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Vésperas!

 
Vésperas

Prenúncio do maior desgosto para uma mãe adoptiva.

Margarida adoecera uma vez mais
como nos últimos anos na Primavera
mas, nunca imaginaria, nunca mesmo
que ao completar 12 anos ela pudesse partir

Mas, desta vez, seria diferente, nem eu o desconfiava.
No inicio o diagnóstico fora de uma gastrite, mas passada uma semana Margarida começou a ter grandes dificuldades para respirar, e uma dessas vezes, estávamos na cliníca veterinária, quando ela ficou aflita quase sem conseguir respirar, era segunda feira, o dia em que a Cliníca fazia semanalmente, todas as cirurgias programadas
Todas as Primaveras ela adoecia com inflamações no Pâncreas, ou no Fígado e uma gastrite insuportável,
E todas as Primaveras combateramos esses males com medicamentos e muito sofrimento, mas tudo normalizava.

As suas pequenissímas narinas rosadas
arfavam agora, por momentos de aflição
em conseguir respirar com imenso esforço
e, num rx, tudo se revelou preocupante
assim, compreendi que se tratava de uma pleuresia

Num ápice, ela foi levada para a sala ao lado
anestesiada e desfolhada para uma cirurgia
o corpinho despido com a pele à mostra e
o bisturi incidiu em quatro pequenissimos espaços
para uma seringa poder aspirar o liquido pleural
que afogava um dos seus pulmões

Duas horas depois ela já estáva no meu colo
e começara a acordar com uma respiração
agora aliviada, as cores tinham voltado e,
a oxigenação do sangue tudo mudara

75 centilitros de liquido pleural e algum sangue
tinham sido retirados do seu corpinho mínimo
pesando apenas cinco quilos, ao qual a pelagem
lindissíma emprestava um volume muito maior

Reservadas algumas gotas desse liquído
que seriam enviadas para analizar
eu aguardava, agora, com o coração nas mãos
pelos resultados, embora avisada de que era grave
nunca me passou pela cabeça que dez dias depois
nos separaríamos para todo o sempre

Cinco dias depois de toda esta peripércia
a médica veterinária engonhava, tanto quanto podia,
para adiar o momento de me revelar os resultados,
como boa amiga ela sabia que eu iria sofrer muito

Sábado chegara então e, depois de ouvir tudo
o que havia para saber,o meu Mundo caíu ao chão
sem grandes hipóteses de se reerguer
em choque, foi como naquele momento eu reagi

Se bem que ainda fizesse algumas perguntas
para que não restassem dúvidas do que tinha compreendido
a veterinária olháva incrédula, com os olhos rasos de lágrimas
e era eu que lhe ia dizendo como os próximos dias seriam
ao que ela apenas abanava a cabeça afirmativamente
dei por mim a confortá-la, porque para além do choque
era zangada que eu estava, muito zangada, numa fúria mesmo.

Rumámos depois a casa, mãe, pai e gatinha
entrei em casa e depois da Glorinha (a nossa cadela) inspeccionar a gata
lá a coloquei junto a uma pequena tigela com água na sua mantinha,

Depois de estarem todos tratados, entrei no meu quarto
fechei a porta e deixei-me cair de bruços em cima da cama
sem forças para mais, eu chorei alto e bom som durante muito tempo
toda a minha revolta, inquirindo a Deus: “Porquê? Mas porquê? “

E assim se passou o resto da tarde, já com a Glória e a Margarida abraçadas por mim,
Como quem abraça o que mais não pode deixar ir embora, em sua vida.

Maria, 9 de Junho de 2018


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Enviado por Tópico
Gyl
Publicado: 18/08/2018 15:01  Atualizado: 18/08/2018 15:01
Usuário desde: 07/08/2009
Localidade: Brasil
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 Re: Vésperas!
Apesar de ser uma história muito triste e ,creio que seja verídica, não posso deixar de dizer-te que me prendeu até o fim pela beleza do estilo e pela narração em si. Um beijo, querida Maria!