De novo, eu às voltas com a noite – insônia!
Já escrevi que a noite não dorme, também
Já escrevi que dorme – ambos os casos, certos!
A noite pode dormir ou pode ficar acordada,
Mas não é insônia, está em sua natureza mesma:
Conforme exigem as circunstâncias, as tarefas!
Dizem que a noite é apenas sombra... Absurdo!
A noite não é um Manto Negro, peça única e indivisível!
Existem várias noites – cada local tem sua noite:
Existe a noite aqui do meu quarto, ultimamente: noite de solidão,
Com a qual me deleito com eventual visita em meu leito;
Existe a noite lá da rua, e, em cada rua uma noite diferente;
E a barulhenta noite de um clube noturno; a noite hospitalar,...
As noites de chuva, de tempestade,...
Existem as noites preguiçosas, as noites agitadas, as nervosas,...
A noite que me faz companhia hoje está muito silenciosa,
Mas não está com sono nem preguiçosa – muito pensativa:
Um silêncio de monge budista: de mente ativa, alerta – viva!
Em respeito a esta amiga que muito já me ouviu calada,
Fico quieto, não falo nada! Mas este silêncio na madrugada
Pesa uma tonelada! Silêncio, solidão! Minha alma apavorada!
Lembro-me daquela que tem me livrado do vazio, da solidão,
Minha companheira, que se entrega a mim como uma gueixa
Para ser usada, amada: a poesia! Essa dama da sabedoria,
Das alegorias, tem sido minha companhia – nunca me deixa!
Manoel De almeida