loures


125

Destino preparando cada troça
Às vezes me pegando de surpresa
No fogo que queimou minha palhoça
Quem fora caçador agora é presa.

Bebendo uma cachaça no boteco
Eu vejo as belas pernas, rijas coxas,
Em pensamento; amigo, eu sempre peco.
Porém as esperanças ficam coxas

E nada do que eu quis se realiza,
Nem mesmo qualquer sombra de prazer.
Vivendo tão somente de uma brisa
Sem nada pra sonhar ou pra comer.

Eu sinto que talvez não tenha cura,
No amor que se fez mais bela moldura...



126


Destino na saudade desaguando
Fazendo do meu canto, uma novena,
O mar já tão distante toma a cena
E todo este cenário vai mudando.

Ao litoral sem pressa vi chegando
De todo o pensamento o que me apena,
Na lua que se deita tão morena
Os raios de esperança prateando.

Espinhos que carrego em minha pele,
Lembrando de que o mar sempre repele
Aquele que não sabe navegar.

Ferrado; desde moço, eu perco o passo
Nas veias vai pulsando inda o cangaço,
A fome de viver adentra o mar.



127



Destino meus caminhos ao vazio
Depositando em versos esperanças.
O quanto nada sinto eu mesmo crio
Enquanto tresloucada, não avanças.

O sangue que se escorre num sombrio
Momento perfazendo as alianças
Tocando bem mais fundo principio
E te convido logo para as danças.

Do velho sentimento que carrego
Não tenho nem sequer mais precisão,
Cardume sem um líder morre cego

A vida sem qualquer explicação
Perdendo o timoneiro não navego
Naufrago bem distante da emoção...


128


Dessas velhas tristezas diluídas
Nas almas que morreram sem perdão.
As sombras siamesas, nossas vidas,
Procuram pelo vale da emoção.

Somos ermos, herméticos e famintos.
Da pedra que nos fez, tantas rudezas.
Desejos qual vulcões morrendo extintos.
Vencendo nossos medos e defesas...

Não quero me insurgir contra este fado,
Nem quero me olvidar destes castigos.
Quem fora tempestade leva um fardo.
Sabendo das escoras e perigos...

Mas sinto que talvez tenha a saída.
Seguir sem temer nada em nossa vida!


129


Despudoradamente e mente caça
A perna torneada da morena
Andando pela rua, pela praça
Desejo juvenil ao velho acena

E o quanto quando sendo me ameaça
E faz quase não sabe, finge a cena.
O tempo não parece mais que passa
E o velho renovado em coxa plena.

Que faço se não traço mais a pausa
E agora antigo lobo em andropausa
Invade a minissaia, pensamentos...

Os olhos vão famintos, sem pra que,
Procuro por meus guias, mas cadê?
Quem dera se estes dias fossem lentos...
Marcos Loures


5130

Desponta a estrela d’alva, tu te vais,
A noite se perdendo, não te tenho...
Bem sei que tudo; sempre fui capaz,
Mas tenho que voltar para onde venho...

Tu és meu esplendor, minha esperança,
Tu és a fantasia que sonhei...
Mas sei que quando o dia já te alcança
À solidão que tinha, retornei...

Amada toda a noite és minha glória,
Amada o nosso dia é de saudade.
Noturna a nossa vida, nossa história,
O sol vem nos matando, em claridade...

Brilhando em raios frios, o luar,
Aquece um belo sonho, faz amar...



131


Despido dos meus medos e pudores
Eu quero-te desnuda em noite mansa,
Num gesto mais audaz a gente alcança
Dos céus que imaginamos, esplendores.

Tramando em poesia estes louvores
Enquanto um Paraíso em esperança,
A boca mais voraz em ti se avança
Querendo desfrutar raros pendores.

Por onde fores guarde este poema,
Pois feito em alegria, eu te garanto,
Além de simplesmente alguma algema

O amor que nos atando é todo nosso,
Trazendo em harmonia cada canto,
Um sentimento lúdico que endosso...
Marcos Loures


132


Despido dos desejos mais ferozes,
De amores e paixões desenfreadas
Matando estes cruéis, duros algozes;
Das sortes sem paz, desencontradas.

Meus sonhos se libertam, vão velozes
Na busca por auroras, alvoradas,
Sem medo dos tormentos mais atrozes
Das dores que se morrem, tão cansadas...

O viço adolescente que refaço
No verso e na esperança de verdade
Por onde meu caminho, amiga, eu traço,

É feito deste brilho que não cessa,
Além de toda a força da promessa,
Todo o poder imenso da amizade...


133


Desperto, e de repente nada vejo.
Minha visão turvada por temor,
Sabendo que não sabes do desejo
Que temo traduzir por novo amor.

Meu peito qual algoz sabe a desfeita
Que sempre todo amor, no fundo traz.
De tanta virulência a tez refeita
Procura por um novo capataz?

Não vejo mais saída ó coração,
Tu gostas de sentir-se amordaçado.
Embarco na armadilha da ilusão,
Embora creia esteja vacinado.

Nas sombras desta noite em que caí,
A sorte é que no fim, sobrevivi....



134


Desperto nos teus braços, doce amante,
Abençoaste a vida em riso manso.
Decoras meu olhar com deslumbrante
Beleza que em ternuras busco e alcanço.

Refém da formosura, num instante
Percebo ser possível um remanso.
Que acolha meus delírios e me encante
Trazendo em paz imensa, o meu descanso.

Viajo por teu corpo, sei teu mar,
Vislumbro quanto é belo o bem amar.
Singrando cada ponto de partida,

Avanço sobre margens, praia, areia,
E de repente o mar já se incendeia
Numa procela insana e tão querida...


135


Despertas meus desejos mais profundos,
Provocas sensações de amor voraz.
Querendo mansamente ter teus mundos
Em beijos, teu carinho tão audaz.

Despertas meus desejos tão insanos,
E mostras num sorriso insensatez.
Vivemos sem temores, sem enganos,
Penetro belas sendas, vez a vez.

Vieste dar razão à minha vida
Salvando o que se fora sofrimento.
A sorte em tuas mãos quer que decida
Em doce sedução cada momento.

Despertas as vontades, meus desejos,
Paixão que me inebria em loucos beijos...
Marcos Loures



136

Desperta, amor, em mim tanto desejo
Em chamas, crepitando, me convida
Ao bailado fantástico que vejo
Sendo a trilha sonora de uma vida.

Perene sensação de uma brutal
Felicidade imensa que me toca
De forma salutar e sensual
No beijo que roubei de tua boca...

Cativas-me e, cativo, sempre busco
No teu colo o perfeito diamante
Lapidado de um sonho onde me ofusco
Ao ver a tua face deslumbrante...

As asas deste amor são verdadeiras
Aliadas. E sempre companheiras...


137

Desta moral burguesa, a falsidade
Se faz a cada dia mais insana.
Distantes dos grilhões, a liberdade
Em versos e nos gestos já se explana
Mostrando que talvez uma amizade,
Verdade que se exprime soberana,

Não possa mais conter hipocrisia
Nem mesmo misturar-se com mentiras.
Ao me lembrar de Amanda que dizia
Dos corpos estirados pelos tiras,
Jogados pelas ruas, carnes frias,
Percebo que também tu logo atiras

Talvez não entendi palavra amiga.
Quem sabe se eu fingir, enfim consiga?

138


Desta cilada tola nós saímos
Deixando a teimosia no passado,
Por quantas vezes temos de bom grado
O rumo que, diverso, decidimos.

Olhando as cordilheiras, vejo os cimos
Aonde o amor se esconde disfarçado,
No vento que nos toca tão gelado,
Os passos tropeçando em velhos limos.

Se for preciso sonhar, siga em frente
Não tema os dissabores que virão
Apenas quem se dá de coração

Encontra o seu caminho, finalmente,
Assim do labirinto tão prosaico,
A vida é tecelã deste mosaico...
Marcos Loures


139

Desta fruta tão doce, coração,
Nascida no pomar de uma esperança
Regado com as mágoas da paixão.
Podado com as dores da lembrança;
Granado com as cores da ilusão
No mel que se faz velho e tão criança.

Desta fruta eu espremo todo o sumo
Experimento goles e mais goles.
Recebo o meu caminho em novo rumo,
Sem dores e sem medos que consoles.
Mergulhos impedindo qualquer prumo
Deixando nossos corpos bem mais moles.

Vem comigo que a festa não demora,
Só come desta fruta quem namora...


5140

Desse ser que me invade, escuridão,
As horas se passando nas gargantas,
Tomando todo o gosto em arranhão,
Ao ver o meu olhar, tu logo espantas
E busca do que fora a solução
Não vejo nem mais dias, fomes tantas....

Inverno vem chegando de mansinho
Menino quis pião, caiu rodando,
O velho engaiolar de passarinho
Minha alma estilingada no desando
Do que faz esperança ser um vinho
Que tomo sem saber, me embriagando...

Nem mais um novo tempo em que disfarce
A marca desferida em minha face...


141


Dois corpos que se tocam num volteio,
Girando a noite inteira. Como eu quero!
Sentindo coladinhos boca e seio
No ritmo sedutor deste bolero.

Angústia,solidão. Não mais receio,
Encontro junto a ti tudo o que espero
Entregue à maravilha deste enleio
Delícias em desejos, bom tempero.

Vivendo tal ventura, não me canso
Contigo, alcanço espaços siderais,
Nos lábios, sem pudores, sensuais

A busca sem limites por remanso
Que traga no horizonte deste encanto
Estrelas diamantinas, nosso manto...
Marcos Loures


142



Dois corpos que se irmanam e interagem
Formando em harmonia seus destinos,
São como passageiros na viagem
Passando por caminhos diamantinos.

Desejos tão ferozes e ladinos,
Decoram e azulejam a paisagem
Com brilhantes fantásticos e finos.

Santidade voraz, maliciosa,
Colheita divinal, deliciosa,
Sacrários entre sedas e cetins.

Oráculo que há tempos prenuncia
Bendito amanhecer de um claro dia
Ensolarando enfim, belos jardins...



143


Dois corpos entre chopes e conhaques
Assíduos serviçais da hipocrisia
As sinas assassinas; leves baques
Enquanto quem demora não porfia

Usando nos botecos sujos fraques
Arranco a meia noite e crio o dia
À noite nos convida aos roubos, saques,
No meio dos salões, joalheria.

Angélica figura desdenhosa,
Mereço pelo menos tua rosa
Que há tanto resguardada vira espinho.

Bicudos que se beijam, somos nós,
Mortalha da ilusão perdendo o cós
Os pássaros retornam para o ninho...



144



Doída, a minha voz desesperada
Deixando bem distante uma ternura
A marca da tristeza afigurada
Mostrando tão somente a desventura

Restando em nossa vida quase nada,
A noite ressurgida em treva, escura,
A sorte em outros tempos bem fadada,
Agora vai mudando de figura

E traz desesperança como marca,
Naufraga em solidão a minha barca
Em portos tão funestos ancorados

Os gozos de quem sempre quis bem mais,
Distante de teus braços, perco o cais
Remansos em tormentas, alagados...
Marcos Loures



145



Doçura de teus lábios, minha amada!
Promessas de luares sobre a terra.
Tantas vezes sonhei, não deu em nada,
A vida prometeu a paz na guerra.

Amor que traz carinho, também ferra;
Amor que traz aurora e madrugada
Desmaia no luar detrás da serra,
A mão que acaricia anda cansada...

Não quero o sofrimento que vivi
Na ausência da mulher que cedo quis...
A verdade da vida estava em ti.

Ao mesmo tempo inteira e por um triz,
Me trazes tanta mágoa e sou feliz.
No doce de teus beijos, Iraci...
Marcos Loures


146


Doces manhãs, infância vai distante...
Subindo em todas árvores, quintal.
A minha avó, sorrindo nest’umbral.
Meus dias mais felizes; viajante

Do tempo, essas saudades delirantes,
São companheiras santas, festival
Das minhas brincadeiras. No Natal
Os presentes guardados, numa estante

Da memória, trazendo meu sorriso...
Amor passando, célere, preciso.
Quem me dera viver eternamente...

As flores do jardim não mais existem,
As dores entretanto, sim, resistem...
Eu era tão feliz. Hoje, semente...
Marcos Loures



147


Doces lembranças guardo do passado,
Dum tempo tão feliz em plena glória.
Sentindo-me, por ti, tão bem amado,
Jogado nos arquivos da memória...

Trazendo em largos dias, tanta paz.
Vivendo o que queria ser vivido.
O quadro na parede, o sonho traz,
Sabendo que jamais vai esquecido...

Erguendo, das saudades, uma taça;
Num brinde de esperança pro futuro.
Não deixe, meu amor, bolor e traça;
Reacenda esse quadro tão escuro...

E vamos renascer, nosso presente,
Amor que sempre fora mais contente...



148

Dois filhos tão diversos; concebeu
Mater original: Abel, Caim,
Depois de ser expulsa do jardim,
Na inveja do mais velho, padeceu.

A mão de um assassino, fratricida,
Na fúria sem motivo; à traição
Tirando o bem maior de seu irmão
Caim rouba de Abel a própria vida.

E sendo, por castigo, deportado,
Saindo da presença de Jeová
Encontra em Nod aquela que será

A mãe de Henoc que ao ser assim gerado
Distante do Senhor não reconhece
A invocação de Nome feita em prece...


149

Dois corpos que se tocam, turbulências
Benditas num momento inesquecível.
A força da paixão, cruel, incrível
Não admitindo estranhas ingerências.

Jamais verás no amor incoerências,
Um sentimento assim, incorruptível
Cabendo sem limites o incabível
Fazendo ao Paraíso, diligências

Saltimbancos dos sonhos, passageiros
Alados da noturna maravilha.
Amores cultivados, verdadeiros

Espelhos de nós mesmos, carrosséis.
Seguindo pareados esta trilha
Dois loucos andarilhos, mas fiéis...
Marcos Loures


5150

Do sonho de te ter, determinado,
Reféns das emoções maravilhosas,
Depois de tantos erros, no passado,
Aprendo a cultivar perfeitas rosas,

E alçando este infinito, vou ao lado
Das asas deste amor, sempre formosas.
Depois de um rumo incerto, quase errado,
As horas vão passando gloriosas

E a voz que me ordenando, eu obedeço,
Imerso na paixão, não sei tropeço...
E sigo cada rastro desta senda,

Amor que em emoção tudo desvenda
Ao dar a solução aos meus problemas,
Aflora em meu cantar, felizes lemas.
Marcos Loures


151

Do sol que nasce até que a lua chegue,
Promessas radiantes são mentiras...
Nos braços permiti que o dia pegue.
As hóstias que comungo em vão atiras...

Preciso enfim achar quem me carregue
O peso de viver exige liras...
A nuvem vem e cobre, a vida segue.
O tempo se reparte em várias tiras...

Manhã que me deixaste, meu problema
Nas horas solitárias fiz meu verso...
A mansidão das águas, velho tema...

O sol se repartindo traz segredo.
Das torpes valentias do universo
O sol que vai brilhando me traz medo...
Marcos Loures



152

Do sol posso dizer que tem nos ventos
As duras tempestades, fogo intenso.
E nelas muitas vezes quando eu penso
Não posso adivinhar os seus intentos.

Porém a lua mostra por momentos
Um variar freqüente e tão imenso.
Por isso, minha amiga estou propenso
A crer que no correr dos sentimentos

O sol ao encontrar-se com a lua
Deitada esplendorosa, plena e nua
Decerto irá raiar felicidade.

Assim como no eclipse, eu te garanto
Que a terra se embebendo em tanto encanto
Receberá suprema claridade.


153

Do silêncio refaço cada passo
Por horizontes cegos e sem mar.
Carpindo o que me fora, descompasso
Quedando tanto tempo sem falar.
Do corte tão profundo adaga e aço,
O que resta de mim vou te mostrar...

