Dormem de olhos abertos, mas não veem.
O mundo queima em silêncio e eles caminham
Como quem atravessa um campo em flor,
Sem saber que pisa ossos.
Há os que fecham os olhos não por medo,
Mas por cansaço.
Cegaram-se de tanto ver,
E agora vivem de costas para o horizonte,
Cultivando sombras em vez de jardins.
Fecharam os olhos ao real
E pintaram janelas no escuro.
Chamam isso de paz,
Mas é apenas um pacto com a ilusão.
Alguns não veem o mundo
Porque o mundo os feriu primeiro.
Cobriram os olhos com véus de indiferença,
E chamaram isso de sobrevivência.
Olhos fechados, ouvidos mudos,
Almas adormecidas em plena luz.
São como estátuas à beira do abismo:
Belas, imóveis, prestes a cair.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense