Poemas -> Dedicatória : 

Entrevidas

 
A ti

Que escolhi para me dares o ser nesta vida,
Que sem o teu prévio parecer,
Não teres sido tida nem achada,
Me acolheste e deste várias vezes a vida.

Quando vi a luz pela primeira vez,
Quando me tiraste do quissonde,
Quando me levaste pela mão até à porta da escola,
Quando me carregaste com a cabeça aberta,
Quando me vigiaste vezes sem conta,
Quando tiraste da tua boca para eu ter,
Quando afagaste a minha fronte (quase) moribunda,
Quando me desculpaste,
Quando sempre lá estiveste para mim.

Voltaremos seguramente a encontrarmo-nos,
Como seguramente já o tínhamos feito antes.

Possa eu ter a oportunidade de retribuir,
Sem o sabermos, sem memória,
Apenas nos reconhecendo pelo olhar,
Que é e será sempre nosso.

 
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MaluMafer
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 13/10/2015 13:58  Atualizado: 13/10/2015 14:03
 Re: Entrevidas
Palavras que exala os verdadeiros sentimentos


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 13/10/2015 14:00  Atualizado: 13/10/2015 14:00
 Re: Entrevidas
Muito bom. Muito bom mesmo.
Não é diferente e nem melhor do que se posta usualmente por aqui, contudo, não é desprovido de qualidade e, de novidade principalmente, que afinal é o que interessa.
É sempre muito gostoso ler coisas novas de autores novos, sempre se espera algo deles e, quando não vem algo novo, fica-se com aquele sentimento de 'deja vu", o que não acontece aqui; seu texto tem coisas muito interessantes nas entrelinhas, ainda que pareça aos menos avisados ser uma simples dedicatória, vejo história vivida e vivída no texto.

Parabéns.



Enviado por Tópico
Anacduarte
Publicado: 13/10/2015 16:49  Atualizado: 13/10/2015 16:49
Colaborador
Usuário desde: 10/10/2015
Localidade: Azeitão
Mensagens: 501
 Re: Entrevidas
Boa tarde Malu,

O texto não foge à escrita, que estou habituada do entrevidas, contudo, tem aqui um caso a debater com mentes de luz.

Está grandioso. Muitos parabéns.

Temos uma relação de amor e saudade entre filho e mãe, que noutras vidas foram marido e mulher ou até eventualmente irmãos.

Desafio para o passo seguinte que é provar, que nada é ao acaso...

"Tinha de ficar cega, para consegui ver"

"Esse livro sai ou não sai"????

Dos fracos não reza a história... uma excelente entrada, desejo-lhe todo o sucesso do mundo.


Grande Mestre um grande sorriso.

acd


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 20/11/2015 17:17  Atualizado: 20/11/2015 17:17
 Re: Entrevidas
Só a Morte Desperta os Nossos Sentimentos

Não amaremos talvez insuficientemente a vida? Já notou que só a morte desperta os nossos sentimentos? Como amamos os amigos que acabam de deixar-nos, não acha?! Como admiramos os nossos mestres que já não falam, com a boca cheia de terra! A homenagem surge, então, muito naturalmente, essa mesma homenagem que talvez eles tivessem esperado de nós, durante a vida inteira. Mas sabe porque nós somos sempre mais justos e mais generosos para com os mortos? A razão é simples! Para com eles, já não há deveres.

É assim o homem, caro senhor, tem duas faces. Não pode amar sem se amar. Observe os seus vizinhos, se calha de haver um falecimento no prédio. Dormiam na sua vida monótona e eis que, por exemplo, morre o porteiro. Despertam imediatamente, atarefam-se, enchem-se de compaixão. Um morto no prelo, e o espectáculo começa, finalmente. Têm necessidade de tragédia, que é que o senhor quer?, é a sua pequena transcendência, é o seu aperitivo.

É preciso que algo aconteça, eis a explicação da maior parte dos compromissos humanos. É preciso que algo aconteça, mesmo a servidão sem amor, mesmo a guerra ou a morte. Vivam, pois, os enterros!

Albert Camus,