Crónicas : 

Jardim de Cipreste

 
Tags:  saudade    morte    ausência    íntimo    adormece  
 
A morte é a ausência mais presente em nossas vidas
Dizem que a morte é ausência de tudo
Ausência da dor, do sentimento, do pulsar do coração, do sangue corrente nas veias, levando à mente, energia e a força do pensamento
Grande mentira! Engano atroz, que ousam me fazer acreditar
Quando a morte chega, chega arrematando tudo pela frente, como em um grande leilão, onde tudo é vendido em lotes, especificados em gêneros e em ordem
Engano atroz! pois, fica em nós impregnado como nó cego, possíveis de desatar, e nos laçar num mar de dor e saudade
Repentinamente somos atirados, estraçalhados contra a parede, pisados sugados, no mais íntimo de nosso ser, e de nossa emoção
Aquele que morre, apenas adormece, num sono profundo e seu leito é um jardim cercado por ciprestes
Segue seu caminho sozinho, sem pressa, sem bagagem, sem passagem de retorno
A morte real é para quem fica, quem aqui permanece
Ela é como um abraço forte de despedida, aquele que parte, abraça, se desvencilha e corre para sua nova vida
Quem fica, abraça forte, e jamais se desvencilha,
segura com seus braços e busca nesse ato, manter vivo o calor daquele que parte
Quem fica, fica com esse abraço, que o acompanhará passo a passo, seja quaisquer horas do dia e da noite
Faz da luz do sol, a escuridão da noite
Da luz do luar, apenas uma pequena chama
Do sorriso um traço curto e escondido
Do choro engolido, comprimido no peito, apenas um arfar lento
Ainda que se tente viver, ou melhor, "tentar viver", "tentar continuar"!
Apenas se faz de desentendido, pois os sentimentos todos comprometidos, são apenas um senão
Onde viver é um morrer a cada dia
Onde morrer é um viver sem viver
É esse abraço forte que só a morte abraça devagarinho, que faz a vida fugir de mansinho,
sem carinho, apenas sabemos que se esvai.

Fadinha de Luz



Maria de Fatima Melo (Fadinha de Luz)

 
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MariadeFatima
 
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