Cáceres desperta devagar,
Como quem sonha ainda de olhos abertos.
Suas ruas são murmúrios do tempo,
E o rio Paraguai — espelho antigo,
Carrega segredos em suas águas largas.
Na beira do majestoso Rio Paraguai,
A cidade respira um calor de infância,
Com alguns quintais, ainda,
Cheios de cajus e silêncios,
Onde o vento conta histórias
De barcos, de santos e de assombrações.
Cáceres tem um jeito de olhar para gente
Como quem já sabe o que escondemos.
Entre igrejas de pedra e árvores centenárias,
Ela escuta — paciente,
O que nem dizemos em voz alta.
Ali, o pôr do sol é uma cerimônia.
Pintura viva sobre águas calmas,
Onde garças pousam como se fossem canções.
A cidade toda vira oração,
Feito um salmo entoado em silêncio.
É preciso andar devagar em Cáceres,
Pois o tempo se dobra em suas esquinas.
E quem corre, perde a chance
De ouvir o canto dos tuiuius,
O deslizar suave dos jacarés
Ou ver o rio sorrindo à lua.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense