
Como da copa verde uma folha caída
treme e deriva à flor do arroio fugidio,
deixa-te assim também derivar pela vida, 
que é como um largo, ondeante e misterioso rio... 
Até que te surpreenda a carne dolorida 
aquela sensação final de eterno frio, 
abre-te à luz do sol que à alegria convida, 
e enche-te de canções, ó coração vazio! 
A asa do vento esflora as camélias e as rosas. 
Toda a paisagem canta. E das moitas cheirosas 
O aroma dos mirtais sobe nos céus escampos. 
Vai beber o pleno ar... E enquanto lá repousas,
esquece as mágoas vãs na poesia dos campos
e deixa transfundir-te, alma, na alma das cousas.
 
                
        
                Manuel Bandeira, poeta brasileiro.