Nas àguas me vou deixando
NAS ÁGUAS ME VOU DEIXANDO
As águas correm a um rítmo lento
Em meu rosto regatos, lugares, momentos.
Nelas vivi meus dias ontem e hoje
Lembro e estremeço, já a vida foge.
À volta deste rio tudo flui
Lembrando o que hoje sou e o que ontem fui.
E na paisagem secular?!
Profundo o tempo, tempo singular.
Desço a encosta e agora me sento
Neste fluir, já tanto me esqueço
Meus esquecimentos, águas frias, onde arrefeço.
Correm no meu rosto águas profundas, rugas...
Onde o tempo se inscreve e está presente
E nada consente, daqui já não há fugas!
É isto que o meu coração sente.
Quem se atreve a duvidar do que sinto?
Das coisas tristes, sentidas, afectuosas que digo?
Só mesmo o tempo, mesmo sabendo que não minto.
O silêncio é a medida do tempo vivido
Nesta paisagem à volta do meu rio,
Tudo é melancólico e o tempo recolhido.
E eu já renuncio!
Surgem gotas de esquecimento,
Esqueço até de lembrar,e é tal o emaranhamento,
Que fico sem palavras e o futuro sem sentido.
Perdido lá adiante onde a luz é incolor
Já não domino, vou e afogo-me na dor.
Como confiar na corrente?
Onde havia água transparente?!
Agora me tolho de medo fico sem liberdade.
Me nega até a dignidade.
De súbito, um desejo em mim de acalmia...
Quem sabe?! Amanhã seja outro dia.
rosafogo
Hoje tive uma surpresa que me pôs a chorar de alegria, uma amiga poetiza e boa declamadora, me enviou uns poemas meus, por ela declamados. Já os
coloquei aqui em vídeo no perfil os amigos podem ouvir, eu acho que estão uma maravilha.
Memória dum tempo ído
MEMORIA DUM TEMPO ÍDO
Já choram de novo os beirais
Me embalo com o seu choro
A solidão pesa demais
Por um dia de sol imploro.
Cai a chuva como pranto
Desesperada no chão
Também o meu desencanto
Açoita o meu coração.
Já choram de novo os beirais
Lágrimas do céu em desespero
Cantam os pássaros seus ais
E eu à Vida que tanto quero.
Não levo pressa de chegar
Quem sabe numa madrugada molhada
Ou quando o tempo amainar
E a Vida p'ra mim fôr nada.
Já não choram mais os beirais
Se calam em descanso merecido
Já são memória nada mais
Memória dum tempo ído.
Agora sou eu quem chora
Porque já se encurta a Vida
Meus sonhos foram embora
Ando de sonhos despida.
rosafogo
*Escuridão*
Escondo-me na escuridão,
Que me envolve com os seus beijos,
Aliciando com a canção,
Que queima os ensejos,
E os desejos que torturam o meu coração!
Ainda tenho na pele o cheiro da queimada,
Que grita pelo gelo da solidão,
Amando num balanceio em cada alvorada,
As vigas desta paixão,
Com o sangue que me cai das mãos…
E giro, escutando o som fúnebre da invasão,
Inundo os olhos com as lágrimas,
Que entendem e consolam a emoção,
Pintando os seus vidros de escarlate,
Esboçando o que sobrou da vida com apreensão…
E não!
Não mudo o meu rumo,
Para exonerar esta absolvição!
Caiu ainda girando no sangue,
Que adaptei como o meu chão!
Ainda toca a música fúnebre,
Nos calabouços do meu coração,
Perdi todas as almas,
Que me invadiram em Vida,
Agora há somente a doce escuridão!
Marlene
Read more: http://ghostofpoetry.blogspot.com
Participação especial: http://nocaminhodasemocoes.blogspot.com/
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Imagem retirada do google.
SOU TUDO OU NADA
SOU TUDO OU NADA
Feita a Vida de pedaços
Agora falo de esperança, de saudade.
Da fé, do desalento, da ingenuidade.
Falo até da falta dos abraços!
Mais velha que o tempo, me sinto.
Às vezes sou tudo,
Outras vezes sou nada.
Sou assim e não mudo.
É o que sinto e não minto.
Sou aquilo que a Vida quiz
Agora me deixa abandonada.
É ela que sempre me diz:
«Tu, tu é que estás desmemoriada»
Não lembras os primeiros amores?
Nem das lágrimas que te sequei?
De te pôr sorrisos como flores!
Ah! E tudo quanto te ensinei?!
Tolerância, aceitação,
Lealdade...
Hoje?! Tens um coração!
Onde até cabe a saudade.
Desapontada, de responder incapaz
Lê-me nos olhos, que agora só quero
Paz!
Poder dizer que recordar
É o melhor que se possui
E no tempo de Amar!?
Que louca fui!
Agora já só posso partir
Levar comigo
O sonho na curva da estrada
E morrer
Numa tarde de chuviscos salpicada.
rosafogo
Ablação
coberturas de alameda
fogem agora em desespero
escorraçadas por vento altaneiro
descido adiabatica.mente dos picos
arrefecidos dos meus desejos.
fiz a poda
dos sonhos esgalhados
sem frutos
por deus!
essas árvores
enfileiradas
em ramas esmirradas!
sem corpo pra dar sombra
a andarilho sem rumo
que segue cabisbaixo
em fraco passo
sem prumo
Imagem: quadro de Van Gogh
Porque me olham?!
