Quando o mundo se dobra em silêncio
E as janelas já não refletem nada,
Meus pensamentos saem descalços,
Tateando o escuro à tua procura.
A cama é vasta demais sem teu corpo,
E o lençol, por mais macio,
Não imita teu toque.
Só o frio conhece a ausência que você deixa.
Fecho os olhos não para dormir,
Mas para te ver melhor.
Ali, onde a realidade cede ao delírio,
É onde tua boca ainda me chama,
Onde tua pele ainda me reconhece.
Toda madrugada me devora em segredo.
O relógio não conta horas,
Conta suspiros.
E cada minuto sem você
É um fio de sombra que me enlaça.
Eu te invento nos meus braços,
Crio teu cheiro entre os travesseiros,
Te esculpo em pensamentos urgentes
Como se o desejo pudesse
Moldar a carne do impossível.
Teu nome é um eco que não cessa,
Um feitiço que me prende
Entre o sonho e a falta.
Às vezes sussurro baixinho,
Esperando que, em algum lugar,
Você ouça.
É à noite que você mais existe.
Quando tudo dorme,
Menos esse desejo.
Essa sede que só você sacia,
Mesmo estando ausente.
Porque no fundo, amor,
Não é o sono que me visita, é você.
E quando me tocas em pensamento,
Acordo ainda mais desperto,
Ardendo de silêncio e desejo.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense