Poemas : 

estranho contrato

 
na minha boca um sem sabor antigo
do mundo antes da tua chegada

antes, as coisas todas bocejavam
na minha alma

hoje conspiram na malha quase arejada
da vida que é também a da gente, bichos e plantas
como que a ganhar força
para escapar às balas do destino
que não deixou de ser mera passagem

agarro essa chama mas tudo é já tão tarde,
porque também eu sou viagem
estranho este cruzar de almas
sem tempo de nos lançarmos os dois
no abismo feliz que nos ampare

– estranho contrato, sim –
nesta partilha de tudo largar
pelo gosto tão raro e próximo
preso às pequenas respirações

quisera não ter corpo já
para aderir sem dor à experiência do sal
e fosse belo desembarcar no mar
a partir de alguma falésia

ah se pudéssemos gravar a eternidade num espelho

de que nos serve a luz,
quando cá dentro há um escuro
de fome nunca saciada,
e a viagem não se faz
sem pão carne e condição.

ah como aprisionar a ilusão?

 
Autor
RoqueSilveira
 
Texto
Data
Leituras
514
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
3 pontos
1
1
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.