Poemas : 

A tristeza matou os peixes que nadavam nos teus olhos

 

A tristeza matou os peixes que nadavam nos teus olhos
envenenou-os de um fel sem nome
numa mágoa sem praia ou areia
onde estender o teu sorriso antigo
agora branco de uma cal egípcia
que te pinta o rosto
e te seca os veios

A tristeza matou os peixes
que já não procriam no sol posto
nem desovam no delta dos teu seios
nem saltam os obstáculos dos açudes
imponentes e viçosos
como quando te davas em feixes
nos dias quentes de Agosto

A tristeza matou os peixes
secou os lagos dos teus desejos
levou para o mar todo o sal
que trazias ancorado nos teus beijos

Agora és um barco encalhado
num lodaçal de deslizantes enguias
que serpenteiam pelo teu ser adentro
extasiadas pelo cheiro podre da madeira
e te povoam o ventre molhado
na contagem decrescente dos dias.

Esse pássaro que risca o céu
saudoso dos peixes em boliço
e avista a tua carcaça no ilhéu
é a tua alma
mas tu não sabes disso


in: A tristeza matou os peixes que nadavam nos teus olhos - Corpos 2007


O meu verdadeiro nome é José Ilídio Torres. É com ele que assino os meus livros.
Já publiquei 12 obras em géneros diversos: crónica, romance, conto e poesia.
Foi em 2007, aqui no Luso, que mostrei pela primeira vez.

 
Autor
SilvaRamos
 
Texto
Data
Leituras
1068
Favoritos
1
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
14 pontos
2
2
1
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
jluis
Publicado: 10/07/2014 01:33  Atualizado: 10/07/2014 01:33
Colaborador
Usuário desde: 18/12/2009
Localidade:
Mensagens: 1535
 Re: A tristeza matou os peixes que nadavam nos teus olhos
Gostei de ler, companheiro das palavras.
Muito bom!
JL

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 16/07/2014 10:43  Atualizado: 16/07/2014 10:43
 Re: A tristeza matou os peixes que nadavam nos teus olhos
pode ter matado os peixes e fechado os portos, mas eles desovam em mil leituras e maremotos