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O rádio e eu(Sketch 13)

 
O rádio e eu

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A cena se passa na Espanha, em 1931.





Cena única



Um ateliê de pintura com todos os tipos de tintas, pincéis, quadros, e outros objetos artesanais. Há uma janela que está aberta. Há um perfume de lavanda no ar no ateliê. Do lado esquerdo vemos um quadro de um barco e uma parte do mar, ele está incompleto, mas é um belo, sensível e admirável quadro. Perto dele está uma mulher chamada Elisabeth. Ao lado do quadro, há um banquinho com um rádio ligado. O rádio está baixinho e quase não ouvimos o que está sendo tocado. Elisabeth está pintando, mas para por um minuto. Ela suspira cansada e coloca a paleta e o pincel de lado. Ela vai até uma parte do ateliê onde há uma mesa com papéis, revistas, e alguns jornais. Ela vê duas cartas e pega.



Elisabeth- Oh, que maldição! Diablo! O Alonso me escreveu novamente. Eu já pedi a prima dele para dizer a ele que não quero que me escreva mais. Que homem insistente! Como Yo sufro! Com ela não poderei parar de falar, mas irei diminuir o número da correspondência. Creio que ela nem falou com Alonso, ou ele anda cada vez mais teimoso mesmo. Se continuar, terei que dizer ao pai dele.


Ela se afasta da mesa e vai até outra onde há algumas frutas. Ela pega uma maçã, olha para ela, e desiste de comer. Na mesa há uma garrafa com água e um copo. Ela enche o copo de água e bebe todo. Coloca o copo de volta na mesa. Ainda ouvimos o rádio baixinho. Ela pega uma revista em outro lugar e começa a folhear. Ela folheia três páginas rapidamente, depois lê duas e fecha a revista, levanta-se e vai até outro lugar onde há tintas. Ela olha para cada tinta, escolhe as que irá usar novamente e anda mais um pouco pelo ateliê. Ela vai até uma porta, abre-a e entra. Ouvimos o barulho de água. Ela abre a porta e sai enxugando as mãos. Joga os papéis em uma cestinha e volta a pintura que estava fazendo. Ela passa o pincel na paleta e começa a dar pequenas pinceladas em um detalhe do barco na parte de trás. Ela é detalhista e faz tudo com muito cuidado. Depois de terminar o detalhe, ela passa para o céu que está ao cenro no quadro e com o mesmo detalhismo ela vai pintando o contorno do sol, a intensidade dos raios, uma mera sombra, etc. Ela para mais uma vez. Ela vai até a janela e fica espiando para fora.



Elisabeth- Oh, como estou... Não cansada, mas exausta de estar sempre no mesmo mundo, ainda que todos os dias eu veja pessoas diferentes nesta janela. Claro, tudo se me parece sempre um pouco diferente, mas dentro de mim as coisas permanecem iguais. As sensações e percepções a olhar para fora não são as melhores. Oh, este mundo não passa de um ambulatório de corpos ambulantes e desprovido de Beleza e Harmonia! Um mundo que parece mais uma grande teia de aranha a nos prender todos... (Sai da janela e senta-se onde as tintas estão, fica um momento reflexiva).




Ela novamente vai até o quadro, coloca as mãos na altura da cintura, morde os lábios e demonstra que ainda precisa trabalhar mais no quadro. Porém ela suspira longamente, passa as mãos no bolso e diz:


Elisabeth- Irei trabalhar nele depois que comprar vinho e mais algumas tintas como amarelo ocre, canário, e magenta. E vou agora mesmo que o tempo está suave, daqui a duas horas estará muito caliente.


Ela começa a sair, mas antes de sair toma outro copo de água. O rádio que ouvíamos desliga e não ouvimos mais nenhum barulho. O pano desce.




FIM


 
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lud
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