Saíram da terra prometendo retornar,
Sem nunca se virar, foram para a França.
Não tinham nada nos bolsos nem na pança,
Apenas a ilusão de ricos se tornar.
Quando chegaram ao destino, tamanha
Foi a decepção que a saudade os invadiu.
Povo maltratado, tratado de vadio,
Trabalhaste duro e não caíste na manha.
Alojados em sujos bairros de lata,
Sem água, sem luz, sem sequer segurança,
Rezavam à Deus com aquela esperança
Que caracteriza quem a dor não mata.
Com o fruto do labor saíram da condição
De escravos para serem livres de escolha.
O homem podia ser mecânico ou trolha,
O que importava era fugir à maldição.
Os anos passaram e os filhos nasceram
Num meio confortável, de nada lhes faltou.
O pai conta como a fronteira ele saltou
E como viu o amor pela mãe crescer.
Agora podem voltar todos os Verões
Para familiares e amigos abraçar,
Defuntos, velhos e doentes visitar;
Recordar o rico passado nos serões.
Cada ano sabe a pouco, não dura nada.
Na hora do regresso o coração aperta,
Deixa todo o ano uma ferida aberta
Que não pode curar nenhuma pomada.
Chegam a fronteira começando a recordar
A primeira vez que saíram de Portugal,
A terra, a fome e o passaporte ilegal.
Mais uma vez, comprometem-se em retornar.
Dedico os meus melhores versos aos meus pais e a todo a comunidade emigrante onde quer que esteja. Alguns só sentem desprezo por vós mas acho que vocês são o nosso maior orgulho. Fui emigrante, e de coração, emigrante sempre serei.