-I-
Ante o concerto divino,
no Espaço-Tempo, sem fim,
vejo-me tão pequenino
que sinto pena de mim...
-II-
Junto ao vazio esplendor
do mausoléu de um suicida,
numa cova rasa, em flor,
leio o epigrama da vida.
-III-
Morrer não seduz aos fortes.
Se sofres, pára e reflete.
E tanto quanto o suportes
leva a cruz que te compete!
-IV-
Nossa vida a Deus pertence.
Manter-se vivo é um dever.
Se ilude quem fale ou pense
que tem direito a morrer.
-V-
Crê em Deus. Em Deus espera,
não te furtes de lutar!
Deus deu-te a vida. Pondera:
que mais não te pode dar?
-VI-
Apaga-se um sol no espaço
e já um outro reluz.
É a vida, no seu compasso,
A vida jorrando a flux!
-VII-
“Esperar!” - Lição divina
que o céu bem sabe exprimir:
Num extremo o sol declina,
no outro irá ressurgir.
-VIII-
Escuta, amigo, este aviso:
- Foge aos horrores do ópio!
Ninguém faz, em são juízo,
Experiência em si próprio.
-IX-
Não imagines tragédias.
Poupa-te desses delírios!
Quem ama suporta e vence
os mais atrozes martírios!
-X-
- Pena de morte? – Sou contra!
Nada há que a legitime.
É um paradoxo, uma afronta:
Um crime como o outro crime!
-XI-
- Barra a idéia do suicídio.
Sorve a taça do teu fel!
O mundo não é um presídio.
Olha os pássaros no céu...
-XII-
Porque sai batendo as portas
do mundo e execrando a vida,
Um mundo de coisas mortas
abre as portas ao suicida.
(Trovas de Sersank, parte integrante do livro "Estado de Espírito")