POR VIA DE REGRA, para Marielle Franco

De facto, Gyl, hoje, no Rio de Janeiro, o filho de uma candidato a presidente acompanhado de um candidato a deputado arrancaram e partiram ao meio (sorridentes para câmeras) uma placa que homenageava a vereadora Marielle Franco. Alegaram estar removendo uma publicidade que vandalizava o espaço público… Estamos assistindo o nascimento de um regime no qual o poder de polícia deixa de ser uma prerrogativa exclusiva de agentes estatais para ser evocada pelos “homens de bem” para fazer “justiça com as próprias mãos”. Hoje, é uma placa; amanhã, será quem eles julgarem necessário remover.

Em desgravo à memória de Marielle, publiquei o presente soneto com a sua fotografia:

MARIELLE FRANCO

Os autointitulados "homens de bem" acreditam que referendados pelas intenções de voto do candidato do nanico PSL podem fazer "justiça" com as próprias mãos. Não enxergam que, obviamente, prescindindo de autoridade todos vão se arvorar "justiceiros" tal e qual. Não é difícil imaginar que o resultado d'isso será a barbárie de todos contra todos.

Ao clamar pela importância de vidas faveladas, Marielle Franco incomodou uma sociedade retrograda -- de mentalidade colonial mesmo -- que acredita que o pobre tem de saber o seu lugar. Marielle estudou, preparou-se para ser uma liderança e incomodava muito por conhecer os direitos que mesmo o oprimido possui.

Só espero que, inspirados pelo exemplo d'ela, a gente continue incomodando.

É isto.

Abraços, RicardoC.

Cara Janna.

Hoje é o dia em que saberemos até que ponto esse desejo intolerante de construir uma ordem social simplista, sem diversidade e pautada pelo medo conquistou corações e mentes Brasil afora. Como costuma a acontecer com radicalismos, a oposição entre ideologias se espraia para a mentira pura e simples onde fins justificam quaisquer meios. Pode ser que amanhã tenhamos de lidar com o facto de que elegemos um fascista ou de que abrimos as portas do poder para outro período militar. Não sei...

O que sei é que a coragem de Marielle, frente à polícia, às milícias e aos narcotraficantes, me inspira. Sei que não devemos nos calar mesmo quando rasgam nosso nome, sujam nossa imagem e relativizam nossos feitos.

Em desagravo à memória de Marielle, espero que a poesia denuncie o horror do que esses "homens de bem" fazem quando decidem agir com as próprias mãos.

É isso.

Abraços, RicardoC.