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A FAMÍLIA DO QUITA

 
Oito meninas e dez meninos, duas ainda de colo, gêmeas
Uma vaca magra, um cavalo velho e muita esperança
A cadela mansa, sem dentes, dormia num canto da sala
E a Antonina que amava demais e o Quita tonto nem sentia

O velho abacateiro, o canavial, o arrozal e um canário louco
Galo preto, galo branco, galo carijó, galo garnisé, eram muitos
Galinha da índia, francesa, africana e caipira tudo misturado
Abanos, balaios, peneiras, caçambas e jequi, tudo de taquara

O fogão à lenha, o forno que assava quitandas e cabritos
O café de rapadura, cana caiana e o pé de laranja lima
O queijo verde, a couve rasgada, o jogo de baralho e a pinga
A felicidade, dezoito filhos, uma sanfona velha, moravam ali.

A missa na capela, primeira comunhão, casamentos e separações;
As cobras bravas, cafezais em flor, ipê amarelo, branco, rosa e roxo
A estrada entalhada na serra dos Madalenas, o carinho e a amizade
A goiabada com queijo, doce de leite, feitos no velho tacho de cobre.

No final o Quita partiu, o Córrego de Ubá perdeu um sanfoneiro
O barracão ficou grande demais, iluminado por quentes raios de sol
Aquela mulher, viúva, mãe demais, amava demais, trabalhava demais
Até hoje guardo na mente o seu sorriso, o seu calor de mãe e sua dor.


José Veríssimo

 
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