Poemas : 

Saudade

 
É a saudade a ave migratória que um dia cantou seu nome
Que venho vos contar com as caligrafias frágeis do poema
Um canto que viajou através dos oceanos do velho mundo
O som de violino a repousar sobre o zinco, entre os astros

Terei a mesma saudade, ainda que fale com a voz dos anos
O menino só deixa de sê-lo se imaginar nada ter a aprender
Sobre a tapeçaria das convenções intrincadas, és o que és
Se te magoam, desarma a face e oferece-lhes a outra frase

A saudade é algum lugar ao sul quando chega o dezembro
É o que nenhum retrato supre quando os corpos se calam
É a palavra que fora semeada e que jamais pôde frutificar
É o amor que vagueia entre a fome e o desejo nas canções

Em saudade usamos de amar quem já não temos nas vistas
Mas, que no litígio do cotidiano, foi um trem desgovernado
Quando vinha se entregar aos arpejos melodiosos do beijo
Ora vaza tal uma brisa, entre as paredes vivas da memória

Saudade é o brilho da folha em branco do poema inescrito
Apenas um cabeçalho e um nome resplandecendo em ouro


"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)


 
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Sergius Dizioli
 
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Enviado por Tópico
JorgeJacinto
Publicado: 14/11/2022 17:31  Atualizado: 14/11/2022 17:31
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 Re: Saudade
Parabéns! Gostei muito!


Enviado por Tópico
GabrielaMaria
Publicado: 14/11/2022 18:38  Atualizado: 14/11/2022 18:38
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 Re: Saudade
.

"Se te magoam, desarma a face e oferece-lhes a outra frase" (Mr. Sergius)

Palavras que guardarei no coração. Abraços.


Enviado por Tópico
Sergius Dizioli
Publicado: 16/11/2022 23:01  Atualizado: 16/11/2022 23:01
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 Re: Saudade
Apenas como curiosidade:
'O som de violino a repousar sobre o zinco, entre os astros'
O verso faz referência a duas obras. Um filme de 1971 e sua trilha sonora de sucesso chamado Um violinista no telhado. Ser um violinista no telhado é ser aquela pessoas que sabe fazer mas está no lugar errado, não consegue ter estabilidade apesar de suas virtudes...
E o zinco entre astros fala da belíssima canção de Nelson Gonçalves e Raphael Rabello - Chão de Estrelas, que fala da beleza que existe escondida mesmo em condições menos favoráveis.
No meu poema o violinista está sobre o teto de zinco furado que distribui estrelas pelo chão, que como eu, busca equilibrar-se.