A ESSA ALTURA DA VIDA...

A ESSA ALTURA DA VIDA...

Quando surgiste, já o fizeste em contornos de adeus, perfis a moldarem orvalhos de aurora enquanto desfilavas no amarelo das folhas secas que as frondosas árvores te ofereciam para que marcasses de luzes tua passagem pelas trilhas da minha vida. Em teus olhos vivos, de pouca história, eu notava a alegria da curta estadia, da transitoriedade deste mundo que enxergavas breve apenas, inteiramente convertido num inédito e eterno segundo. E por mais que eu te soubesse perdida, embora entendesse deixar-te, estavas dividindo meu corpo mesmo exalando odores de despedida: nos futuros gestos de afeto que não farias, nos distópicos momentos de ternura não vividas. Mas parece que é o tempo que se destina a entregar, manso, as ordens do dia a quem não poderá mais obedecê-las... De mim nada se espere. Para mim pouco se faça. A essa altura da vida, não conseguirei jamais esquecê-la.