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O garnde caderno azul VIII

 


XVIII

Manhã seguinte - Os dois portões montados, tudo dentro do cronograma. A dorzinha chata,os ferimentos no rosto. O meu problema é essa preguiça desgraçada que tenho. terminei a leitura de "Esplendores e Misérias das Cortesãs" - e principio-me na "Princesa de Cardignan" que nada mais é que a bela Duquesa de Mafrigneuse vivendo no retiro,longe da frivolidades dos homens que amou com sua amiga e confidente a outra grande dama balzaquiana Madame d'Espard, prima da Madame de Brageton, depois Condessa Chatelet - a que fugiu com Luciano de Rubempré de Angouleme para Paris, para depois abandona-lo.. Deixo a bela Duquesa e pulo para o conto "Facino Cane" que segundo dizem é o próprio Balzac.
"Moço Velho beirava os seus setenta anos vividos somente no centro antigo entre os bairros do Desterro, Portinho e Praia Grande. Nasceu nos fundos de uma oficina, localizada no final da Rua Afonso Pena, no Desterro.. Nesse tempo o pai exercia brilhantemente a profissão de ferreiro. Com muito esforço e ajuda de um velho comerciante português que possuía um grande comercio na Praia Grande,onde o mesmo vendia-lhe suas peças feitas como escapulas, talhadeiras, foices - conhecido como seu Oliveira proprietário de um grande palacete na esquina da Rua Grande com Rua do Passeio. Seu Oliveira afeiçoou-se daquele ferreiro simples e honesto e dele fez seu filho adotivo não-oficial.. Primeiro emprestou-lhe dinheiro para a compra do terreno na Rua Afonso Pena, depois para aquisição das pedras para o alicerce, tijolos, a madeira de boa qualidade para o telhado e finalmente as telhas Brasilit. Quando os filhos de Seu Oliveira souberam desses empréstimos, resolveram interpelam o ferreiro para saberem qual era o real motivo que o Pai deles faziam aquilo, pois nunca fizera por eles tão generoso beneficio.
- Vocês não conversam com seu pai, não o ouvem e em mim ele achou um confidente e amigo - Ouvindo isso, os filhos resolveram deixa-lo em paz e nada puderam fazer, pois naquela época, o pai ainda era a autoridade maior e tinha voz bem ativa."
Aqui eu misturo e descambo para narrar a ascensão do meu velho Pai Bamba, um ferreiro que chegou a cidade com o intuito de mudar de profissão, de ser motorista ou melhor chauffeur de Praça - trouxe uns bons trocados que economizou durante anos, trabalhando com seu mestre o velho Hipólito que o ensinou-lhe a arte numa rústica oficina de ferreiro na Praia de Valhe-me-Deus nas reentrâncias do município de Curururpu. Filho bastardo de um português proprietário rural e de uma pobre mulata neta de escrava, lavradora. Aos sete anos foi morar na Casa grande de um seus tios paternos, um dos homens mais rico da região. Era o factotum. Descarregava e limpava os urinóis dos brancos, tirava capim para os belos cavalos e ajudava nos afazeres domésticos.
Acho que é hora de começar a contar a historia de Pai bamba, meu grande herói, que levou Dostoiévski e Dickens para a casa, deu-me uma surra homérica que passei uma semana no vinha d'alho e quase fazia a separação do casal. Ensinou-me a profissão de ferreiro e serralheiro, foi buscar-me na cidade de Alcântara quando fui preso com maconha e outras coisa boas que fez por mim.Incentivou-me a gostar de cinema, dando-me regiamente todos os domingos, depois do almoço e a antes de sua sagrada sesta o dinheiro para pagar as entradas. Com era bom , todas as trades de domingo, as duas horas vestia-nos com a nossa fatiota dominical e dirigíamos ao cinema. O nosso preferido era o Cine Roxi na Rua do Egito, defronte ao moderno edifico de dez andares do Banco do Estado do Maranhão. Quando a censura não era compatível com a nossa faixa etária, pois éramos ainda de menores, seguíamos para o Cine Éden na Rua Grande e as vezes ao Cine Passeio e de vez enquanto ao Cine Rialto, um cine decante na Rua do Passeio próximo ao Hospital Socorrão. Era legal porque podíamos assistir filmes de maior de 18 anos, não tinha fiscalização e as vezes muito raramente ao Cine Monte Castelo no bairro do mesmo nome. Deixa eu concluir a digitação de "Além das Névoas Azuis". A bela Janaína com uma sombrinha, uma bermuda de malha, deixando a mostra os seus belos predicados sexuais cumprimenta-me com um sorriso malicioso. Já pensou seu eu tivesse dinheiro, a convidaria para darmos um passeio a uma pousada do centro, tomaria uma azul para combater a minha maldita ejaculação precoce, depois almoçaríamos num bom restaurante, compraria uns presentinhos para ele e o filhote e voltaríamos felizes num táxi. Mas se eu tivesse muito dinheiro poderia até comprar uma casa e morar com ela por uns bons tempos até saciara o meu desejo. Quimeras meu poeta, devo confessar que me dar tesão, mesmo sabendo que correria o risco de levar um bom par de chifre, valeria apena. Voltando a realidade - acho que é hora de ressuscitar ou melhor contar a historia da Família Bamba. Tiro o cascão de uma das feridas do nariz. Uma vontade louca de comprar uns livros, principalmente um que vi do filho de um dos irmão Mann. Vou me segurar, na outra semana vou fazer a minha feira literária, gastar uns vinte reais.

Tarde
17:10 - Meus olhos querendo inflamar devido o excesso de solda e ainda dormir a tarde que complicou mais. Dos cinquenta reais, a ultima cédula, comprei uma banda de galeto assado, um pão de forma e dei vinte reais para a minha cunhada. O congelador vazio, sinal que a situação vai piorar. Depois do almoço terminei o conto Facino Cane. Por que Tenor é engraçado? Ele se escanhoa sentado aqui na sala, na cadeira de balanço que mamãe nunca sentou. Abusa a pequena Adrielle, minha cunhada, Larissa com umas perguntas fora de jeito. Minha cunhada banha-se, Professor deitado no quarto. Sarinha refestelada na cama de Larissa. Agora ele canta suas musicas encabulosas em voz alta. Antes de deitar-me lia Dickens. Por que essa casa é engraçada? Minha cunhada injuriada vai as compras. Ainda pouco perguntou a Sara o que iria jantar. Será que não viu o galeto assado que comprei?

Noite
19:13 - Um grilo solitário tentar chamar a atenção de uma companheira para acasalar. Larissa e a minha cunhada na velha polêmica de sempre.O casal foi para a reunião no Salão. Dickens, Balzac e Dostoiévski, a santíssima trindade da sagrada literatura. sara entra pela segunda vez, vem buscar alguma coisa.
- Que diabo é isso! - Exclama minha cunhada ao ouvir um barulho esquisito vindo da rua,levanta da cadeira vai até a porta a abre e verifica o que foi.
Preocupado com o affaire Deline - não comprei o ferro de Seu Riba, usarei o da grade de Dona Francisca.
20:10 - Coloquei o álcool 70 nos ferimentos,deixarei Londres e seguirei para Petersburgo encontrar com Raskonilkov e seus problemas existenciais, flanaremos pelas ruas e praças, a Avenida Siennáia a margem do Rio Nieva, ia preteri-lo por Andrei Bitov "A Casa De Puckhin" que há meses que estou lendo.
23:15 - Um gato miserável urinou bem no meio da cama e outro defecou uma merda fedorenta em algum canto do quarto.


 
Autor
r.n.rodrigues
 
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