TENHO UM QUÊ DE ATOR

TENHO UM QUÊ DE ATOR

Ontem fui ao teatro. Ao sair de lá fui a um café pensar umas besteiras. E os atores hein? Benditos farsolas das emoções... Não sentiriam o que se permitem sentir, não fossem atores. Ator é um finório mentiroso que não tem pudor de ser mentiroso; aliás, sua principal virtude... Mente ora para si próprio, ora para os outros, e, ao mais do tempo, para ambos. O talento interpretativo para mais ou para menos reside na capacidade de não ter receio de se expor a um incalculável ridículo, já que todo expectador sabe em seu íntimo da deslavada mentira a que assiste, sendo que avaliará em melhor conta sempre aquele ator que mente melhor... Os que me ouvem a falar isso, afirmam, com total razão que a observação, esta sim, é absurdamente ridícula... Isso não me comove: a verdade dita também é, geralmente, ainda mais ridícula e incrível do que a ficção. Não que esta aqui seja comprovadamente uma das duas. Mas fica-me nítido ao escrever este texto que tenho um quê de ator.