Crónicas : 

A Dama das Tulipas.

 
Tags:  amor    romance  
 
Ele era apenas um amigo, um amigo de um amigo. E eu acreditava que o seria sempre. Acreditava que numa sexta-feira do fim de junho, ele viria pegar emprestado meu ombro e chorar dores de um amor-naufrágio. Mas ele mudou o rumo de tudo, ele me mudou. E ao invés de se lamentar, tocou meus lábios com os seus, no fim de junho. Ele fora o cessar da primavera onde não havia jardim para recebê-la. Nunca fui apta para romances, para amar. Até porque essa história de amor, nunca me pareceu muito verídica. — Como eu iria sair por aí proclamando que amo fulano, se eu nunca tivesse tido conhecimento do amor? Se eu nunca o tivesse visto em filmes, músicas e afins? Amor mais me parece uma utopia empírica, criada sabe-se lá pra quê. Não digo que não existe, mas é algo bonito e puro demais para ser usado por meros mortais. Não é aquele vestido que quando novo, uso diariamente e depois que o desgasto encondo-o no fundo do armário, caso sinta vontade de usá-lo novamente numa outra estação. Atração, paixão, compaixão, desejo, necessidade, empatia… E outros vários sentimentos que se confundem com amor na cabeça de quem os sente. O que aconteceu naqueles três anos foi algo forte e arrebatador. Um romance digno para alguém, digno para mim, mas não sei se foi amor e nunca o saberei. Sempre fomos amantes em apuros, alicerçados num ‘talvez’ eterno. Moços me cortejavam com frequência considerável, queriam relações certas, na linha reta. E por mais que tantos me julgassem tonta por não os aceitar, havia algo em mim que não se agradava com aquilo. Esse Bastião nunca teve nada demais. Era moço simples, mas requintado. Tão imprevisível, tão misterioso. E afinal, o que seria de um homem sem seus mistérios? Fraco, na melhor das hipóteses. Ele tinha um silêncio que irritava tanto quanto sua algazarra. Nunca soube o que me fez necessitar tanto daquele moço, mas sei que as tulipas me agradavam.

 
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Thamyres
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