Sempre é um caminho sem pegadas,
Onde o chão parece novo, mas já foi pisado
Por sombras que não lembramos.
É uma estrada de vento,
Com viajantes que passam calados,
Cada um levando nos olhos
Um mapa que não mostra saída.
Nas margens, só o sussurro das dúvidas,
Penduradas como névoa nas árvores secas.
O tempo ali não caminha — ele paira,
Feito poeira que hesita entre cair ou voar.
Sempre é ausência de chegada,
É promessa que se desmancha no horizonte.
E ainda assim, seguimos.
Porque há silêncio demais para voltar.
Por aqui, tudo parece cair aos poucos,
Feito folha seca que não encontra mais outono,
Feito casa velha que range mais do que abriga.
As cores perderam o nome,
Os ventos já não contam histórias,
E até o silêncio soa cansado.
As paredes têm ouvidos,
Mas já desistiram de escutar.
O tempo se arrasta como quem não quer chegar,
E os passos, que antes sabiam para onde ir,
Agora apenas rondam os mesmos vazios.
Há uma beleza estranha na decadência,
Um tipo de verdade que só floresce na ruína.
Talvez seja aqui,
Neste fim de tudo,
Que algo, ainda que pequeno,
Possa começar a nascer.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense