O MEU LUSO DO MÊS DE MAIO É TÂNIA MARA CAMARGO
Entrevistar é um ofício que não domino. Meu negócio é samba, pinga, e fazer voar por aí umas poesias. Mas como costumamos dizer, “se é um desafio; tocamos pra frente então”. É importante que haja continuidade dessa proposta reiniciada pelo brilhante poeta Fernando Saiote, o Alemtagus, e que está sendo mais uma vez concretizada, de; um autor promover a entrevista de uma autora e vice versa, e assim sucessivamente. Para eu, esta é uma oportunidade impar e prazerosa, poder mostrar para todos os amigos e irmãos poetas do Luso-poemas, quem é essa grande mulher, mãe e empreendedora. Entre tantas, uma escritora amadora brasileira conceituada, e com quem já nos acostumamos a conviver, mesmo que virtualmente, apreciando e aplaudindo suas obras literárias. Com vocês, o meu luso do mês de Maio: A guerreira. A vencedora. A poetisa neo-romântica, Tânia Mara Camargo.
- Quem é a autodidata Tânia Mara Camargo?
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Nasci em Presidente Prudente, interior de São Paulo, às 20:00 horas do dia 30 de julho de 1957. Meu pai então jogador de futebol, defendia o Corintihans da referida cidade, bem como era tipógrafo de profissão. Lá nasceram também o Régis e a Marília. Com 5 anos minha família mudou-se para a cidade de Marília, onde meu pai foi trabalhar com o irmão, o jornalista, fundador do Jornal do Comércio, Irigino Camargo. Em poucos anos, a família mudou-se novamente, desta feita para a cidade de Bauru, onde nasceu minha irmã Márcia. Já estava em idade escolar e cursava no SESI a quarta série, tinha quase 11 anos, quando vi um piano e senti vontade de aprender a tocar. Meu pai até conseguiu uma professora, mas a situação fez com que novamente nos mudássemos.
Cheguei a Jundiaí e terminei o então chamado Grupo escolar e fui a primeira aluna da classe. Prestei exames e entrei no ginásio (Geva), onde comecei a competir nos jogos abertos nas modalidades dos cem metros rasos e nos quatrocentos com bastão. Eram dias de treinamento rígido, diários, e eu me sagrei campeã. O troféu ficou com a escola. Mas com as dificuldades financeiras que nos atingia, precisei trabalhar e aos treze anos enfrentei meu primeiro emprego, fato que me levou a estudar á noite. Terminei o ginasial, fiz dois anos de colégio, já casada, e abandonei o curso para fazer o técnico em secretariado no Colégio Prof.Luiz Rosa, onde no primeiro ano consegui um estágio numa multinacional e em poucos meses, tornei funcionária. e daí a outros cargos que me fizeram a alcançar o cargo de secretária de presidência.
Deixei Jundiaí, em meados de 1984 fui morar em São Paulo, e lá em 1985 nasceu meu primeiro filho Alexandro e em 1986 a minha filha Mariane. Nessa época passei a visitar o Chile com certa freqüência, foi quando me apaixonei pela cultura local e por Neruda. Em 1996 surgiram alguns problemas de visão, e uma das crises durou 4 meses, então no meu desespero, apeguei-me á fé. Levava horas tentando ler uma linha da bíblia e passei então a escrever preces e cantos à Natureza. Não demorou muito para que fossem publicadas em jornais da região e deram surgimento ao meu primeiro livro. Edição doada a uma entidade que cuida de crianças abandonadas. Como pensador livre, participei de várias Antologias e até preparei o segundo livro no mesmo tema, e o projeto parou. No final de 2000 voltei a Jundiaí, para fixar residência e em seguida a TV Educativa com o programa Jundiaí Especial, levou ao ar o meu trabalho.
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Tendo que lutar para sobreviver, mais uma vez abandonei o projeto. Em 2006 abri uma página no Orkut e criei uma comunidade de incentivo a escritores e poetas. Lá postei o material do livro, “Uma rosa...Um beija-flor” e que chamou a atenção do Poeta João José Braga que me convidou a participar do site Planeta Literatura. Foi um desafio, pois eu jamais tinha escrito nada que envolvesse a paixão, o amor carnal, tanto que fui apresentada aos poetas com o texto “A morte”. Os primeiros escritos saíram com o meu eu lírico masculino, assim nasceu Rosa Vermelha, que foi comparada por alguns com as rosas de Maiakóvski eu nem sabia de quem se tratava. Foi por intermédio do poeta Jairo Nunes Bezerra que o meu eu lírico feminino despontou e “Perdoa-me por te amar”, causou a ele muita emoção. Tenho ainda por hábito em usar a terceira pessoa, no caso, a dama de vermelho, comparada ao estilo Baudelaire. Também desconhecia o poeta. Nesses anos de Internet, procurei estudar sozinha, buscando informações, pesquisando. Foi quando encontrei o Luso-poemas e resolvi me cadastrar.
Confesso que tremi na base, e foi excelente, pois era um outro desafio. Eu teria que tentar ser melhor do que já fora. E sem sombras de dúvidas algo fez com que em um ano, minhas leituras chegassem à marca dos 140.000 acessos. Sei que sou criticada e aceito, sempre tive humildade para saber que existem poetas aos milhões e não agradamos a todos. Deixo claro aqui, que quando houve certos problemas na interação com outros poetas, não houve crítica aos meus escritos e sim um envolvimento meu na tentativa de deter uma discussão injusta. Muitos confundiram o acontecido. Também sei que acabei influenciando outras autoras a escrever em ritmo sensual e isso me faz feliz. Sou grata ao Luso pela oportunidade de expor meus escritos, Aliás é dos sites que frequento é o mais completo. Não sei se serei poeta um dia, sei que em alguns estados brasileiros, tais como: Bahia, Maranhão, Ceará onde tenho muitos leitores, já em São Paulo, sou desconhecida e em Jundiaí, começo a ser notada e observa-me a Academia de Letras, onde já passei na avaliação dos juízes e estou á espera de outras candidatas, para a decisão da cadeira, é somente uma vaga.
Creio que voei alto para uma autodidata e vou deixar para a minha neta, Lara, um exemplo de força de vontade e luta e é isso o que realmente me importa.
- A partir daqui vou expor o meu trabalho investigativo. Escarafunchei a tua vida em algumas particularidades, aliás bem íntimas. (mas te deixo a vontade para responder ou não, é claro).
Todos cometemos erros. Sente dificuldade em aceitar ou não correções?
Cometo erros ortográficos e de concordância, e agradeço sempre quando um poeta amigo me alerta. Sem o saber ele está-me ensinando. Não tenho dificuldades, aquilo que não sei o google me ensina, as pessoas me ensinam, vivo em eterno aprendizado.
- Quando menina, pobre, você enfrentou uma infância com muitas dificuldades, inclusive de moradia e outras mais. O que você fazia para ajudar na sobrevivência e na subsistência da família? Que lembranças têm das suas idas aos refugos das fundições próximas a sua casa?
Todas as manhãs, precisamente às 06:00 horas, íamos, eu e o Régis às hortas dos japoneses do bairro comprar verduras para revendê-las, muitas vezes, por causa da neblina densa, acabava tomando um banho gelado nas manhãs frias, pois não enxergava os reservatórios de água. A febre reumática apareceu cedo, mas ainda não se tinha a idéia da minha doença descoberta há 3 anos. espondilite anquilosante e talassemia.
- A resistência adquirida para suportar perdas, e a força para perseverar nas coisas que programou para ser e conquistar tem alguma coisa a ver com o contato com pó de ferro que enegrecia a tua pele? Isso te prejudicou em alguma coisa; a infância, o estudo, a saúde? Ou só foi mais um sacrifício, uma coisa do destino, e que não poderia deixar de existir naquele período da sua vida.
A fundição fazia fundos com meu quintal, era comum o pó e até labaredas que se espalhavam e se não tomasse cuidado, queimava as roupas do varal. Ela fechou, mas ficou na lembrança aqueles dias difíceis, de pobreza. Tempo em que o sarampo quase nos mata a todos, eu o Regis e a Marília em casa e minha mãe com a Márcia e a Gisele internadas. Além do sarampo tínhamos também a gripe margarida. E me lembro de ter que preparar o almoço para todos e depois pegar um ônibus para levar comida á minha Mãe no hospital. Creio que Deus nos ajudou muito.
- Quando você saia à rua com aquela sacola verde para vender verduras... O contato com o público foi um ensinamento? Ajudou você a aprender interagir, dotou-a dessa desenvoltura, refletida hoje? Sabe-se que; quando isso acontece muito cedo com uma criança, a visão dela para o que é mundo, se abre muito. Aconteceu isso com você?
Tornei-me vendedora logo cedo e comecei a conhecer o mundo real, onde uns tem mais e outros menos. Saíamos eu e o Régis a vender pelos bairros, tínhamos nossos clientes e quando terminávamos as vendas, parávamos num boteco para tomar um copo de groselha, era a nossa alegria. Estava com 11 anos e lembro-me de ter feito uma redação que se chamava “Os Verdureiros”, a professora mandou para meu pai ler, ele se emocionou muito. Tudo na vida é lição, sofremos para sermos melhores, para compreender a dor alheia, para ajudar o próximo.
- É verdade que antes dessa habilidade com a pena, suas mãos eram hábeis no lenhar?
Com treze anos consegui meu primeiro emprego, numa loja de armarinhos e daí para frente nunca parei. Trabalho até hoje. Sou Sign Maker, I’am a woman sign maker. Tenho uma pequena empresa e o respeito das multinacionais da região, pois conheço a produção de todas elas, é necessário para aplicar as normas de Segurança do Trabalho em relação à sinalização de áreas de maior e menor risco humano.
- Você fala dos seus pais e da sua família com carinho. Declarou noutro dia num comentário que é descamisada quanto a torcer por determinado time. Mas, fez alusão a Portuguesa de Desportos por causa de uma paixão enraizada que o seu pai traz por essa agremiação. Só que há um hiato a ser esclarecido. Por que então você gostava tanto de usar aquele short do Flamengo? Quase não tirava ele pra nada. (riso) Essa foi pra descontrair mesmo (riso).
É eu tinha poucas roupas, e o calção do Flamengo era motivo de risos, até meu pai fazia piadas. Nem tudo era ruim.
- Pelo que se sente na sua escrita, ela é romântica, solta, própria. Benedita Arruda e o GEVA, suas escolas, primária e ginasial. Elas foram incentivadoras no seu estudo, nessa sua vontade de escrever, ou foi em razão do relacionamento com a Janice, Lilo, Cristina Cubeiros, a Lucia e a Regina, seus amigos?
Você é um bom detetive, O Lilo já faleceu era como um irmão para mim. Morávamos todos na mesma rua e crescemos juntos. Como sempre gostei de música, a Cristina tinha uma vitrola portátil e colocava os discos (vinil) para ouvirmos, lembro-me de Credence esgoelando na calçada e nós dançando feito doidas. No Geva me tornei campeã dos 100 metros livres e dos 400 em bastão e fui competir nos jogos abertos do interior. Treinei muito na época, andava 15 km a pé para chegar ao estádio, treinar a manhã toda e voltar para ir às aulas. Fui muito observada pelo então Professor Hélio Máfia, treinador de clubes de futebol, mas como todo atleta brasileiro é mal acabado, precisei parar para trabalhar.
- Bom, daí, escrever. Escrever mesmo; começou quando, e por quê?
Na primeira crise de uveíte que durou 4 meses, cheguei a pensar que não mais enxergaria. Desenvolvi a percepção dos cegos, andar no escuro hoje é fácil para mim, na vida tudo se aprende. Foi daí que surgiram as primeiras preces, os primeiros escritos, como Pensador Livre.
- Que emoção te dá à escrita? As perdas de deram subsídios? Alguma vez usou a escrita para fugir dos seus ais?
Dá-me muita emoção, hoje quando encontro blogs e fotologs com textos meus, fico feliz por saber que a minha escrita atinge também ao público jovem. É certo que muito do que escrevo é real, mas também crio fantasias. eu me casei quatro vezes, imagina isso, e eu que pensava que casamento era para sempre, uma casinha, marido e filhos. O padrão normal de vida, aquilo que condiz com tudo que aprendemos desde pequenos. Só que o destino preparou-me armadilhas e quando digo que sou cigana não minto. Estou a 9 anos casada com Mário Ademar, que muito me incentiva a escrever.
- Essa vida vivida é uma lição, uma grande lição de vida. Fez-te o que é você hoje?
Penso que o melhor ainda está para ser escrito, não sei, esse pensamento me acompanha diariamente. Creio que todo escritor ou poeta pensa assim. É uma busca constante transformar palavras dar-lhes vida.
- Valeu à pena? O que é a sua vida hoje?
Sempre estive adiante do meu tempo, apesar de não saber explicar do porque meus escritos por vezes parecem ser de outro século. Não que eu procure palavras no dicionário, elas vem simplesmente e ás vezes nem sei o significado delas e leva apenas cinco minutos para escrever um texto. A maioria deles são feitos à noite, ou durante meu período de trabalho. Valeu, viveria tudo novamente.
- Tens algum tema ou autor específico no qual mergulha na sua escrita, ou deambulas simplesmente ao ritmo da alma?
NERUDA foi e sempre será o grande Mestre. Quando o li pela primeira vez encontrei algo de força, de luta, de desafio, houve identificação, não no estilo, no exemplo de vida. Gosto muito de diversos autores consagrados e procuro ler bastante sem me deixar influir com os estilos.
- “O poeta é um fingidor...", concordas com essa afirmação?
Sim, somos humanos passíveis de erros e acertos, podemos transmitir alegria num momento em que a vida pode não estar a lhe sorrir.
- Tânia Mara Camargo, a poetisa. És poetisa queira ou não, não consigo enxergá-la como não sendo. Porque que não, como costuma mencionar?
Comecei como pensador livre e assim me considero. Hoje tenho a obrigação de cuidar mais daquilo que escrevo, estou sendo observada pela Academia, aliás, já fui aprovada, espero outras candidatas para concorrer comigo, visto que existe apenas uma vaga disponível.
- Cite uma poesia sua, que te emociona ou agrada.
“A morte”, pois foi com ela que adentrei ao mundo da poesia e é o primeiro que escrevi e que é real, é uma luta minha com a senhora morte.
A MORTE
A morte bateu em minha porta.
Um dia cinzento, noite de amargura.
Um aroma enfadonho no ar.
Chamou-me com sua boca morta,
Voz fria , pálida criatura.
Certa de sua missão, estendeu-me
Suas mãos , adagas geladas .
Olhava-me com os olhos de trevas,
Levando-me as profundas.
Encerrar em uma lápide as minhas esperanças?
Deixe me despertar, não sou permanente,
Hei de ir, busca-me outro dia.
Mas não agora que a vida brota
Em meus poros como água salgada.
Deixa-me respirar o tempo que me restar,
vá embora, ainda não é chegada a hora.
Pois se assim fosse ,
não seria você
que num doce abraço por toda a eternidade
far-me-ia adormecer.
- Suas considerações finais. Luso-Poemas, críticas e sugestões se há, em sua opinião, o que mais urge melhorar?
O criador do Luso faz ou não faz ideia, não sei, do quanto eu evoluí, do quanto aprendi nessa interação diária com poetas portugueses. Sou infinitamente grata a todos que comigo convivem virtualmente, meus queridos amigos de escrita. o Luso é o único site onde faço comentários em razão da grande qualidade de escrita dos participantes. Há polêmicas, mas também aprendi que elas acabam por nos fazer refletir e buscar aprimoramento. É como se o site tivesse vida própria, o grande Criador e nós as criaturas tentando alcançar uma perfeição. Utopia? A verdade nua e crua é: O Luso-poemas reconheceu o meu trabalho, foram desde a minha entrada 300.000 acessos, não considero leituras, mas veja; clicaram 300.000 vezes sobre escritos meus.
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- Quem é teu Luso do mês de Junho.
O Fernando teve a brilhante idéia de prosseguir as homenagens aos escritores do site, dando-lhes um incentivo na carreira. Comigo já são três brasileiros. Já deveriam figurar: Betha, Edílson, Jairo... Enfim são muitos a serem homenageados. Dos irmãos lusos, temos: Vóny, Ana Coelho, São, Alentejana, Mim, Nitoviana, Jaber, Roque, Antonio Martins.... É grande a lista, mas o meu luso do mês é: CARLOS CARPINTEIRO
NOTA.: Por motivos pessoais, o poeta Carlos Carpinteiro não aceitou ser entrevistado. Portanto, outro foi indicado; o nosso também amigo e poeta, EDILSON JOSÈ
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