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O grande caderno azul - LXV

 
LXV

Fiz uma autoanalise dos diários e cheguei a triste conclusão, que eles não tem nenhum mérito literário, é muito repetitivo como a minha vida - é só uma rotina de todos os dias e ninguém quererá saber de uma vida idiota. Nem parece que leio tanto e não aprendo, principalmente com Miller - um bom livro tem que ser livre, não pode ter amarras - vide "Le Cahier Rouge du Pére Joseph" para mim é perfeito, tem alguns textos que trabalhado podem ser aproveitados. Lembro-me que quando estava iniciando no jornal Extra, escrevia livremente e assim que tenho que fazer. Escrevia "Diário de um Mendigo" ("que li para meu filho, eu estava recentemente separado da mãe dele, ele chegou a chorar) que infelizmente perdi nos computadores do jornal. Como uma vez disse o meu filhote "Papai use a sua inteligência" Ele era apena um garoto de oito anos. Os diários talvez num futuro,mas não agora nesse momento.. A triste noticia da morte do açougueiro Nhengo que nos vendia carne fiado para pagar ni=o final do mês - coloco o caderno no lugar.

Na oficina da vida - arrumo as grades uma de cada lado na porta. A missão de hoje é enrolar as quatro laterais. Trouxe Herman Hesse para me inspirar, o clássico "Lobo das Estepes". Nunca duvidei da minha capacidade intuitiva de escrever,mas as vezes me perco,quando tento entrar num assunto que não domino. Agora convicto do que sou e com ajuda substancial dos grandes mestres, sinto-me preparado para desempenhar melhor as minhas funções literárias. Antes tenho que trabalhar na minha verdadeira profissão,que é a de serralheiro, ou bem ou mal é ela que me sustenta a viver..

Mas tarde na mesma manhã

As grades nos quadros, as peças marcadas prontas para serem torcidas, só peço a Deus que los hombres de la luce não cortem a minha energia.O rapaz das grades para basculantes ainda não veio busca-las, acho que somente no sábado. Deve trabalhar durante a semana. Comprei solda com a ultima cédula de cinco reais. Seja lá o que Deus quiser. Acho que voltarei aos cadernos é a minha vida,o meu cotidiano,o meu mundo que esta ali, não sou nenhum Miller e nem um Kerouac com uma vida cheia de aventuras e uma prosa fantástica que vem do seu intimo. tenho que ser eu mesmo, com as minhas idiossincrasias. Ao menos ocuparei meu tédio de não esta fazendo nada literário, eu gosto do meu estilo, talvez digitados, eu posso corrigi-los ou até mesmo reescreve-los.. Mas queria mesmo era imprimir o original de "Além das névoas Azuis", formata-lo e enviar as editoras, sentir a sensação de ter um original rejeitado. "O Colosso de Marussia" foi rejeitado por dez editoras, "Pé na estrada" também, omeu será por cem -mesmo assim não desistirei, não posso perder esperanças que acalento há muito tempo desde a minha adolescência.

Começo da noite
Ainda estou meio confuso de álcool. E uma vontade louca de beber uma dose para amenizar. Mas o medo de embriagar-me e perder a razão, ficar loucão e não trabalhar amanhã - esse vicio. O pensamento único, a garganta seca. Por que fico assim? Bebi apenas o necessário e não extrapolei. Mas a vontade de ir para o buraco é grande.O computador quebrado; Larissinha triste com essa moleza.

 
Autor
r.n.rodrigues
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 11/05/2016 11:05  Atualizado: 11/05/2016 11:05
 Re: O grande caderno azul - LXV
É natural a hesitação quanto ao sentido e valor do que fazemos. São importantes os momentos em que nos repensamos. Pessoalmente penso ser essencial auscultar o corpo e a alma no seu curso pela vida.
O Jogo das Contas de Vidro de Hesse é um dos meus livros de sempre.

Abraço