Estar só
Até o limite do silêncio
É como atravessar uma noite sem estrelas
E, de repente,
Descobrir que os olhos brilham por dentro.
Na ausência de vozes,
Surge a tua própria.
Na falta de abraços,
O corpo se recolhe e se reconhece.
Na solidão mais funda,
O espelho não é vidro, mas carne:
És tu diante de ti mesmo.
É um deserto onde se pensa perdido,
Mas que guarda um oásis escondido na alma.
É a queda sem rede que revela asas.
É o instante em que a solidão
Deixa de ser ausência e torna-se revelação:
Só quando se está sozinho até a raiz
É possível encontrar quem realmente se é.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense