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Por males nunca dantes navegados...

 
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caiu da escápula
(des)fez-se em mar
já a tempestade o cobiçava
e atirou-se-lhe de tufões à proa
mas bolinar
era coisa de marujos
e esses nascem na praia
estendeu braços
concavou as mãos
mas as margens não tinham olhos
olhou o céu
pelas gaivotas
mas não viam sustento
na mesa de um abismo turvo
acariciou os golfinhos
mas eram peregrinos de brincadeira
a jogar ao toco e fujo
no último instante
olhou sem ver
até agarrar uma garrafa mensageira
roubou-lhe o papel
fez-se de asas
sem penas
agarrou-se ao ar
e prometeu-se ao horizonte
no fundo não se encalha
nem nas margens se afunda
quando se voa


14-08-2025


 
Autor
AlexandreCosta
 
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Enviado por Tópico
morrisey2025
Publicado: 14/08/2025 23:51  Atualizado: 14/08/2025 23:51
Muito Participativo
Usuário desde: 19/07/2025
Localidade:
Mensagens: 81
 Re: Por males nunca dantes navegados...
Poema maritomo e com cheirinho a Camões
Gostei

Enviado por Tópico
Alemtagus
Publicado: 15/08/2025 09:31  Atualizado: 15/08/2025 09:32
Moderador
Usuário desde: 24/12/2006
Localidade: Montemor-o-Novo
Mensagens: 3841
 Re: Por males nunca dantes navegados... p/ AlexandreCosta
Foi isto que li.

Um velho de cabelo grisalho, alvas e longas barbas a imitar ondas de mar que sussurravam ao vento. Nos búzios ouvia encantos e o mundo inteiro que adormecera, já antes, no chão do mar, daquele e de outros que se abraçavam num amor quase de gente. O desejo de ser esse mar e correr a terra desde aqui ao sol-posto, de ida e volta e depois retornar aos abraços entre oceanos, confundiam-se com os olhares indiscretos das estrelas, as tais que se escondiam umas atrás de outras e bocejavam risos atrevidos enquanto apontavam com um ligeiro raio de luz os homens que se davam ao vento. As gaivotas eram um quadro decorativo, mas essencial à existência do pintor de palavras que as olhava com a intenção de lhes definir um rumo e um propósito... estranha coisa esta de escrever sem direcção e saber que os olhos que lambem as letras também lá entram e se fazem parte da história.
É cómodo pensar que tudo isto é só nosso e que o dia de amanhã nos convida a irmos sós, porém o tempo, o vento, o mar e as letras, invadem-nos e partilham-nos por aí, sabe-se lá por onde, no intuito de sermos um pedaço uns dos outros, mesmo que não queiramos. Este poder apodera-se das nossas mãos e faz-nos dono de um mundo, depois de outro e de outro. De infindáveis olhares. De imensos mares.


Enviado por Tópico
KaiiqueNascimentto
Publicado: 15/08/2025 23:21  Atualizado: 15/08/2025 23:21
Da casa!
Usuário desde: 23/09/2014
Localidade: Francisco Morato - SP
Mensagens: 420
 Re: Por males nunca dantes navegados...
Alexandre Boa Noite!
teu poema é mar aberto.
Senti a queda, o vento e o peso da água.
Esse voo que nasce no fim é o que mais toca —
porque só quem quase afunda entende a força de voar.

Abraços,
Kaique Nascimento.