Um cheiro de café refaz do medo
E lembra mãe e filhas tílias, roças.
O gosto da saudade meio azedo
Mostrando quantas lágrimas empoças,
Acordo novamente assim, bem cedo

E parto para o quando sem talvez,
Cadencias meus olhos... perco a vez...


154


Doces lagos; amores e poeta...
Fumaças e fogueiras, esperança!
Vida que em si mesma se completa
No amor, a prometida e bela dança.

Amar sem sofrimento é minha meta,
Repleta de verdades sem lembrança.
Curva determinada pela seta,
Asceta procurei virar criança...

No amor, a solidão é sobremesa;
Teus costumes e vícios, respeitei.
Quem brincava rainha da incerteza

Escadas das estrelas despencou...
Mal sabes o caminho desta grei
O sol da liberdade? Nem raiou...



155 Doce veneno em noite plena traz
Total insensatez, puro hedonismo,
A boca enternecida é mais voraz
Amor não se permite em egoísmo.

Lambendo nossas pernas, mar em ondas
As línguas desvendando tais fronteiras
Os dedos penetrando, loucas sondas,
Estrelas que guardei nas algibeiras

Redomas que rompemos vida afora
Resíduos de nós mesmos espalhados
Nos lumes e no brilho que decora
Espaços toda noite pesquisados.

Farturas entre fátuas esperanças,
Delícias que me dás enquanto alcanças...
Marcos Loures



156

Doce quimera que há tempos me rondando
Descreve em mansas faces, graciosas,
Perfumes soberanos, belas rosas,
E o vento tão suave, calmo e brando.

Aos olhos da esperança se mostrando,
Nas sendas mais sublimes e formosas,
Fugindo das tempestas belicosas
Um novo alvorecer vai se formando...

Assim sonhei em vão durante meses,
Pensara ser feliz, mesmo que, às vezes
As sombras retornavam. Quando esparsas

Matavam plenilúnios por instantes.
Dos passos que hoje sei, cambaleantes,
Apenas tão somente, duras farsas...
Marcos Loures



157

Doce manhã nascendo nas janelas...
Aberto o peito, porta e residência...
Os medos vão usando tais flanelas
Que embalde não me levam inocência...

Nos raios deste sol, cedo revelas,
O brilho que me trouxe essa aparência.
Num vendaval procuro mar e velas,
Nos olhos das montanhas, transparência...

Nas cores deste prisma matinal,
Regente natureza se embeleza.
É mágica serena e principal.

Deslinda-se manhã do meu desejo..
A vida certamente tanto preza,
Permite engalanada um puro beijo...
Marcos Loures


158



Do vinho, o delicado e bom buquê,
O mágico sorriso da menina
Que sabe dominar e desatina,
Sem ter nem perguntar como e por que.

Saber entre as estrelas, de você,
A fonte generosa, a doce mina,
Mudando num segundo a minha sina,
Beleza sem igual na qual se crê.

Folia, fogaréu, festa e reisado,
O velho coração apaixonado
Decifra os seus sinais, estrela guia.

Confirmo esta verdade a cada dia,
Vivendo a poesia do seu lado,
Clarão sobre esta noite vã, sombria...


159


Do vértice, meu salto, sem vertigem...
Nos cumes altaneiros, cordilheiras,
As buscas destruíram paisagem...
Pertuitos que s’abriram nas ribeiras,

Por onde se adentraram, corredeiras,
As mostras do que fomos, u’a visagem!
Os medos enxovalham as bandeiras,
Os tédios retiraram toda aragem...

Nas pedras que carcomo sou voraz,
Nas lutas que derroto meu fantasma,
A boca que semeia Satanás,

É a mesma que devora sangue e plasma,
As tocas que aprofundo sem ter pás,
As marcas que deixei-te d’um cloasma!


5160

Do vento que ora roça os teus cabelos,
Chamados para a noite em festas feita;
Deste amor, obsessão, quase que seita
Sentidos e juízos. Pra que tê-los?

Fantasmas que eu carrego, pesadelos,
Enquanto a poesia nos aleita,
Legando à solidão simples espreita.
Derretem-se as antigas neves, gelos...

Celebro sem pensar no descalabro
Que outrora dominara toda a cena.
As portas da emoção de novo eu abro,

Nem mesmo uma saudade me envenena.
Erráticos temores morrem parcos,
Momentos delirantes, novos marcos...
Marcos Loures



161

Do velho carcará sequer as penas,
O tempo vai mudando devagar,
A gente que namora quer apenas
Que ninguém possa enfim, incomodar.

Sonhando com as tardes mais serenas,
Não quero e nem preciso te contar
De estrelas que brilhando douram cenas
E mostram quão sublime é se entregar

Aos raios deste encanto que não cessa
Viver é muito além de uma promessa
Nas asas deste amor, a liberdade.

Não quero nem ter gota de juízo,
Nos olhos deste encanto eu me matizo,
Seguindo a cada passo, claridade...


162

Do teu caminho conheci segredo
Dos mansos passos luzes, brilhos, paz...
Penas que foste embora logo cedo,
Deixando apenas a lembrança audaz

De uma guerreira impávida, sem medo.
Tanta tristeza minha noite traz!
Na vida eu merecia um outro enredo.
Será que prosseguir, eu sou capaz?

Pois quando enfim chegar o triste inverno,
O coração vazio, quieto e triste.
Amor que merecia ser eterno;

Jóia entre tantas jóias, a mais rara,
À dor da punhalada não resiste
A ausência deste amor que se foi, Iara...



163

Do sonho que se mostra por inteiro
Apenas os detalhes; não recordo,
Seguindo teu perfume, em cada cheiro
Amor vai penetrando e sobe a bordo.
Do barco imaginário e derradeiro,
Nos braços de quem amo; agora acordo.

E vejo que em verdade eu sou feliz,
Não quero e nem consigo disfarçar,
Amor vem clareando um céu tão cris
Derrama sobre nós belo luar.
Do quanto que te quero e peço bis,
Jamais me cansarei, enfim de amar...

Ao ver as folhas secas pelo chão,
Do outono que entranhei, colho o verão...
Marcos Loures



164

Do quase que doía e não dói mais
O prazo terminando, sigo em frente
Erguendo-me diante os vendavais
O amor bateu, correu, se fez descrente.

Os versos que escrevi foram boçais,
Mas nada do que sonho faz contente
Quem tenta e recomeça sem jamais
Fazer o mesmo trilho novamente.

Atalhos procurando, chego a ti,
Arranco cada espinho. Sou sarcástico.
O riso que não quero, este de plástico

Às vezes vem de lá, outras daqui.
Matuto coração apaixonado,
Durante tanto tempo, abandonado...
Marcos Loures


165

Do quanto que me adora mente e jura,
Mas deixa o coração em plena festa;
Na boca que me beija sem tortura
A sorte que se quer e já se empresta.

Colado em tua pele, tatuagem
Vencendo a tempestade que virá
Areia movediça dá coragem
Desejo sempre e tanto desde já.

Saltando sobre colchas de retalho
Bacante se mostrando toda nua,
O grito em fogo intenso; eu logo espalho
E o tempo de sonhar se perpetua.

Serpentes que te entranham e te rabiscam
Desejos e prazeres se confiscam...
Marcos Loures


166

Do quanto nosso amor mal resolvido
Pudesse transformar pedra em carinho.
O quase com certeza e não duvido
Demonstra este vazio em que me alinho.

Teria com vagar um novo ninho
Se o verso fosse ao menos dividido,
As cordas arrebentam-se do pinho,
E o vento vem bater em meu ouvido

Falando do que foste e não teimaste,
Amor quando se mostra em tal desgaste
Maltrata com vigor ingênuo peito.

Mas sei ser minha culpa, nada mais,
Usando subterfúgios tão banais
Os erros que cometo; sempre aceito...
Marcos Loures


167




Do quanto em dividendos nós teríamos
Arfantes madrugadas? Quero bis.
Desejo pelo qual nos debatíamos
Explícita vontade que mais quis.

Folguedos e armadilhas; traz o amor.
Decola e num segundo já nos trai.
Cuidado, companheiro, com o andor,
Que a casa é muito frágil, logo cai.

Dos sonhos de menino, trago ainda,
A bela que pensava adormecida,
Ou mesmo a Cinderela pobre e linda,
Mudando de cenário, a minha vida

Mostrou que, no final, morro burguês,
Prazer? Quando demais, é um por mês...


168


Do quanto é mavioso o meu jardim
Em pétalas diversas, coloridas,
Recebo o benfazejo vento em mim,
E as horas sempre passam distraídas.

As cordas se rompendo até o fim,
Farturas em palavras decididas,
Nas cores tão diversas, vou assim,
Somando as nossas contas divididas.

E esboças num sorriso com fartura,
Um gesto em sincronia, uma ternura,
Fazendo com que a vida, enfim, se arrume.

No cume deste olhar tão emblemático,
O gozo do prazer cego e temático
Adentra o infinito em teu perfume.
Marcos Loures


169

Do quanto amor é nosso; raro emblema
Que mostra a perfeição de um sentir puro.
Rompendo com vigor qualquer algema
Nos braços deste sonho eu me depuro.

A rosa que adentrara na janela.
Modinha que o poeta deslindou
Perfume que eu roubei da moça bela
Durante tanto tempo me entranhou.

Do quanto eu te agradeço Bittencourt
Toda a ternura feita em melodia,
No lusco fusco abaixo este abajur
E a noite vai singrando em poesia.

O sonho pequenino se agiganta
Minha alma enamorada, agora canta...

em homenagem a SÉRGIO BITTENCOURT, CITAÇÃO DE MODINHA


5170


Do porco que comi larva terrível,
Passeia no meu corpo e quer regaço.
O jeito é conviver com dor incrível
Que trago no pulmão. Não me desfaço

Do verme como praga inconcebível
Figura que me mata de cansaço.
Não posso acreditar, mas é tangível
Mantenho desde sempre estreito laço.

Se fosse solitária, tudo bem.
A tênia que carrego agora tem
Mania de grandeza. Que destino!

Comendo como um boi não me sacio,
Sem seca, temporal, inverno estio,
A peste dominou meu intestino!
Marcos Loures


171


Do pico da Bandeira, o coronel
Olhando para os servos idiotas,
Abrindo deste inferno tais compotas
Achando assim divino, o seu papel.

Arrota sobre o povo, rasga o véu
E toma em suas mãos as pobres rotas
Daqueles que buscando suas cotas,
Suportam a cangalha tão cruel.

Os olhos sanguinários deste demo,
Que impera e com certeza nunca temo,
Arreganhados cevam servidão

Balburdia balbucia-se calada
A gente pequenina amordaçada
Entregues ao chicote do leão...



172


Do peito que em tempestas já soçobra
Uma expressão terrível quase agônica
O quanto fui feliz agora cobra
A sorte em nova face arquitetônica.

A tônica do amor repetitivo,
Expressão nefasta agora trama.
Do quanto que já fui de ti, cativo,
A melodia amarga os tons e exclama.

Descendo pelos ralos, esperança,
Esgota-se no mangue da ilusão.
Esgotos e sarjetas, nova dança
Mudando ao fim da noite, este refrão...

Minha alma desdenhada e carcomida,
Nas mãos a fantasia apodrecida...
Marcos Loures



173


Do pecado e veneno que bebemos
Em versos e delírios sem limites
Espelhos onde sempre nós nos vemos
Reféns de outras loucuras e palpites.

Não quero nem impeço que acredites
No fogo deste inferno que teremos
Nem sinto nem desejo que limites
As hóstias que não temos nem comemos.

Só falo deste amor, santo consórcio,
Que é feito de ternura imensidade,
Embora no passado, o meu divórcio,

Demonstre para a falsa santidade
Pecado que envenena quem não ama
Matando em nascedouro a vida, a chama..


Em homenagem ao Papa Bento XVI


174

Do sertão das Gerais trago a saudade
Fazendo madrigais, louvando a lua,
A luminosidade continua
Porém ficou distante a claridade.

Nos portos de um amor pura verdade
Lacustres esperanças, terra nua,
Imagem que se fez em veleidade
Saudade com a noite compactua.

Do sertão destas Minas, meu tesouro,
Na cabocla serena uma malícia
Das bocas esfaimadas, a carícia,

Dos sonhos um perfeito ancoradouro,
Mineiramente chega à minha porta
Saudade mansamente; fundo, corta...


175

Do riso de ironia, o sofrimento
No altar que se professa incandescência
A boca que se oferta em penitência
Transforma qualquer beijo em excremento.

Nos braços deste sonho eu me arrebento
E entranho o que pensara previdência,
A morte em mais sublime providência
Explode em fogo fátuo e violento.

A pele se desfaz; velha carniça
Amor qual fora areia movediça
Em claras ventanias furiosas,

As mãos da fantasia que se frustra
A podridão eterna assim se ilustra,
Nas tramas deste amor, impiedosas...
Marcos Loures



176


Do que talvez pensara ser um fim,
O pleno recomeço desta história.
Seja em Nairóbi, Roma, até Pequim,
A lua tem seus quês de merencória

Convida pro vermute e para o gim,
Perdendo assim a linha divisória
Já não me importa mais por onde vim,
A porta se quebrou, sobrou escória.

Bicudas no lirismo: mato a lua
Moleca que se entrega e continua
Fazendo dos românticos: reféns.

Eu sigo os rastros tolos que deixaste
Que nos condenam sempre a tal desgaste
Não deixam nem mais sombras de onde vens...
Marcos Loures



177

Do micro ao macrocosmos, viajando
Paisagens repetidas; tenho visto,
E nisso e só por isto, sei que existo,
Sabendo desde sempre como e quando.

Retrato insofismável, mesmo brando,
Das tantas expressões que agora listo,
Nós somos vida e morte, um ser que é misto
Não nato, tão apenas transformando

Os átomos que existem no universo
Bem antes de existirmos, água e sal.
Do pó que fomos feitos, tão diverso

Ao mar que dentro do útero carrega
À morte sobre a terra, a pá de cal,
Eterno ressurgir do ínfimo ao mega.



178

Do meu verso piegas fiz o rancho
Aonde poderia te esconder.
O velho coração deveras ancho
Esgota toda fonte de prazer.

Fazendo da emoção a guardiã
Que toma os meus segredos e me salva,
A lua dos meus sonhos amanhã
Virá bem mais bonita imensa e alva.

Saber do doce beijo da mulher
Que o peito enamorado busca e quer,
Macias suas mãos, olhos anis...

Rasgando qual Vinícius rasgaria
O velho coração já se inebria
Medonha fantasia faz feliz...


179


Do menino que fui ainda resta
O sorriso que teima em persistir.
Por mais que a vida mostre-se funesta
Uma esperança doura o meu porvir.

Sem nada que hoje possa destruir
Criança que resiste agora atesta
Sabendo cada passo conduzir
Vencendo os mil perigos da floresta

Das dores e dos medos, desencantos
Espalho pelas ruas os meus cantos
E neles permaneço em franca luz.

Vertendo uma alegria em meu olhar
Buscando em mansidão poder levar
Mais leve, a cada dia, a minha cruz...
Marcos Loures



5180

Do menino que fomos; nada trago,
Perecem os meus sonhos, fantasias.
A vida se mostrando sem afago,
As noites, madrugadas, são sombrias.

Quem dera a placidez tomando o lago
Aonde voam livres, poesias,
Porém tanta aridez de um mundo vago,
Professa sob o sol, palavras frias.

As ânsias de uma vida bem melhor,
Que tanto delirei que sei de cor,
Sucumbem à verdade mais tenaz.

Quem tanto desejou; nada consegue,
Sem ter uma alegria que inda regue,
A seca sem remédio, a vida traz...


5181



Do mel de tua boca eu sempre quero
Voraz, calmo, sereno, audaz... Perfeito.
Sentindo o teu perfume quando deito
Encontro a maravilha que eu espero.

A vida traz um vento às vezes fero,
Mas quando em regozijo eu me deleito
Aguardo que tu venhas ao meu leito,
Assim nesta alegria/amor prospero.

As roupas pelo chão são testemunhas,
Dos sonhos que comigo tu compunhas
Em ritos desejados e carnais.

