Poemas : 

Revelando meandros da mente

 


Não era um troféu desses convencionais. Auréola de ervas de louro e coroas de flores a serem usados sobre as madeixas porventura existentes e resistentes ao decorrer dos anos. Foi mais ou menos como o final de um sonho ecológico percorrendo jardins em flor numa alameda ladeada pelas cerejeiras imperiais. Não aquelas que só dão flores e negam as cerejas. Se bem que o marrasquino não nasce em árvores.
Ultimado o último sonho de uma série de seis. Todos antecedidos por fervorosas orações à divas, deusas ou quaisquer outras emanações que me forçam sempre a ajoelhar-me e beijar incessantemente as contas do masbaha. De certa forma congelava tudo restando slides do arco-íris aparecendo um a um como flashes rútilos de memórias que insisto em não deixar que se desvaneçam. Nem que se perpetuem de forma a tornarem-se obsessão. Meio termo diria. Jogo de claro-escuro, de sombra e luz praticamente invisíveis quando jogadas nas calhas apodrecidas desde as últimas chuvas de abril. Mas faziam muita sujeira na cama em que pese provocarem o aquecimento da palha usada pelas vacas no curral.
Mas ela estava bem ali apesar de ter se muito um terço do conteúdo e de terem sido tantas as noites quentes regadas à vodca com alho sorvida sob o céu azul de estrelas novas. Crianças quase privadas das vozes pediam leite que não era mais produzido pelas vacas de cabelo vermelho das granjas. Por vezes a ebulição da cabeça nos vapores etílicos lembrava a porta da fornalha do inferno. Claro, não incluindo a parte interior, nem o contorno da bola de barbante. Ou a de esterco empurrada pelo escaravelho sob olhar vigilante de Dante.
O amanhecer me pegou de surpresa. O quarto já todo iluminado e eu ainda prostrado na cama. Devagar, abrindo os olhos, então ao meu lado vi a um troféu. Sempre se queixou que a tinha como amuleto mesmo quando arrancava pétalas das margaridas rompendo por vezes as barras e as alças do vestido branco. Eram poucos esses sonhos, momentos em que me encontrava totalmente indefeso revelando os meandros da mente.

 
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FilamposKanoziro
 
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