Nasce o ser humano sem nome
com os olhos cheios de mundo
antes mesmo de entender a luz
Tudo é vasto, tudo é possível
o vento na pele parece uma linguagem
escrita como versos, no sentir
A inocência não é ignorância
é confiança no colo que embala
na palavra que não se entende mas acolhe
na promessa do dia seguinte
Mas aos poucos as perguntas brotam
e os porquês sopram como o vento
Porque é que o tempo corre?
Porque há silêncio onde antes havia voz?
Porque é que o céu muda sem nos pedir licença?
Crescer é duvidar
e duvidar é uma forma de amar mais fundo
Questionar o sentido das coisas
é tentar tocá-las por dentro
esventrar suas origens
Há dias em que a dúvida pesa como pedra
e outros em que ela flutua como uma folha na água
curiosa, leve, sem pressa de resposta
E talvez a beleza do ser humano esteja nisso
entre um gesto puro e um pensamento turvo
que segue o seu caminho, errando
sempre à procura de algo
que nem sabe nomear.
Mário Margaride
Adoro a poesia. E tal como um pássaro, voo nas asas das palavras, no patamar do meu sentir, e das minhas emoções.