Poemas : 

Divagações sob uma folha branca

 
 

Soubera eu
Ser poeta
Ou poetisa
Como também se diz

E não me desolaria tanto
Com o branco
Desta folha nua...

Talvez escrevesse sonhos
Desejos
Magias
Segredos
Ou degredos
Que por vezes
Me povoam
Os pensamentos
E me adornam os dias
Até os mais cinzentos

Porém...
Não sou capaz!

A poesia
É dos que a transpiram
Que a fazem sua
Nas madrugadas claras
E caladas
Sejam Verões quentes
Ou Invernos chuvosos e frios
Não importa muito...
O que importa sim
É o acto em si
Em que o poeta e sua amante
Se embrenham um no outro
E se entranham
Consumando aquilo que alguns apontam
Como um acto ilícito
Mas que importa isso?!
Se eles o fazem
Ali mesmo
Sem pejo
Nem preconceitos
Sem testemunhas
Que os incriminem!...

Não...!
Desenganem-se aqueles
Que a pensam sua
Só porque a roubaram dos outros
Os desacautelados
Que a deixaram ao abandono
Num qualquer algures
Mas que a reconhecem de imediato
Mesmo que vestida de outra cor
Que não aquela com que a deixaram
E que a sabem sua
Para todo o sempre
Esteja ela onde estiver!

Mas também não é daqueles
Que a desprezam
Com crueza
Com frieza
E arrogância
Logo após a serventia
Qual prostituta barata
Da antiga rua direita
Da cidade de Coimbra...

E com tudo isto
Só agora reparei
Que me enrolei
No fio da meada
Que me trouxe até aqui

Foi já tanto
O quanto divaguei
Que me esqueci
E já não sei
Ao que realmente vim!

Ah! Já sei!
Dizia eu...
Que talvez escrevesse sonhos
Desejos
Magias
Segredos
Ou degredos
Mas porque será que não consigo
Derramar nesta simples folha
Tudo isso?!
Fogem-me as letras
Das palavras doces
E fico sem saber
Como as escrever...
Por isso
Fico-me com a raiva
Presa ao que não escrevo
E ao azedo
Do arroto que me saiu sem querer

E fito a folha
Que me sorri com desdém
E que continua aqui
Bem diante de mim
Assim... despida...
Sem vergonha
Nem culpa
Visto que essa
Essa...
É só minha!





Nota: Este poema foi postado por mim aqui pela 1ª vez aqui em 11-03-2009 e faz parte do meu livro - In Pulsos - editado no mesmo ano.
O vídeo é um trabalho da nossa colega e amiga Vóny Ferreira, a quem renovo os meus sinceros agradecimentos!


*... vivo na renovação dos sentidos, junto da antiguidade das lembranças, em frente das emoções...»

Impulsos

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cleo
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Enviado por Tópico
VónyFerreira
Publicado: 24/10/2011 13:48  Atualizado: 24/10/2011 13:48
Membro de honra
Usuário desde: 14/05/2008
Localidade: Leiria
Mensagens: 10301
 Re: Divagações sob uma folha branca
Este é seguramente um dos poemas mais belos que li neste site. Apenas emprestei a minha voz a palavras tão encantadores e reveladores da enorme sensibilidade poética que tens, Cleo.
Beijinho e obrigada eu por me teres permitido que o lesse.
óny Ferreira

Enviado por Tópico
José.Rui
Publicado: 24/10/2011 14:24  Atualizado: 24/10/2011 14:24
Participativo
Usuário desde: 18/10/2011
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Mensagens: 27
 Re: Divagações sob uma folha branca
Ufa!
Belíssimo!

A poeta (ou o sujeito poético) diz que "fogem-me as letras das palavras doces" - e que importa isso quando neste rol de amargas palavras se consegue sentir a ternura? (ou o doce).

Adorei ler!

Muitas vezes lemos poemas carregados dessas ditas "palavras doces" e o resultado é insípido, monótono, nem doce nem amargo, sem-sabor: nada!

Porque as palavras não saem - simplesmente são coladas, retocadas, "photoshopadas", enfim.

Eu lamento ter de dizer o seguinte mas, não consigo ser desonesto comigo mesmo: não gostei da declamação apresentada pela Poeta VonyFerreira, talvez pela má qualidade do som, não sei mas, faltou-lhe força!

Um abraço.


Enviado por Tópico
freitas.antero
Publicado: 27/10/2011 17:14  Atualizado: 27/10/2011 17:14
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 Re: Divagações sob uma folha branca
Cinco Estrelas, das grandes!

Cleo, você sabe como gosto de a ler, esta simplicidade com que escreve consegue transmitirmos uma força enorme. E como disse, não precisa "das palavras doces" ou apimentadas, elas adoçam-se ou apimentam-se por elas mesmas assim que as lemos.

Excelente.

Um beijo.

Enviado por Tópico
cleo
Publicado: 28/10/2011 10:44  Atualizado: 28/10/2011 10:44
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Mensagens: 3731
 Re: Divagações sob uma folha branca/Para todos os que leram e comentaram
A minha felicidade faz-se destas pequenas coisas.
Saber que é do agrado de quem lê, aquilo que se escreve com alma.

Muito e muito obrigado a todos!