SOLILÓQUIO

sabe, sérgio, um dos melhores amigos que eu tive era aí do paraná - o leminski. uma turma acima de mim, no são bento, aqui em são paulo. de certa forma, eu ajudei a matá-lo de cirrose: bebíamos juntos.

j.

Rapaz, nem me fale!
Eu já imaginava isso. O Leminski é muito admirado nos meios culturais do Paraná, hoje em dia. Mas vc sabe que naquela época não era bem assim. O reconhecimento veio, em parte, e bem depois...
Lembro-me de ter lido, à época, uma resposta dele ao questionamento do Caetano Velozo, que o visitava em Curitiba, pra gravar uma letra dele. O famoso compositor ficou impressionado com tantos litros de Vodka vazios, num canto do apartamento. E teria dito ao poeta:
- Paulo, pare de beber.
Ao que o poeta retrucou, sem pestanejar:
- Pare de parar, Caetano!
Eu também sou meio "Leminski" (talvez como você): quase sempre escrevo com um copo de wisky na mão.
Acho que é "mal do ofício".
Meu abração,
Sergio

A filha dele,Estrela, é minha amiga. Ela também é poeta. Mas a ex-mulher dele, a poeta Alice Ruiz não olha na minha cara, por conta de um artigo que escrevi - reconheço que fui maldoso - insinuando que ele, Paulo, escrevia pra ela, o que não era verdade. A Estrelinha aceitou as desculpas, mas a Alice - não. Nunca mais falou comigo.

Interessante... Ainda não se escrteveu tudo sobre o Leminski e, certamente, vc teria coisas importantes a acrescentar.
Eu, confesso, não conheço com profundidade, por mais impressionante, a história de vida do Leminski.
Mas, me parece que ele e sua companheira Alice estavam há algum tempo separados quando ele partiu... Deviam ter problemas (sérios) de relacionamento...
Se vc partisse pra esse lado, talvez teria sido pior. Ela o teria esconjurado literalmente. (rs rs rs).
Abraço,
Sergio

Há uma biografia excelente do Paulo, escrita pelo jornalista Toninho Vaz, que também era amigo dele: O Bandido que sabia Latim é o título. E sabia mesmo, como sabia grego. Eu me lembro dele no São Bento, aqui em São Paulo, onde fomos internos juntos. Ele estava numa turma acima de mim. Não saía da biblioteca. Foi expulso porque colecionava embaixo do colchão revistas de sacanagem. Mas era um gênio.

j

Me lembro de ter lido algures sobre essa biografia escrita pelo Toninho Vaz. Vou ver se consigo encontrá-la na "Estante Virtual" (Sebo Literário).
Júlio, vc se coloca como um admirador do Leminski ( e também o sou), mas continue mourejando na seara da poesia e brindando-nos também (como ele estaria fazendo ainda) com suas excelentes composições, viu?
E quanto às "memórias" do tempo em que ele esteve ai no Rio e de sua convivênvia com o notável poeta, espero que vc converta as em livro também.
O Brasil não é apenas país de poucos leitores. É uma nação de poucos escritores... E os "bons" são ainda mais raros...
É um estímulo?
Sim, você merece.
"Virá o dia em que tudo o que diga seja poesia"
Abraço,
Sergio

você, me fazendo lembrar do paulo, me traz coisas que eu não lembrava mais. e dão saudade: ele não tinha carteira de identidade, por exemplo. quem recebia por ele, quando trabalhamos na band, era a alice. só não foi enterrado como indigente por não ter documento, porque o jaime lerner, governador do paraná, gostava dele e deu um jeito em tudo. fez até uma pedreira em curitiba com o nome dele. cheguei a beber com o paulo conhaque dreher, que é um veneno, às oito da manhã. de fato, quando ele ficou mal do fígado a alice já não estava mais com ele, mas não largou dele um minuto. ela o amava, mas não aguentou a barra e as bebedeiras com duas filhas, a estrela e a áurea, pra criar. paulo era um gênio, mas totalmente irresponsável. às dez da manhã de porre.

Ficaria te ouvindo (ou lendo), por horas a fio, Julio. Tens, mesmo, muito a dizer sobre o Leminski e coisas, assim, correlatas. Ele, apesar das críticas, bebia muito mas escrevia com uma sobriedade de fazer inveja aos mais eruditos abstêmios, não é mesmo?
Ele dizia que "escrever é pensar. Quem pensa mal, escreve mal".
Era realmente um gênio, orgulho das letras do meu Paraná.
Abraço,
Sergio Sersank

mas no seu paraná também é fantástico o dalton trevisan.