Contos : 

Dia Maluco

 
Dia Maluco

Por um dia desses onde se levanta completamente maluco, resolvi não me trancar e peguei meu carro com 3/32 prestações pagas. Não sei como continuaria pagando esse carro. Não sei o que fazer para ganhar dinheiro; não faço nada direito. Patrões são de uma raça de filhosdaputa exploradora e não teve uma industria, sequer uma, onde o patrão não era um tremendo filhodaputa. Mas fodam-se todos, o calor estava forte pela manhã. Com meu cigarro 10/20 de 80 centavos o maço e com meu carro de 3/32 pagas sai andando pela pequena londres, andei por algumas ruas sem saber o nome de cada uma. Não havia ninguém caminhando nem ao menos nas janelas. Por vezes, passava por algum ônibus onde se podiam ver tantos rostos quanto a um jogo no estádio lotado de futebol, rostos já cedo tristes, enfurecidos, agonizantes, zumbis, alegres, felizes. Por vezes me pergunto, como pode haver pessoas felizes o tempo todo, devem ter algum tipo de pacto com nem me padece dizer. Por dentre uma região agora nobre, passo devagar para ver defeitos arquitetônicos naquelas grandes mansões, ler Walter Groupis, Le Cobursie, Mies van der rohe, Lúcio Costa e Niemeyer me faziam entender um pouco, por vezes na industria de moveis onde trabalhei, entravam jovens arquitetos, alguns com mais idade que eu. Não sabiam nem ao menos quem foi alguns deles e muito menos seus feitos ou escritos. Uma arquiteta entrou porta adentra, com olhar esnobe com sua cliente ao lado. Olhou os moveis patrões que nunca me agradaram. Sempre respondiam aos meus desenhos que projetava:
-isso é muito tok&stock
-isso não vende
-ninguém compra isso
-olha essas curvas
oh!oh!oh!não! refaça
Eu não tenho culpa de ser fascinado, apaixonado, maravilhado e adjetivos que caibam, por curvas. A beleza esta nas curvas, o mundo é curvas, a mulher é curvas. Perdoem-me minhas obsessões. Entrou tal arquiteta, sentou a minha mesa olhando-me por cima do nariz e começou a despejar estupidez de todo tipo arquitetônico. Pediu-me uma folha sulfite e começou a “desenhar”, minha filha de quatro anos poderia fazer traços mais firmes e expressivos. Mas deixando de lado, a arquitetura que de nada posso dizer. Como já me disseram:
- Tu és arquiteto?
- não
- Então não pode criticar
Ignorância me convém ficar calado. Mas continuando, a minha breve caminhada em meu carro de 3/32 pagas e meu cigarro 8/20 de 80 centavos percorri algumas ruas até a avenida Humaitá e seguinte entrei na Paranaguá, onde sabia que o Pé na Cova estaria aberto com suas bebidas de braços abertos para me receber, haha. Minha intuição era infalível, tão certa quanto 1 e 1 são 3, 2 e 2 são 6 ou 4 e 5 são 2.
- Aquele rabo de galo com chorinho – disse
Copo de dose com a mão direita, garrafa de cachaça com a esquerda, vira, vira, garrafa de vermute agora com a direita, experiente o barman. Dou uma pequena molhada de bico.
- E o meu chorinho – choro
A resposta é uma franzida, mas sou atendido. Nunca se deve recusar um chorinho a um alcoólatra, nunca regule um chorinho é perigoso. Eu era capaz de matar por um chorinho, hahaha. Pago o um real e saiu indignado, por tempos paguei 50 centavos agora esse aumento. Entro com meu cigarro 6/20 de 80 centavos no meu carro 3/32 pagas e sigo caminho na Higienópolis, onde o transito é tenso. Sinaleiro. Anda, freia. Semáforo. Vermelho 6/6, 5/6, 4/6, 3/6, 2/6 já piso na embreagem, enfio a primeira mas ainda o pé no freio. 1/6 com o calcanhar do pé direito dou uma leve bombada no acelerador, como um piloto profissional de drift, onde nas curvas se vê a sua traseira, onde se entra de lado com o carro, tão rápido que é preciso ficar de boca fechada caso não queira ficar sem um rim, estomago, pulmão ou coração. 0/6 solto a embreagem equilibrando no acelerador, percorro uma certa distancia e enfio a segunda, todos ficam para trás. Oh! Oh! Ele é o Senna das ruas! 100m, 200m sinal vermelho.
Vermelho:
6/6
5/6
4/6
3/6
2/6
1/6
0/6 Oh! Oh! Oh! Senna!




CB


Blog PensAlto : Tatuira com Nescau!


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Carlos Bazesko
 
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