PORQUE ME OLHAM?!
Um pouco de tudo, um pouco de nada
Vou à frente, vou cansada.
Espero a vez...
Porque me olham? Ah sei... talvez!?
Porque nenhum de vós conhece a caminhada.
Cada dia é um milagre a acontecer
E o coração começa a apertar-se
Mas eu quero escrever, escrever...
Até sentir a morte a mim a chegar-se.
Vai longe o passo da partida
Aproxima-se o passo da chegada
Caminhei tão distraída!?
Que cheguei em menos de nada.
Trago comigo a dor da saudade
Mas enquanto escrevo sou imortal
Mesmo agora que já é tarde
Escrevo, escrevo e afasto o mal.
Escrevo, ignoro para quém
Escrevo palavras despretenciosas
Quem sabe não haja alguém!?
Que sinta nelas o odor das rosas.
Eu sei que vivo de ilusões
Mas trago ainda a coragem
Ao escrever, passam todas as aflições
E até esqueço que estou de passagem.
Esta escrita não me dá tréguas, tenho de escrever
Podeis até rir à vontade
Hei-de escrever até morrer
Depois? Depois podeis tudo rasgar!
Enquanto me der saudade
De tudo quanto amei e hei-de amar
Cantarei, até à loucura,
Tal é minha necessidade.
Desta doença sem cura.
rosafogo
Minhas penas
MINHAS PENAS
Tarde pesada e nevoenta
As árvores parecem flutuar no céu
Já o tempo que há-de vir?!
Curta estrada representa.
Já tudo é triste, tanto quanto eu.
Coaxam as rãs na ribeira
Entristecem as manhãs geadas
Fica a vida sem eira nem beira
Minhas esperanças viradas.
Pássaros se escondem no arvoredo
Mais um dia o mundo velho a ruir
Meu olhar triste se deixa quedo
Finjo não ver nem sentir.
Já é chegado o fim do dia
Não ouço mais das rãs o coaxar
Tomou conta de mim a nostalgia
Da vida, vem o tempo se apossar.
Das horas que lamentamos
Umas duram muito, ou então!?
Duram pouco mais que nada.
Dormem os pássaros nos ramos
Coaxam as rãs de aflição
Sigo ao peso da vida vergada.
rosafogo
natalia nuno-Lapas
Sou Mulher, Mãe e Avó, já plantei àrvores, semeei
flores, já tive sonhos, hoje orgulho-me de ter
nascido Mulher.
Suicida
Suicida
by Betha Mendonça
Na abóbada do inferno,
Não há vocábulos poéticos,
Dói no corpo frio eterno,
Há signos proféticos,
Invernos do Mal interno...
Eu escorro entre as paredes,
Como tinta desbotada,
Trago na boca sedes,
Da vida que me foi negada.
Jogam "areia" de gelo,
Nos meus olhos fechados,
E do cabelo ao tornozelo,
Eu pago os meus pecados.
Não se apiede de mim, rapaz!
Na vida não tive palmas,
Não ganhei louros da paz,
Sombra ao peito das almas:
Tive felicidade voraz e fugaz.
*Imagem tumblr
sonho fragmentado
minha alma coberta por trepadeiras
- pelo canto do olho
avisto-a magoada,
decidida a não desistir da reclusão
embriagada, perdida e desolada,
ouve os anseios do coração
e olha triste a noite e sua cor
tudo ao redor... é escuro
noite negra e feiticeira,
dormem as flores no jardim
e eu ouço as notícias do mundo
caminhando para o fim.
não posso banir da mente
imagens que fazem sofrer
a vida é sonho de pedra
onde tendo tudo é nada ter.
hoje tenho súbito desejo
de agarrar uma estrela no além
correr p'la encosta vertiginosa
dissimulando que tudo vai bem,
mais um passo na lonjura
mais um instante a não perder,
e esta vontade voluntariosa
de sonhar até a vida esquecer.
natalia nuno
rosafogo
MARÉS
MARÉS
Desenho figuras na areia com os pés
Alcanço o fundo da solidão
Vou deixar o destino traçar as marés
E os sonhos deslizarem p'los dedos da mão
Do céu, nada vem, nada cai!
Efémero capricho é esta Vida!
Afogo as minhas angústias, a alegria se vai
Mas que desacerto este, me sinto perdida!
Perderam-se as figuras, o mar as levou,
A cada respiração, a cada arfar do peito
Ouço o bater quase surdo do coração que o tempo parou
E é neste meu viver, sem jeito,
Onde o tempo e os sonhos, são areia em crivo
Que, ergo a muralha, à maré em que vivo.
A onda, vem e vai, meu pensamento leva e tráz
Tão suave e intenso, fica meu sossego!
Que, a esperança corre, num silêncio de paz,
E volta de novo à vida, a força e o apego.
Tento levar avante, meu caminho até ao fim!
Com os pés na areia, traço novas figuras,
A maré as levará, e a mim?
Me deixará a sós? Com minhas amarguras?
rosafogo
Este poema foi o primeiro que postei no site
já lá vai um ano e pouco, hoje reeditado, para os amigos que ainda não leram.