Destino feito em êxtase divino,
Contigo meu amor eu me alucino
Querendo toda noite sempre mais...



182

Do paraíso em vida eu me avizinho
Sabendo que encontrei felicidade,
Bebendo cada gota deste vinho,
Encontro finalmente a liberdade.

No colo de quem amo eu já me aninho
Deixando para trás a falsidade
Mudando claramente o meu caminho
Eu sinto ser possível claridade.

Mantendo o passo firme, inexorável,
Imerso em fantasia demonstrável
A cada novo dia a dor se esquece.

Apenas lamentando a dura sorte
Que traz no peito amargo e já sem norte
Quem pensa que em amor, cedo padece



183


Do pão que sobrou faça uma mironga,
Assim como do amor eu fiz saudade.
Nos pés deste menino, o velho Conga
Nos olhos do senhor, ansiedade...

Não quero mais olhar de songamonga
Tampouco algum sinal de falsidade.
Ouvindo tão distante uma milonga
Dançando o sentimento, na inverdade.

Sem ter o que dizer de nosso caso
Que chega finalmente ao seu ocaso
No decurso de prazo, se esvaiu.

Na colcha de retalhos que nós fomos
Saudade enaltecendo raros gomos,
De um jeito bem mais nobre e mais gentil...
Marcos Loures


184


Do outono que entranhei, colho o verão
E dele cada fruto em meu quintal.
As aves vão voltando em migração
As roupas vão secando no varal
Por mais que venha agora outra estação
O ritmo deste amor é sempre igual.

Usufruindo sempre deste fogo,
Amor me fortalece e me conquista,
Vibrando tão somente no teu jogo,
A praia do meu barco já se avista
E vendo este farol vou desde logo
Querer do amor bem mais que algum turista.

Não posso resistir à tentação,
Do fogaréu intenso, este vulcão...


185


Do nada que trouxeste; tudo levas;
Deixando para trás o que plantamos,
Distante da emoção que desfrutamos,
Apenas as tristezas sei que cevas.

Por mais que tantas vezes sei que nevas
Quebrando do arvoredo tantos ramos,
Eu sei que na verdade já tentamos
Fugir das solidões, amargas cevas.

A culpa, na verdade está comigo,
Um velho condenado ao desabrigo
Não tem como saber de um manso cais.

A sina deste insano sonhador,
A cada novo dia vem compor
O fato de ter sempre este jamais.


186

Do jeito que pensei e sempre quis
Fazendo das palavras, canivetes
Ao vaso já quebrado me arremetes,
Enquanto a esperança é meretriz.

O quanto necessito ter um bis,
Esconde sob a manga tais confetes
O som que mal ouvindo, tu repetes
Não deixa um ser humano ser feliz.

A lua do sertão, a linda flor
Os riscos costumeiros de quem sonha,
Não tenho mais juízo, o destemor

Arranca qualquer medo do meu peito.
Sem ter montanha, morro de vergonha,
Mas tendo-te ao meu lado. Satisfeito...
Marcos Loures


187

Do gozo faço a minha adubação
Colhendo as flores belas do futuro,
O quanto que se mostra mais escuro
É tudo o que preciso: tentação.

Na ação já tresloucada, a sedução
Que farta; não concebe sequer muro,
Do fogo em explosão eu já em curo,
Negando o meu adeus, arribação.

O prazo de viver não se conhece,
Sequer o quanto temos pela frente,
Por isso não se esqueça de repente

Do quanto a vida, enfim, nos oferece,
Na boca delicada, carmesim,
Recolho o teu perfume de jasmim...
Marcos Loures


188


Do fogaréu intenso, este vulcão
Trazendo o teu sorriso tão ardente,
Promessa calorosa de um verão
No quanto te desejo, amor se sente.
Atenda ao meu chamado, coração
E venha me fazer, bem mais contente.

Somando nossos corpos, infinitos
Expondo num momento o paraíso.
Usando dos prazeres, nossos ritos
Permitem um caminho mais preciso.
Os dias do teu lado são bonitos
Expressam fielmente este sorriso.

Agora que encontrei felicidade
Eu sinto a cada dia mais saudade...
Marcos Loures


189


Do dourado tão límpido que trazes
Neste olhar que me encanta qual farol
Lunar que não disfarça suas fases
E brilha neste astral bem mais que o sol;

Eu quero tal tesouro no momento
Mais feliz que percebo em minha vida
Acostumada a todo sofrimento
Que faz com que esta luz seja querida.

A sorte me enganara em tantas duras
Ilusões. Percebendo o teu olhar
Deslumbrando essas noites tão escuras
Incendiando as águas do meu mar,

Estou agradecido só por essa
Sorte que me deste, amor à beça...


5190

Do corpo mais perfeito e sensual
Vislumbra o coração com mais verdade
Embora seja vária a realidade
Eu teimo na viagem triunfal

No beijo e no carinho ritual
Percebo a mais sublime liberdade
Matando pouco a pouco uma saudade
Do amor eu faço um traço casual.

Amar-te em tal insânia, simplesmente
Não tendo qualquer forma de cobrança
Em ti eu mergulhando plenamente

Não vejo mais fronteiras, somos um.
Amor não se divide em modo algum,
Em ti encontro a minha semelhança...
Marcos Loures


191

Do corpo de quem amo, eu sou grileiro,
Vasculho cada ponto, sequioso.
Sentindo dos desejos cada cheiro,
Invado na procura deste gozo.

