Poemas : 

Pateta

 
Andando na vida, fui pateticamente romântico quase sem limites
Até onde fui e as asas destacadas de meu corpo pelas tormentas
Até olhar-me fruto de todo arcabouço desta semeadura humana
Percorri espaços após espaços e ouvi as perguntas sempre iguais
Passei portas que fecharam às minhas costas qual fossem atalhos
Uma brevidade entre um século de silêncio e me chamaram poeta
Um galardão que não me fez enaltecido, mas serviu para somente
Lavar as mãos da dor acumulada como se fora a poeira do tempo
Foi escrevendo que pude entender o que não entendi só ouvindo
Tantas crenças falsas no brilho das letras de grandes cabeçalhos
Se espalham como um verdadeiro e fatal vírus a repetir a história
Ninguém se volta ao espelho já baço para admitir verdades duras
Dando preferência às miragens, ao certo bem mais complacentes
Ninguém expõe as ideias à luz ou as submete às rédeas da justiça
Mas escolhe o eufemismo que atenua erros e assim chamar de fé
Sustentando toscas assertivas, qual alcandorados sopros divinais
Assim cheguei à conclusão que a verdade de fato pouco importa
Antes, aquilo que cada um se arvorou em verdade para ter razão
Razão essa qual, a alguns tolos ou insanos, vale mais que ser feliz


"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)


 
Autor
Sergius Dizioli
 
Texto
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 28/03/2022 20:28  Atualizado: 01/06/2022 10:13
 Re: Poética derrota bege


( obrigado pela inspiração)

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Herdei campos de trigo farto
Plantei joio e peste, sementes
Castas infecundas e castradas gramíneas
Foram como repelente para lírios solenes
E altas flores silvestres,

Narrei com esforço como se fossem
Escritas frases submetidas ao rosto de quem deve
Uma explicação florida para a vida que teve
Que defina leste e oeste ou a razão dos campos
Não mais terem tons verdes e proféticos

Ou serem a comparação fina e fiável
Com o que nasce da minha voz sem cor pura
Nem privilégios sortilégios ou ambição dura
Apenas penumbra inútil ofensiva herege
Daquela que cobre tudo da imortal

Silenciosa poética anémica derrota bege
Sem vida


Joel Matos





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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 28/03/2022 21:47  Atualizado: 28/03/2022 21:47
 Re: Pateta
.


Perfeito, é tanta lucidez que não precisa de mais palavras, esse é o segundo poema seu que mais gostei, posso explicar o motivo, quando eu lia seu poema parecia que as palavras saiam do meu coração.

Quem deu a magia de fazer um coração mudo gritar, fazendo concorda contigo em tudo, abraço!


Enviado por Tópico
Alemtagus
Publicado: 28/03/2022 21:59  Atualizado: 28/03/2022 21:59
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Localidade: Montemor-o-Novo
Mensagens: 3100
 Re: Pateta
A prosa poética - aqui quase prosa - é uma das formas de alargar os horizontes da escrita e, sobretudo, da imaginação. Este texto tem uma cadência de ideias ímpar, ao ponto de conseguir extrair dele imagens (embora por vezes abstractas) perfeitas de um mundo imperfeito. Bom texto


Enviado por Tópico
ZeSilveiraDoBrasil
Publicado: 31/03/2022 02:30  Atualizado: 31/03/2022 16:42
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Mensagens: 1910
 Re: Pateta
Foi escrevendo que pude entender o que não entendi só ouvindo


Impressionante é a robustez desse prosear...
Passei toda minha vida não me ouvindo. Aí te leio, e tudo vem à tona, límpido, compreensível, peremptoriamente inquestionável! Grato!
Aquele abraço caRIOca!