Permita que me faça teu posseiro,
Vivenciando o sonho mavioso,
De ser de quem mais quero por inteiro,
Trabalho mais audaz, meticuloso.

Preâmbulos, deixemos pra depois,
Matemos a vontade de nós dois,
Sem medo, sem juízo e sem pudor.

Os rios que se encontram, mesma foz,
Traduzem o que somos, fortes nós,
Atados pelas tramas deste amor...
Marcos Loures



192


Do mármore a dureza delicada.
Esculpis uma estátua majestosa.
Eriges com firmeza engalanada
De forma tão sutil, maravilhosa.

Estátua dedicada ao deus do amor
E feita com total dedicação.
Amada como é bom o teu pendor,
Em cada talhe mostras perfeição.

Assim como brindamos sem temores
Nas horas que restamos mais sozinhos.
Deixando que se morram os pudores,
Usamos um cinzel pleno em carinhos...

Louvamos deste jeito a divindade,
Vasta sofreguidão, lubricidade...


193


Do mar o belo marulho,
Nos olhos da cobra verde
Meu peito carrega entulho
Quero descanso na rede

Da vida, tanto barulho
P’ra nada. Nunca mais hei de
Tentar um novo mergulho.
Água me basta p’ra sede!

Basta de tantas mentiras
Nunca mais me diga nada
Coração? Deixaste em tiras!

Minha voz anda cansada
De tanto destilar liras
Deixadas por minha amada!
Marcos Loures


194


Do mar malicioso este ciúme
Que toma o coração apaixonado,
Lambendo tuas pernas... Azedume
Me tomando, deixando-me de lado.

Sentindo o teu sabor e teu perfume
O mar vai se tomando, extasiado,
Bem mais forte nas ondas que o costume,
E todo o litoral 'stá ressacado...

Eu vejo toda a cena, enraivecido.
Quem dera ter ventura do oceano...
Aos poucos, me sentindo mais vencido

Retiro-me da praia. De repente
Ouvindo a tua voz, mudo de plano,
Mergulho em teus carinhos, totalmente...


195

Do lixo que surgi não mais carrego
Senão a fedentina que te trago.
O passo sem sentido morre cego,
A louca serventia de uma afago...

Quem dera a mansidão de rio ou lago,
Não posso, mas teimoso inda navego,
Bebendo a poesia em cada bago
Às tontas maresias eu me entrego.

E vibro com prazeres mais discretos,
Embora sobre a tenda sei concretos
A casa não suporta um terremoto.

O gesto da milícia aterroriza
Enquanto não sobrar sequer a brisa
O amor fica distante, vão, remoto...
Marcos Loures


196


Do lado que me cabe desta rua

Não há sequer no mundo que convença

Minha alma a desistir, e continua

Até que meu desejo enfim te vença.



As horas se passando, são eternas,

Os raios do luar, te possuindo...

Quisera ser um deles nestas pernas



Marcando de prazer minha morena

Distante, bem distante vou pedindo,

Abra as portas; te juro... Vale a pena!
Marcos Loures


197


Do lado ocidental, fétido lixo...
Das marcas das torturas sem sentido.
As trevas são restolhos, olho fixo.
A fome esmiuçada, sem partido..

O canto de teu povo, mais prolixo,
Traduz a velha forma dum olvido.
Nas paredes do peito, logo afixo
Cartaz, mensagem ,texto nunca lido!

Escuto nas canções tantas derrotas
Destinos se cruzando, tontas rotas,
As vozes que te cantam se esmorecem...

Do lado acidental vidas padecem...
Esperanças transitam noutras cotas;
Do lixo ocidental, as flores crescem!



198


Do labirinto imenso, é a saída
Amor que nos transforma em poesia.
Tomando nossa sorte em harmonia,
Esquece toda a dor da despedida.

A mão que me acarinha traz a vida
A quem não mais pensava em alegria.
É tudo como em sonho eu mais queria,
Tua presença amiga e tão querida.

Vagando por teu corpo, lua e estrela,
Rainha dos meus versos, sedução.
Eu necessito e sempre quero tê-la

No acorde delicado da canção
Que fale deste amor tão verdadeiro,
Guia dos meus desejos, feiticeiro...


199

Do jeito que pudesse não valia
Se a cria não se cria nem faz festa.
Amor quando se dá em revelia
Incêndio declarado na floresta.

Em favos vou bebendo a fantasia
E nada depois disso, ainda resta,
O mar que não me deu Marta ou Maria
Em ondas tão diversas desembesta.

Cantando por cantar apenas isso,
Do mágico momento o teu feitiço
Fez tudo pra que a gente inda sonhasse.

Meu coração não passa de um babaca
Amor quando teimoso sempre empaca
Mostrando em ironia uma outra face...
Marcos Loures


5200

Do barco que se foi, dura inclemência
Tornando este cenário mais sombrio.
O amor se disfarçando em penitência,
Inverna num segundo todo o estio.

Tomado pelas mãos de uma demência,
Um tempo mais feliz não fantasio,
O gozo emoldurando esta excrescência
Das farpas e das grades, mortes fio.

Buscando uma anuência da ilusão,
Vertendo em tantas lágrimas meu Norte,
Apenas aguardando o fundo corte

Que trama num silêncio, a solidão,
Espero, finalmente o salto, o bote
Cravado no meu sonho até que esgote...
Marcos Loures
 
Autor
MARCOSLOURES
 
Texto
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